domingo, 24 de março de 2013

Efemeridade

Eram seis e meia da manhã quando o despertador do celular tocou. Susana acordou, desligou o despertador e, enquanto olhava para Leo deitado a seu lado, amaldiçoou sua mania de coloca-lo para despertar mesmo em sábados à noite. O despertador não foi capaz de acorda-lo, e ela sentia um pouco de inveja da situação.

Ela levantou e abriu a janela, apenas para ver mais um domingo nublado. Era o que? O quarto ou o quinto fim de semana que se passava sem ela ver o sol, já havia quase esquecido como ele era. Olhou para Leo novamente, pensando no quanto ele estava imóvel, apesar da janela ter sido aberta sem nenhum tipo de preocupação em não fazer barulho.

Sabendo que aquele sábado era um dia tão bom como qualquer outro para fazer qualquer coisa menos voltar a dormir, decidiu acordar de fato, apesar da falta de sol. Foi ao banheiro e, enquanto escovava os dentes, pensou na noite anterior, em como conheceu Leo. Lembrou-se da cantada ruim que ele dera, mas que havia funcionado por causa daquele belo sorriso e do par de olhos verdes. Como ela gostava daqueles olhos verdes acompanhados do cabelo escuro. Pensou nos drinks que dividiram e que ele insistentemente pagou, apesar da relutância dela em aceitar bebidas que ela mesma não tenha pagado.

Foi uma noite curta, ela não estava com muita paciência para jogos. A semana havia sido longa e cansativa, ela queria apenas ir para a casa dele e fazer o que deveria ser feito. Ela perguntou, ele obviamente aceitou e lá estavam eles. Ela dormiu apenas umas duas horas por culpa da mania estúpida que ela adquiriu de acionar o despertador sempre antes de dormir. Mas a mania tinha suas partes positivas, ela não gostava muito de passar mais tempo que o necessário em nenhum lugar.

Voltou para o quarto e se vestiu, sempre olhando de canto para Leo deitado, pensando na efemeridade das coisas. Pelas contas dela, ele já era o quinto nos últimos três meses, todos de cabelos escuros e olhos verdes. E ela o invejava enquanto olhava para ele depois de vestida e pronta para sair sem ele notar. Ele parece ter algo que ela não tinha, estava descansando, estava em paz.

E ela saiu daquele apartamento silencioso e quase vazio, o quinto apartamento nos últimos três meses, deixando para trás apenas uma janela aberta num dia nublado, um corpo frio estirado na cama e um pouco da inveja que ela sentia da paz em que ele estava.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Verdade Áspera

Algo está ausente quando você não está por perto
Algo que faz falta dentro de algo quase completo
Esse algo pode ser um toque ou um mero olhar
Ou um espaço vazio na cama, um lugar...

As páginas nos livros não parecem suficiente
As histórias que elas contam apenas mentem
São apenas um paliativo para esse vão
Apenas um lugar para repousar minha razão

Fazem falta a boca e a sanidade
Sobram o espaço e a verdade
A verdade áspera e não lapidada
De que faz falta sua voz até calada


Quando você não está por perto, algo se perde
Como em uma artéria ferida onde o sangue verte
E quando você chega, há algo que me encontra
Eu caio em mim, como um castelo de cartas se desmonta

Faz falta a sua boca e há necessidade
Sobram o espaço e um pouco da verdade
Uma verdade bruta, áspera e não lapidada
De que faz falta sua voz até quando calada

A verdade seca e de gosto amargo
Cada vez que a distância se torna um fardo
Mas um fardo não difícil de carregar
Pois ele acabará assim que você chegar