quinta-feira, 29 de março de 2018

Pena

Em cada olhar perdido desperdiçado contra o vazio
Há uma chama que se extingue, assim aumentando o frio
Em cada palavra tola disparada contra o vento
Há um pouco de calor, mas nenhum sentimento

Em cada abraço frio dado apenas por comiseração
Há um pouco de culpa que não é compensada pela compaixão
Em cada beijo insípido há um sabor de fracasso
Não há saliva ou sangue que possam reatar o laço

Em cada segundo perdido há um átimo de medo
Mas um segundo pode bastar, se a coragem não for um arremedo
Minutos demais foram gastos, todos pela auto-piedade
E nenhum valeu a pena, a verdade ainda arde

Foram horas desperdiçando olhares contra o vazio
E é uma pena que eu ainda sinta todo esse frio
Mas os dias passarão, mesmo contra a minha vontade
Já não me arrependo, apenas aceito a verdade

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Quase Uma Lástima

É quase um crime que minha poesia dependa de ti
Mas tu não dependas dos meus versos
É tu quem inspira minha mente tão prosaica
E estes pensamentos são todos tão perversos

É quase um crime que eu queira tanto tua presença
Próximo de inexistir quando tu não estás
Já não há mais nada de belo em tua ausência
Resta um grande vazio, e bem pouco mais

É quase uma lástima que tenhamos tido tanto azar
Mas quem diria que tanto azar acabaria em tanta sorte?
Já estive sem nenhum rumo e bastante perdido
Mas em ti eu finalmente encontrei um norte

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Ininterrupto

Mesmo calado, é ininterrupto
Um sentimento tão divino quanto corrupto
Um pelo outro, o que nós temos é sorte
Ficaram as cicatrizes, não há mais cortes

Não resta mais dúvida
Todo o espaço foi ocupado pela certeza
A segurança do que agora é uno
E todo o peso que se torna leveza

E quando perto um do outro
O que sobra senão o silêncio?
Se eu sei o que você quer
E você já sabe o que eu penso

Nos falta menos do que quase nada
E eu me sinto mais do que jamais fui
Cada beijo e cada abraço são eternos
E em cada um deles, o que nós somos flui

terça-feira, 9 de maio de 2017

Enchente

Não que eu fosse incompleto até tua chegada
Mas hoje tua ausência me torna menos
Me diminui o calor e aumenta o vazio
Sou insuficiente nos meus próprios termos

Não é apenas tua falta que é sentida
Mas tua mera presença preenche
O que sem ti era apenas um córrego
Contigo se torna uma enchente

Há mais silêncio quando não há tua voz calada
E mesmo quando fria, me aquece tua chegada
Me preenche de mim mesmo, e eu me torno mais
Não sinto em tua falta, mas tua presença me dá paz

sábado, 4 de março de 2017

Casca

Um corte em cada pulso
Apenas a quantidade certa de sofrimento
Uma lágrima derrubada por cada olho
É o suficiente de lamentos
As quedas ainda são frequentes
Mas cair significa se levantar
E quanto mais eu respiro sofregamente
Menos parece haver ar

Sinto meus pulmões queimarem
E cada passo meu é vacilante
O gosto amargo persiste na boca
Mais forte a cada instante
Meus olhos estão trêmulos
Eu sequer consigo sustentar um olhar
O espelho me encara com vergonha
E eu não tenho como discordar

O que mais sobrou além de sobras?
O que restou além de restos?
O presente é algo amorfo
E o passado são apenas gestos

Ainda há restos de mim mesmo?
Sobrou algo além da casca?
Não sinto mais nada de minhas feições
Não me sinto mais do que uma máscara

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Hoje É Muito Cedo

Conte-me, eu quero ouvir apenas mais uma das suas histórias
Eu sei que você já contou muitas, mas ainda não me cansei
Fique mais um pouco, é cedo demais para ir embora
Hoje ainda é muito cedo, e amanhã é tarde demais, eu sei

Fique mais um pouco, apenas mais um café
Eu ainda não sei o suficiente sobre quem você é
Eu sei que você não bebe, mas fique para a saideira
Ainda é muito cedo, e recém é sexta-feira

Ainda não aceito sua partida, mas entendo, você tem que ir
Sua presença me mostrou que o mundo pode ser um lugar melhor
Mas obrigado por ter vindo, feito parte disso tudo aqui
Espero ainda te rever em outro lugar pra te conhecer ainda melhor