terça-feira, 31 de julho de 2012

Um Pouco de Paz

Eram três da manhã e ele se perguntava por que diabos ainda estava encarando aquele par de olhos vermelhos e cansados pela insônia. De repente o demônio do outro lado do espelho fez acender uma pergunta na sua mente. “Pelo que você venderia sua alma?”. A parte mais assustadora? Ele não sabia. Começou a refletir sobre isso, ignorando completamente o fato de ter que levantar dali a menos de quatro horas para ir para aquela maldita aula que ele nem sabia por que estava indo.

Olhou para aquele espelho rachado pela última vez e lembrou-se do momento em que a rachadura havia sido causada. Um acesso de fúria, uma namorada sem coragem para terminar cara a cara do outro lado da linha, um telefone celular sendo atirado involuntariamente contra a parede, um soco no espelho e um grito. Até hoje não tinha descoberto se o grito havia sido pela dor da mão cortada com um único e pequeno caco que se desprendeu ou pela burrice de ter jogado longe o aparelho novo. No final das contas aquela talvez fosse uma memória boa, pois foi naquela hora que ele percebeu o quanto não se importava com aquela pessoa sem coragem e o quanto ela não faria falta (talvez “alguém” fizesse, mas não ela). Apagou a luz do banheiro e foi se deitar para tentar ao menos alguns minutos de sono.

Obviamente não conseguiu dormir. Aquele pequeno demônio do espelho saiu junto dele do banheiro e se alojou no seu ombro esquerdo. Deitou-se de barriga pra cima (afinal não queria machucar o pequenino em seu ombro) encarando o escuro e decidiu tentar descobrir. “Pelo que eu venderia a minha alma?”

“Um amor talvez?”. Não, definitivamente não. Já havia passado pela sua fase sentimental com um bom número de cicatrizes e aprendizados para correr atrás de mais problemas, principalmente se tivesse que comprometer sua alma no processo. Se tivesse que dar com a cara no muro outra vez, preferia ter sua alma, mesmo que não estivesse intacta, pra poder seguir o caminho.

“Uma pilha enorme de dinheiro?”. Menos ainda. Não era tão ligado assim em bens materiais, estava mais preocupado em se divertir, independente do que isso significasse pra ele. Fosse passar uma noite de sábado lendo e vendo filmes ou numa festa, dinheiro não era uma preocupação, apenas o suficiente era suficiente.

“Poder e fama?!”. Sempre se perguntou o que significava isso que tanta gente falava sobre os tais “poder e fama”. Soava tão tolo e pequeno quanto desnecessário. Meia dúzia de amigos era toda fama que ele queria e o poder de abrir uma garrafa de vinho com eles idem.

“Já sei... um pouco de sono. Nesse momento minha alma por um pouco de sono seria um bom negócio”. E precisamente nesse momento tocou o despertador. Ele olhou com o canto dos olhos para aquela luzinha piscando em seu celular, amaldiçoou a hora e desligou a “soneca”, afinal já estava acordado. Só então se lembrou. “Hoje é sábado!”. Se virou, apoiado em cima do ombro e ignorando aquela pobre criatura que havia sido esmagada com o movimento, pensou “Não é hoje que vou precisar vender minha alma por um pouco de sono” e então adormeceu. Não chegou a perceber, mas teria sido capaz de vender sua alma apenas por um pouco de paz.

sábado, 28 de julho de 2012

Mulher

Olhou para fora e viu o céu alaranjado, a luz que entrava pela enorme janela de vidro tomava conta do quarto que já fora escuro. O abajur branco agora estava colorido e parecia anunciar o movimento temporal do mundo lá fora. Dentro do quarto perdera-se das luzes e a noção do tempo.
Fitou o sol na tentativa de saber se era dia ou noite, tentando criar empatia pela ideia de voltar ao mundo real. Pensou nos pontos cardeais e soube que não sabia onde ficava leste e nem oeste. Riu da própria incapacidade que julgara impossível. De repente deu-se conta do riso, o primeiro depois de acordar. Quis levantar, mas algo a prendia na cama.
Aquela sensação a consumia. Fechou os olhos e conseguiu localizar cada pedaço do seu corpo, como um escoteiro que se localiza pelas estrelas do céu e quase podia tocá-lo. Sentia o cheiro do perfume que hvia marcado seu corpo para sempre. Parecia ter ouvido um som, e a sensação a fez contorcer-se. Em seus olhos se passavam as imagens dos antigos dias alaranjados, os mais diferentes locais, uma coleção de suspiros.
Revolveu um corpo seminu na cama. A camisa longa e cinza lhe parecia um vestido amassado e descuidadamente curto, onde lhe apareciam as pernas grossas e lisas, com algumas marcas de infância lhe desenhando o corpo a mostra, ocultando o quadril, a cintura e o ombro, onde havia um desenho pequeno, sinuoso, quase convidativo, do lado esquerdo. Mais abaixo, suas pernas revelavam um enorme sinal que era sua marca registrada. O corpo percorria a cama, cheio de vida, em movimentos delicados, misteriosos. Antes que se desse conta, sua cabeça ficava cada vez mais cheia de pensamentos reprimíveis e desejáveis, e ela fez força para expulsá-los, apesar de parecer inevitável diante daquela tal lembrança. Quis encontrar o homem, sair e buscá-lo pela rua, mas as fotos nos quarto lhe mostravam os mais diversos motivos para não sair de lá.
E continuava a revirar-se, o pensamento reprimindo, os olhos observando a metade da cama engomada que sinalizava a solidão. De repente soube que não precisaria mais reprimir o desejo, a luz laranja invadindo o quarto, ocupando o espaço do amante, fazendo-a fechar os olhos escuros na cama meio quente, meio feita, e que assim continuou como se esperasse o corpo para ocupar o espaço e desarrumá-lo, como a luz laranja não é capaz de fazer e como devia acontecer com todas as camas. Chovia, e não se sabia se anoitecia ou amanhecia, mas o som da chuva convidava seu corpo quente a permanecer onde estava. O som gelado, os pés nus e o corpo a mostra dentro da camisa que não tinha pretensão alguma de vesti-la. Quis novamente levantar-e, repousou os pés no chão gelado, e o frio imediatamente congelou suas veias, ela tirando uma camisa amassada e correndo em passos curtos em direção ao banho, guardando um gesto mecânico para a torneira e se afogando na água gelada, os cabelos ensaiando uma vida quase incômoda, os pêlos ouriçados pelo frio. Desejou que qualquer um entrasse pela porta para ensaiar um recomeço, a pele enrugando e o frio aumentando, os olhos irritados com o sabonete, limpando os pensamentos desejáveis.
Tremeu, enrolou-se numa toalha macia e voltou para seu abajur ao lado da cama meio desfeita, o vulto negro tomando conta do quarto e preenchendo os espaços vazios, como toda sombra diante de um céu de qualquer cor quente e indefinida. E o quarto parecia ainda mais vazio, não importava o que lhe preenchesse. A chuva continuava, o corpo novamente na cama, a toalha jogada em cima do carpete novo e limpo, esquecendo o corpo espalhado, conservando a parte feita, e aquilo a matava. A cama já molhada pela água, o travesseiro encharcado, as lagrimas percorrendo o corpo a mostra, delineando a silhueta, ardendo e queimando, farto de curvas e de dores, procurando um recomeço.
Olhou para o teto, deitou-se em posição de morte, procurando a vida que já teve antes. Não lhe importava o antigo amante ou qualquer outro que já tivesse tido, não lhe importava o poder que exercia sobre eles ou nada daquilo. Por um momento era apenas um corpo: nu, laranja com o sol, molhado pela água salgada. Um coração inacessível. Ouviu novamente tudo que já havia dito a si mesma sobre a situação, repetiu mentalmente o recomeço, explicou para ela mesma todo o medo da dor, do passado e do futuro. Entendeu, naquele momento, que todos aqueles dias que passou pensando nas opções que tinha de seguir com a própria vida não lhe serviram de nada; muito pouco era o que ela conseguia controlar. Teve medo. Não de recomeçar e errar novamente, mas de não ter novos motivos para cometer novos erros. Teve medo de não acertar de novo, e se perguntou quantas vezes mais ela cairia e se reergueria. Mas pensou também que o futuro a esperava, e aquela garoa safada que zombava dela e duvidava da sua capacidade de levantar da cama a deixou mais ansiosa. Impaciente, jogando o corpo agora nu de um lado a outro, o coração palpitando dentro do peito, os seios movendo-se sutilmente com as batidas.
Com a cama meio desfeita e uma cor laranja entrando pela janela do quarto, sem ter ideia se era dia ou noite, muito menos em que dia da semana estava, pousou-lhe como uma folha seca a certeza de que o futuro não criaria asas e bateria na porta do quarto, então levantou-se, entrou num vestido qualquer e encaixou os pés em um sapato colocado cuidadosamente ao lado da cama; jogou o cabelo curto para o lado e saiu, a chuva marcando o corpo, o frio embaçando a vista. Era o pior lugar possível, mas ela estava pronta para o homem que, de uma forma ou de outra, estava com ela há tempos, e por mais que já tivesse saído para encontrá-lo tantas vezes, nenhum encontro jamais seria como aquele. Tinha um novo encontro com o recomeço.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Momento de Fraqueza

E quando a mão que abre o corte
É a mesma que lhe segura quando você cai?
Amor com amor se paga
E amor com amor se trai


E se o olhar que encerra o julgamento
For o mesmo que lhe mostra bondade?
Aceitação retribuída com indiferença
E mentira retribuída com honestidade

A voz que faz juras de amor
Pode ser a mesma que amaldiçoa
A chibatada pode ser dada pela mão
Que retira os espinhos da coroa

O beijo pode partir da mesma boca
Que cospe o veneno em sua veia
Você faz as fundações em pedra
Mas ela constrói um castelo de areia

Você pode tentar acreditar
Mas não há nunca como ter certeza
A eternidade é apenas uma promessa
Dita num momento de fraqueza

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ilusão

Me dê apenas o que eu peço, e eu não peço pra existir
Eu sou apenas uma ilusão que não está aqui
Eu sou a voz na sua cabeça
Que te ouve quando fala sozinho
Eu sou quem não deixa que você se esqueça
Eu sou o sangue no seu vinho

O crime que você não comete quando se torna outro alguém
Serei a mão delicada que tocará seu réquiem
Roubarei sua respiração
Junto de algumas lágrimas amargas
Serei parte de cada sonho em vão
Em cada lembrança vaga

O tiro no escuro e cada ação sem sentido
O corte nos pulsos e o olhar combalido
Cada noite em claro guiada por pensamentos
A falta de paz em cada momento
Os olhos vermelhos e as pálpebras rachadas
Quando a insônia e a insensatez viram aliadas
Eu talvez não exista, mas você me pertence
Eu sou você quando você está ausente


Me dê o que eu quero e eu talvez deixe de existir
Você já se entregou tantas vezes e eu ainda não morri
Eu sou o que você acredita
Mas talvez seja apenas ilusão
Seja meu novamente e não resista
Sou uma passageira maldição

Os olhos vermelhos e as pálpebras rachadas
Quando a insônia e a insensatez viram aliadas
Eu talvez não exista, mas você me pertence
Eu sou você quando você está ausente
Um crime sem vítimas e sem culpado
Nos tornamos apenas um sem você ter notado
A boca seca e a língua muda
Um olhar incriminador e ausência de culpa
E não há mais nada que você possa fazer
Então tente ao menos sobreviver

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Chovia.

Ela na sala meio escurecida, sentada na poltrona, olhando para os lados, sem acreditar muito no que havia acontecido. As fotos ainda estavam espalhadas por todos os lados, as fotos deles abraçados, sorrindo, felizes como o bom casal que eram. Olhar praquilo a fazia perder todas as forças, e ela ia enfraquecendo. Aquela sensação a consumia, parecia preenchê-la por completo, a lembrança de tudo que havia dito e de tudo que lhe escapou no momento. Lembrou-se do quanto se sentiu atingida, colocando no lugar todos os pensamentos soltos, enquadrar cada sentimento no seu lugar, cada gesto encaixotado. Parecia interminável, parecia impossível. Ele era impossível, e a tirava cada vez mais do sério enquanto ele ria, o cheiro do descontrole chegando às narinas. Ele sabendo o que ela tentava fazer, tendo certeza do insucesso e soltando risinhos discretos, a boca mexendo-se o mínimo possível e o som da voz grossa saindo do sorriso. Ela ficava linda naquele papel de incerteza.

Ela o odiou pela sua pretensão. Parado à sua frente como um monge, rindo como se fosse superior, sempre odiou isso, mas se odiava mais ainda por não conseguir sentir a raiva que aparentava sentir, apenas a lamentação de algo que acabava cedo demais. Algo que, segundo sua mãe, nem deveria ter começado. Continuava tentando racionalizar seus motivos. “colocar as coisas no lugar”, era como ela chamava. Ele mudara tanto desde quando se conheceram que mal podia reconhecê-lo. Apesar de todo o resto, ele ainda tinha aquele sorriso de ventríloquo, meio sarcástico e meio divertido, que se desintegrava quando ela o olhava daquela maneira.
Ela guardava aquele olhar para aquele sorriso, que por sua vez ele reservava para os momentos em que não sabia se estava certo ou errado, se escondendo atrás da própria cara de monge, e o homem atrás do rosto tinha a certeza de que aquilo acabaria bem, esse era o significado do sorriso. Dessa vez não sabia se terminaria bem, não sabia sequer se terminaria. A chuva desabando do lado de fora, ele com medo de ir embora, e seu sorriso deteriorou-se antes do olhar ameaçador dela, que, segundo ele parecia mais um “você não entende mesmo”.
Ela não parava de falar, ele ora ouvindo, ora desejando-a, ouviu uma palavra qualquer que o fez explodir como uma faísca perto da pólvora, e desatinou a falar. Por algum motivo, a paz entre o casal parecia existir naquele momento, onde os dois estavam sintonizados na mesma estação, ele sem a pretensão no rosto, ela sem o monopólio do descontrole. Disseram todas as palavras que existiam, se magoaram, e o arrependimento estava presente na sala. Apesar dos dois terem sentido isso, ambos sabiam que cada palavra dita era verdade, e se tudo era realmente assim, um deles deveria fazer a gentileza de acabar de uma vez. Um esperava pelo outro, e o silêncio instaurou-se.
Dentro do vestido florido, colocado para ser tirado, na esperança dele entender de uma vez, ela viu no sorriso dele que seria diferente. Ele mudara, ela mudara. Ela queria dizer isso, mas nunca era simples dizer algo assim, não pela frase, mas pelo que vem depois. Os dois se deram conta de que ela se escondia atrás da racionalização, do ódio por ele ter mudado, e da raiva de não conseguir parar de querer que tudo aquilo acabasse e terminasse pela manhã enquanto ele tentava fazer pouco dos alertas anteriores de que o desgaste da relação batia à porta deles. A relação estava finalmente com os minutos contados, o silêncio insuportável, a chuva piorando, o som da água no telhado parecendo um blues melancólico de fim de relacionamento. Diante de todos aqueles insights-malditos-destruidores-de-lares eles ficavam indefesos, não se pode competir com a clareza de certos momentos.

Ele, deitado no sofá, ensopado, escondendo as lágrimas com a água da chuva, se perguntando se era mesmo tudo aquilo, como podia ser tudo aquilo, porque havia sido assim. Talvez tenha tido medo, talvez tenha sido arrogante, talvez seja só uma das coisas que acontecem na vida da gente, como se isso explicasse ou justificasse qualquer coisa, e essa era uma das coisas que se dizia para deixar aquilo de lado, mas não funcionava mais. Só conseguia pensar em como ela estria naquele momento, as mãozinhas delicadas sujas de tinta dentro do quarto inacabado, colorido e meio desenhado, molhando a tinta com as lágrimas, amaldiçoando-o e se arrependendo dele para sempre. Diante da possibilidade ele sentiu um desejo impossível de abraçá-la, consolá-la, chamar-se de canalha só pra ela sorrir aquele risinho bobo de novo, quando notou que jamais veria seu sorriso bobo outra vez.

domingo, 22 de julho de 2012

Veneno

Os versos foram escritos na areia
Mas a história ainda permeia
Sentimentos gravados em rocha
Sucumbiram como a flor que não desabrocha

Se existe algo que possa durar
Que ao menos seja a vida
A dor em troca de um momento
Sorva o veneno, beba o sangue da ferida


Escrita em linhas mal traçadas
A história está errada
O que foi visto, não foi entendido
Não foi o que deveria ter sido

Se há algo que deva durar
Que dure mais que o veneno
Tomar uma dose maior
Tornará seu espírito pleno


Não houve volta, nem cura para a doença
Nem culpa, nem incoência na sentença
Feriu e fechou-se, como manda a ordem natural
Mas ainda há cicatriz, para o bem ou para o mal

Se existe algo que possa durar
Que ao menos seja a vida
A dor em troca de um momento
Sorva o veneno, beba o sangue da ferida

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Algum Sentido

Ela só queria chegar em casa, tomar um banho e se enfiar embaixo das cobertas. Havia sido um dia cheio no trabalho, muito que fazer, muitas ligações para atender, muitas pessoas para falar... Mas nem mesmo tudo isso conseguia distrair sua cabeça. Não, não havia absolutamente nada errado, mas tampouco havia algo certo.

Enquanto esperava o sinal abrir com a mão na direção, olhou para seu pulso e viu aquela pequena marca vergonhosa, aquele lembrete constante do ato de covardia. Quanto tempo fazia? Um mês? Meio ano? Ela já havia desistido de contar há mais tempo do que conseguia lembrar, mas não conseguia esquecer da fraqueza que aquela cicatriz significava.

Quando finalmente chegou à casa bagunçada (afinal havia tempo para arrumá-la quanto havia para arrumar seus pensamentos) já havia quase desistido de ir para o banho, mas sabia que, se decidisse se deitar agora, perderia mais tempo pensando que dormindo, talvez a noite inteira. Abriu o armário para guardar algumas coisas, mas infelizmente a gravidade não estava do seu lado e ela esbarrou em uma memória. Em uma caixa delas, mais especificamente. Aquela caixa velha com todas as fotos, todos os bilhetes, todas as poesias, todos tudo.

Por algum motivo, que ela nunca entendeu direito, decidiu abrir a tal caixa. A primeira coisa que viu foi um bilhete com alguns versos e, antes mesmo de ler a primeira linha inteira, já o tinha rasgado ao meio. Quando percebeu, todas as cartas já haviam recebido o mesmo destino. Pensou que talvez fosse tão fácil assim com as fotos também, mas estava enganada. Olhou-as uma por uma, tentando encontrar algum motivo para mantê-las ali dentro do guarda-roupa. Não encontrou nenhum motivo para guardá-las, mas, pior que isso, também não achou nenhum motivo para destruí-las, e era isso que feria mais.

Apesar de não ter encontrado nem um motivo sequer, acabou encontrando várias coisas que já haviam sido varridas de sua cabeça, muitas delas voluntariamente, e então se lembrou de por que havia escolhido esquecê-las. Elas ainda doíam, e mesmo que muito pouco, dor era a última coisa para qual ela estava preparada no momento. De repente a última de todas as memórias acabou vindo, como ela já deveria ter esperado. Não houve “tchau”, “até mais”, nem nenhum tipo de despedida, só uma frase que na hora ela não entendeu muito bem. “Amor com amor se paga, e amor com amor se trai”. É, agora tinha algum sentido...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Remorso

O sangue seco sob os seus olhos é a prova
Das lágrimas que você não derrubou por remorso
Tantos gritos presos e tantas noites em claro
Terá valido a pena todo esse esforço?

Já aconteceu tudo que poderia acontecer
E você ainda não arrisca nem meio sorriso
Você tem absolutamente tudo em suas mãos
Mas será que já sabe o que é preciso?

Feche seus olhos e apague a luz
Eles não serão necessários para você enxergar
Abrace o pecado e largue a cruz
Você sabe de seus erros sem ninguém para apontar

Entenda a dor e ame a cicatriz
O tato é suficiente para você saber por onde anda
O medo é surdo e não sabe o que diz
Mas é o único que sabe do beijo que você não manda

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sobre a Saudade

Como qualquer coisa inexplicável, saudade não é uma palavra comum. Talvez seja a palavra mais dolorida que se conhece. Como qualquer coisa inexplicável, saudade é uma palavra milagrosa, tradutora de algo que só existe dentro da gente, só sobrevive dentro da gente, e, quando sai pela nossa boca se desfacela e vai embora, derrete nos dedos, deixa um vazio de algo ruim que fica pior quando some. Saudade é algo meu e seu, e cada um de nós tinge com suas cores, com sua força, com sua vida; é sentimento, e como todo sentimento, cada um só conhece o seu e quer saber do do outro. Saudade é o que eu digo pra tirar de mim, mesmo sem saber se é o que eu quero.

Saudade é uma palavra que dói em todo o corpo, em tudo que se vê, em cada coisa viva.

Às vezes, saudade é um sentimento que nós nos proibimos de sentir, e também é a prova de que não mandamos no sentimento.

A saudade dentro de mim é permitida, mas triste, é lembrar-se da certeza de uma amizade que não volta. E você se torna menos um. Menos um motivo pra seguir, menos um socorro no meio da noite, menos uma noite mal dormida. Menos uma daquelas preocupações gostosas que a gente agradece por ter.

Saudade é ver que ter razão não basta, às vezes. Ter saudade é algo irracional. Saudade do desconhecido, saudade do que o coração conhece bem, mas a mente precisa de algo a mais. É ter algo que nunca se teve, somar contas negativas, multiplicar ao invés de dividir.

Saudade é lembrar-se dos aprendizados, das certezas, da incoerência de alguém doce com tons amargos, uma beleza quase estranha, surpreendente, um tom quase ingênuo. Lembrar de sons e não-cores, de ensinar amores, de ter carinho, de ter tido lugar marcado, sentindo-se importante para sempre.

Saudade é um som em tom obsceno, censurado. Um tom de raiva pelo acerto que se torna erro, uma vontade de ficar quieta no canto, de interromper antes de ser tarde, antes de ser necessário sentir saudades.

É um sentimento bonito que sai de mim amargurado, vazio, inevitável. Tentando seguir em frente, querendo ter encontrado alternativa a tempo de chegar ao tudo ou nada.

Saudade é um jogo de dados, onde você ganha ou perde, e ganhar é manter algo bom, perder é viver com a sensação de que tem algo errado, algo faltando. É ter que mudar o que não se quer mudar. É uma roleta viciada, inevitável, quase irritante.

Saudade é o que se tem e não se perde, é um presente maldito, vazio, que se garante e não se preenche, é um momento bom da vida que não volta.

Saudade é querer lembrar-se de um jeito doce, mas se censurar por lembrar com força.

Saudade é tentar esquecer algo que lhe falta, mas criar um buraco com um fundo muito grande;

É se afogar num mar bem fundo, é ter medo de não voltar ao que já se foi, e ter cada vez mais medo por saber que não voltará.

Saudade é a peça que a vida nos prega, abraçada com o tempo, tomando um copo de cerveja num bar barato, rindo dos destinos que se pode mudar

Saudade é brincar de deus, ter um sentimento intenso em si e, mesmo que não consiga tirá-lo de você, sentir-se poderoso por alguns momentos.

Saudade é frustrar-se por ter história pra contar, é frustrar-se por sua vida ter se tornado história que só se revive quando sai de você pro mundo, sentindo-se bem por tirar a tristeza de si, mas sentindo-se mal por deixar um vazio cada vez mais evidente no lugar.

Saudade é algo que não se esquece, que não some nunca. Saudade é ter medo de não ser lembrado de quem se lembra, de não pensarem em você com amor, ternura, sentimentos bons.

Saudade é ter medo por não ter certeza do que foi pra alguém, é a prova maior da incerteza do que podemos fazer, a prova do que não podemos fazer.

Saudade é você, e cada vez mais, com seus dentes enormes, suas garras vermelhas, seus olhos sorrindo, sempre apertados, fazendo todos temerem algo que me dá saudades.

SweetieLotus .

domingo, 15 de julho de 2012

Sobre a Panacéia Perversa

Dizem que é fácil pensar em finais felizes, mas nem sempre é assim. Com o tempo, a vida me mostrou que "não ser feliz" e "ser triste" são, definitivamente, coisas diferentes. Neste momento da vida, é como estar diante de uma avalanche, um monte de gelo em cima de você, enquanto você procura com todas as forças algo que lhe aqueça o coração. Nesse instante, "não ser feliz" e "ser triste" podem até ser coisas diferentes, mas se completam e ajudam a falar sobre a minha história. Mas não é bem sobre o passado, é sobre o que isso me trouxe, e que parece impossível largar.
É sobre ter desaprendido a escrever finais felizes, ou até mesmo finais justos. Cada vez que eu penso em felicidade, eu penso em infelicidade, sempre tentando usar o lado ruim da vida para explicar o lado bom. Se me perguntassem há alguns meses atrás, eu poderia dizer que felicidade era um banho de chuva em um dia quente, um beijo surpreendente numa quarta-feira monótona, achar uma moeda na rua, ouvir algo doce ou gentil de alguém que não se conhece ou que não se espera, caminhar na praia, ter alguém pra te fazer cócegas até sua barriga doer de tanto rir. Mas hoje esses conceitos não são mais do que palavras que saem da minha boca vazias, percorrendo os ouvidos à procura de algum sentido. Nesse exato momento, minha felicidade seria descrita de forma diferente. Pra mim, se alguém quer saber, felicidade é algo entre aprender a deixar as coisas para trás e olhar pra frente e aprender a caminhar sozinha. Com o tempo fica cada vez mais fácil descobrir que você realmente está sozinha, você se olha no espelho e não existe mais nada nos seus olhos que te impulsionem pra algo que te preencha. É como perder a capacidade de ser feita de amor, de exalar toda a doçura que se tem guardada, de ter alguém pra perguntar porque coisas ruins acontecem às pessoas boas. É como precisar escrever coisas ruins sem sentido para desconhecidos, esperando que alguém chute uma carta no chão e se importe em lê-la até o fim (ainda que ela seja muito ruim). É como torcer por algo que não vai acontecer, esperar que alguém se importe com o seu dia ou cuide para que você não se atrase, esqueça o casaco ou durma na hora errada. Felicidade, pra mim, é ter esperanças, mesmo sem ter motivo algum, de que alguém vai ler sobre você, saber da sua vida, e se perguntar o que houve. É poder olhar nos olhos de alguém preocupado, é ter alguém pra espalhar toda a mágoa que se sente por não saber o que vai ser dali pra frente, poder exagerar nos sentimentos guardados. É não se importar em saber se alguém se importa, ser suficiente pra si, poder fazer algo de volta a quem te fez algo, seja bom ou ruim. Para mim, a felicidade só pode ser descrita, nesse momento, como o contrário da infelicidade, usar algo ruim para descrever algo bom, perverter os sentimentos escondidos em busca da cura. Para mim, felicidade é algo que eu não consigo ver na linha do horizonte, mas que, racionalmente, eu entendo que existe. Para mim, felicidade é a infelicidade de uma forma diferente, só não sei como.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Ainda

Eu vi anjos chorarem e demônios rirem
Castelos de areia durarem e fortalezas ruírem
Eu vi veias com espinhos e flores sangrando
Vi olhos que sorriam com lábios chorando

Senti dor em minha própria cabeça
Enquanto murmurava a palavra "esqueça"
Eu já vi até mesmo um pedaço do céu cair
Mas ainda não sei se você pode sentir

Ainda não descobri até onde você vai
Até onde está disposta a ir
Nem se pretende me deixar ir junto
Ou me obrigar a partir

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Insira Aqui a Tragédia do Dia

E, repentinamente, passou pelos seus ouvidos um som doce. Um sim, lento e macio, como as coisas boas da vida. Quase pôde saborear aquela palavra, tocá-la, sentí-la, como num hiperrealismo, uma experiência mágica de uma palavra capaz de mudar todas as coisas. Até então, mal soube o poder do que dizia. Falava pelos cotovelos, mexia as mãos e ria, ria muito. Era uma boa vida. Meio superficial, meio vazia, meio só, mas uma boa vida. A moça tinha muito a oferecer, um carinho guardado, sensações acumuladas que não dividia com ninguém. Um ar triste no olhar, que se renovava facilmente. Com um sim, por exemplo. Um doce sim, na hora certa, do homem certo.
Um ar de perfeição pairava no ar pesado cheio de sons, nada romântico. Era quase uma afronta à felicidade repentina dela, que não conhecia um local mais complicado. Era acostumada com a simplicidade, locais lindos e calmos servindo de moldura para quando ela entregava seu coração. Mas aprendeu da pior maneira que molduras bonitas não fazem bons quadros. Seu coração logo se acostumara aos baques, pedradas. Parecia estar sempre despedaçado, colado com saliva, colorido num tom superficial de qualquer coisa. Mas, ao menos, era uma boa moldura. Não sabia o que seria do seu coração naquele local, talvez não sobrevivesse.
Mas sobreviveu. Vinha se acostumando ao local diferente, ar pesado, sons estridentes. Um local intenso e desinteressado, embora grandioso. Parecia que nada importava, e sentiu-se só. De repente, as coisas começaram a dar certo, pra variar. Era um sim. Calmo como quase nada naquele grande espaço vazio e preenchido, e aquilo a surpreendera. Eram cores que brotavam, as coisas se encaixando. Sentiu que sempre havia algo acontecendo naquele mundo, que parecia infinito e inesgotável, com uma quase necessidade de ser desbravado. Não entendia como aquilo podia ser comum, parecia estar em outra dimensão, vendo e ouvindo tudo com uma atenção quase cansativa de um cérebro preguiçoso que não queria processar mais nada. Mas se encaixava, e ela de repente estava ali, ouvindo um sim dançante, devagar, mole e macio, quase pegajoso. Um olhar escurecido preenchia o momento, o ar cintilava em volta dela, o seu corpo agradecia àquele momento vivo, onde as cores voltavam para dentro dela. Era algo acontecendo, tudo acontecia ao mesmo tempo, o que não era natural para a mocinha que não era mais tão falante assim.
Estava ali diante dele, que era um desconhecido (depois de despedaçar o coração algumas vezes, ela notou que todo mundo era desconhecido, fosse quem fosse) que ela vira há alguns meses, e que a fez colar seu coração com cola quente, ao invés de saliva. Estava de volta ao mundo. Tudo se encaixava, fazia sentido, e aquilo era surreal ao invés de comum.
Aquele par de olhos escuros brilhavam o tempo todo, e aquilo a fazia sorrir de novo e de novo. Decidiu esperar, mas seu coração pulava como se quisesse sair de dentro dela. Estava acontecendo de novo. Teve medo, claro que teve, sempre tinha, havia se fechado para sempre umas mil vezes, mas era insuportável ela não ter ninguém pra jogar cartas à noite, ver um filme ruim ou se distrair ao invés de comer compulsivamente sem engordar um grama sequer. Era uma moça bonita apesar de triste, e alguém notara isso. E era um sim, acompanhado de qualquer coisa que não importava, porque havia aberto uma porta dentro dela de onde saía uma luz que ela não sabia que tinha.

"Sim, mas veja bem...", era o que ele tinha dito. Fez uma pausa que lhe deu alívio, quase quis desistir da frase, mas ela o olhava de um modo tão terno que, embora tornasse tudo muito mais difícil, o fez ter certeza de que ela merecia aquele momento, visto que a outra opção era sair correndo e se sentindo culpado, sumindo para sempre num enorme espaço vazio e preenchido ao mesmo tempo, perfeito pra sua covardia. Era hesitante, sempre foi. Tão hesitante quanto bonito, o que o fez se acostumar com esse tipo de pausa longa, mas nunca suficiente.
Eram poucos segundos, e o ar ia ficando pesado, de uma alegria insuportável, como sempre ficava quando algo estava errado. Estava fora do lugar, preenchido com cores que lhe doíam, e ele só queria colocar uma enorme pedra naquela situação. Então abriu a boca, encheu de ar, e voltou à sua pausa. Engoliu o seco, e viu que era agora ou nunca. Tinha que ser antes que piorasse, ele não suportaria.
"...acho que esse não é um bom caminho.", terminou a frase, embora o que lhe passou pela cabeça foi algo mais próximo de um "não me faça sentir um completo canalha por não estar alegre como você, que fica mais bonita quando sorri, mesmo que não devesse estar sorrindo". Ou tivesse pensado em apenas correr, antes do seu cérebro congelar completamente. A frase não era suficiente, sabia que tinha algo a dizer, mas sabia que não precisava de tanta clareza, ou aquela moça frágil e doce que tinha um olhar de "estou pronta para ser feliz" e cheiro de qualquer coisa muito atraente que nunca conseguiu descobrir o que era simplesmente iria ao chão. Ele queria voltar atrás e tentar enrolar ainda mais, enganar a mocinha, não por pena, mas porque era difícil se separar daquele cheiro, ignorar aquele olhar e não querer fazê-la feliz dia e noite, enquanto tivesse forças para isso. Mas aquilo não bastaria, e embora ele tivesse um certo ar de cafageste (que ela ignorara completamente, porque era meio hipnotiznte), não chegava nem perto de sê-lo.

Foi quando o sorriso se desfez. As luzes do mundo pareciam ter se acabado, como no fim de alguma tragicomédia que a fizera se sentir uma boba. O hiperrealismo foi embora, e ela desejou jamais tê-lo sentido. Sentiu no ar que deveria ter notado que alguma coisa estava errada, mas dentro dela persistia aquele desejo de estar enganada dessa vez, e seu coração não se quebraria como açúcar mascavo. Sentiu-se culpada por ignorar o resto da frase, mas era inevitável. Olhou nos olhos dele, e ele tinha algo errado. Um ar de quase-culpa pela sua tristeza que tornou o ar insuportável. Ela abriu a boca, encheu-a de ar. Engoliu o seco, e abriu novamente a boca, como se tentasse lembrar de algo rude para dizer que não constava em seu repertório. Soube que não tinha nada a dizer, a não ser "Sou uma idiota, não é culpa sua". Quis abraçá-lo, como se aquilo tornasse algo mais fácil. Não sabia o que fazer para aquele momento acabar, seus pés fincaram no chão. Quis acender um cigarro e fazer aquela cara de desimportância, mas nunca havia fumado na vida, a não ser por aquele ar preto que ela achava que havia preenchido o mundo inteiro, como se encerrasse a cota de ora-mas-que-desgraça combinada com o-que-vou-comer-no-almoço. Quis desabar, quis nunca ter ido àquele lugar. Talvez, ela pensou por um segundo ou dois, não fosse ouvir nada daquilo, mas sabia que iria, algum dia, alguma hora. Quis culpa-lo, quis culpar-se, quis encontrar uma forma de fazer com que as coisas finalmente fizessem sentido, mas não existia. Era assim, "não entregue seu coração quebrado. Ao invés nisso, faça algo de útil", foi uma velha lição que lhe passou pelo cérebro quente em fração de segundos.

Ela se quebrava, rompia um limite que sabia que estava chegando cada vez mais perto dela. Antes de se descontrolar, sumiu na névoa, no preto-e-branco do apagão no mundo inteiro, ele parado, mais culpado que vivo, ela cambaleando vacilante, fazendo as pazes com o sentimento de que era uma completa idiota por achar que seria diferente. Ele com medo de que ela realmente fosse ao chão, ela desejando ser firme em cima dos chinelos, com aquele ar inocente de quem não sabe que é bonita que não a largava, e que ela não sabia que infestava o ar desde seus quinze anos. Ele vivo, seguindo a vida, voltando pro trabalho chato, cansativo, mas que se orgulhava de ter escolhido, sabendo que um café pela tarde e um uísque a noite lhe faria se sentir como se nada tivesse acontecido. Ela, com os olhos marejados, o corpo se movendo como uma onda, o coração desejando uma bela moldura para se quebrar, prestes a entrar na primeira porta aberta que lhe desse um copo de alguma bebida forte e doce, para se conformar mais rápido e lhe criar a velha saliva que colaria seu coração para que pudesse trocá-lo por um filme do Woody Allen.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Consciência

Posso até fechar meus olhos
Mas sempre que o faço, é o seu sorriso que eu enxergo
E mesmo que eu perdesse a visão
Só por poder vê-lo, não reclamaria nunca de estar cego

Posso até me deitar
Mas tenha certeza de que não irei adormecer
Acabarei por devanear
E se abrir os olhos no escuro, acabarei por lhe ver

Faça da minha presença
Um risco que você quer correr
Seja minha consciência
E mate minha sede de saber
Deixe a vontade ser intensa
Me deixe fazer parte do seu ser
Que eu lhe prometo toda minha crença
E tudo mais que eu puder ter

Nem cura, nem doença
Inferno e paraíso serão o que nós quisermos escolher
A razão que minha mente dispensa
Será motivo suficiente para viver

Minha boca já nem pensa
Só lhe diz o que minha cabeça quer dizer...

terça-feira, 3 de julho de 2012

Planos


Eu quero um futuro que me mantenha viva.
Um futuro que me beije os lábios e me faça sorrir
E pensar em um amanhã de sol e nuvens brancas.
Que me acaricie o rosto como o vento.
Que me tenha com um futuro inocente
de um jeito simples, doce...
e só meu.

Eu quero um futuro de possibilidades
Onde eu consiga um romance,
Um caso de amor particular;
Como uma onda salgada imaginária
que me envolva e me engula
e não me faça querer sair.

Eu quero um futuro que eu não domine
Com surpresas infinitas,
superáveis e possíveis.
Mas justo.
Com força e segurança,
Com ilusões que se tornem reais
Ou com as realidades coincidentes aos contos de fadas.

Eu quero um futuro que chegue
Com surpresas em laços de fita.
E que, no futuro, eu seja capaz de ser de amor.
Um amor feliz e revigorante,
Com sentimentos no lugar certo
E no momento certo.

Quero um futuro que me encontre na esquina,
Me olhe com esperança e sorria pra mim.
Eu quero sorte no futuro,
Ou seja lá o que for.
Quero um futuro que não dependa de ninguém.
Só de mim.
Para que, no futuro, eu largue o meu passado no passado,
E traga meu futuro pro presente.

domingo, 1 de julho de 2012

Por Dentro

A vida me questiona
Mas o espelho não quer me responder
São perguntas vazias
Que com o tempo eu vou esquecer

O tempo não me ouve
Os meus gritos não atingem o céu
A luz do sol
Cegou meu lado cruel

Uma voz me chama
O vento me guia
Mas meus pés
Não me levam aonde eu queria

A dor me encara
Minha inconsciência é insuficiente
Para me mostrar
O que se esconde em minha mente

Um corpo cai do um lado
Meu medo está calado
Meus olhos não querem se abrir
O caminho que eu ando não é o que eu quero seguir


Minhas cicatrizes me seguem
Minhas memórias não me deixam em paz
Renego o desejo de viver
O que eu fui, já não sou mais

Meus sonhos me deixaram
Meus medos ainda me acompanham
O tempo continua a passar
E os meus sentimentos me estranham

Tento enxergar
Mas a raiva me cega
Peço à vida mais uma chance
Mas ela me nega

A insanidade me governa
Sinto como se voltasse em meu caminho
Ouço vozes à minha volta
Mas sei que estou sozinho

Minha voz está baixa
Não entendo o que digo
Tento alcançar minha alma
Mas sei que não consigo