segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Conte Um Conto

Conte-me sobre a vida que você uma vez deixou
Conte novamente aquela velha história que você nunca contou
Fale um pouco sobre tudo, enquanto eu me mantenho calado e mudo
Ouvindo você dizer que sempre soube onde errou

Conte a todos outra vez o que te fez mudar
Cada detalhe do conto que você não quer contar
Conte os dias e os segundos, conte à vida
Lembre-se de suas memórias, as vergonhas e as glórias, ou elas serão esquecidas

E quando você não souber o que contar, invente uma pequena mentira
Conte como é fácil amar e sentir ira
Tudo é tão simples, contar é ainda mais
Então conte para mim, antes que nós cheguemos no fim, o que você quer mais?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sua Sweetie

é assim.

Doce.

Exagerada.

Consegue ser boa e ruim ao mesmo tempo.

Tanto faz, que seja.

Esqueci de dizer: sua sweetie é complicada.

Ninguém entende esse docinho!

Sua sweetie é confusa, como tudo na vida. Mais um pouco.

É pequena, mas salto existe pra isso.

Sua sweetie não intimida ninguém. Ela não usa salto.

Sua sweetie sai por aí, não presta atenção em nada.

Quando tropeçam, ela cai junto.

Sua sweetie já se machucou muito, e vai se machucar mais um bocado.

Sua sweetie não se importa. Não se vê reclamar, ninguém nunca viu chorar.

Porque ela não se importa.

Sua sweetie não tem escolha, mas, se tivesse, faria do mesmo jeito.

Como qualquer ser humano.

Mas sua sweetie não é humana: sua sweetie é doce amargo sem receita.

Embalagem danificada, já derrubaram muito.

Já quebrou, já montou e quebrou de novo. Umas mil vezes.

Quando você vê, tem sempre um mais bonito de lado.

Você escolhe o mais bonito. Está vencido.

Sua sweetie fica por lá. Faça chuva, faça sol, ela está lá.

Sweetie é a última escolha. Mas é só sua.

De quem?

Sua.

(silêncio.)

E, mais uma vez, não escolhe a sweetie.

Sua sweetie.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sentimento

Trata como tolos os que se entregam
Mas são infelizes todos que não o acreditam
Sua existência parece ter como único propósito
Provar que não é como os poetas lhe pintam

Tão pulsante quanto uma artéria
E triste como uma canção de abandono
Culpado pelos sonhos em pleno dia
E também pelas noites sem sono

Talvez seja uma mera desculpa
Para os erros que parecem tolos demais
A razão para todas as suas guerras
Mas também para cada momento de paz

Chame como preferir, mas ele muda de nome a cada momento
Apenas tenha certeza, existe esse tal de "sentimento"

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Do Andarilho

Não preciso que ninguém me deixe:
Eu me largo pelo caminho que sigo
E vou deixando pedaços de mim
Sem querer que ninguém me ache,
Largando pétalas nos meus tijolos amarelos.
De visita pelo meu mundo
um andarilho seguirá meu rastro.
Um dia, encontrará meus olhos
(Que olhar distante, onde vai parar?)
E irá seguindo meu rastro até achar meu sorriso.
E quando vir aquela boca com dentes abertos pelas boas lembranças
Alguém vai rir do riso
E das brechas dos dentes.
Guardará sorrateiramente
a janelinha que liga o meu mundo ao dele.
Então, ao seguir as pétalas do meu corpo
Encontrará meu toque macio percorrendo suas mãos e seu rosto...
E meu olhar guiará o andarilho pelo caminho curvo que eu seguirei.
Com o conforto do sorriso
E o carinho do toque.
Até me encontrar pela metade seguindo com o que resta de mim.
E quando ele olhar
Verá que eu sou e sempre fui nada mais que eu mesma o tempo todo.
Mesmo sem conhecê-lo de verdade
Serei um lugar comum para ele:
Com o mesmo dia ensolarado por fora e noite sem lua por dentro.
Mas, quando eu quiser reaver o que fui
Os ponteiros do meu relógio não voltarão
E eu serei irreversivelmente
Pertencente ao andarilho
Que um dia vai caminhar para fora do meu mundo
Levando o que eu fui um dia,
Me fazendo reconstruir o que sou
Para largar pelo mundo outra vez.


Sour .

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

As Vigas da Sanidade

Não sei se você entende, mas a vida vai muito além do que você conhece
Aquilo que apenas você sabe, aquilo que apenas você não esquece
Há algo lá fora, muito mais do que aquilo que há agora em você
Você só precisa abrir a janela, abrir os olhos, olhar e ver

É só uma questão de tempo, você também faz parte daquilo lá fora
Depois de abrir a janela, abra a porta e deixe o que é ruim ir embora
Abra também seu peito, mas não muito, afinal você não quer se ferir
Mas é preciso saber chorar para se aprender a sorrir

A cada lágrima que você derruba
Cai uma das vigas da sua sanidade
Mas não permita que a loucura seja ruim
Nada é tão mau assim
Pior é ser cego e sem nenhuma vontade

Seu único crime cometido
Foi se importar com outro alguém
Mas você vai melhorar
E depois que a ferida fechar
Você será mais que você tem

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sobre o Arrepio

E quando o sopro macio da sua respiração
Soar leve por entre meus poros
Minha pele sentirá um aperto
E meus pêlos se erguerão em ola
Um após o outro
Procurando o ar quente
Que sai de teus pulmões.
E depois que seus dedos acariciarem meu rosto
Instigando um sorrateiro sorriso
Meu olhar acompanhará teus olhos
Seguindo cada pedaço do teu rosto
Apenas para te dizer
Hoje nasceu um arrepio.


SweetieSour .

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Maldita E Bela

Minha maldita e linda
Pedra bruta que nem o amor lapida
Tão suave quanto uma margarida
E tão doce quanto o gosto da vida

Minha maldita e bela
Como o frio que adentra pela janela
Uma chama que quase se apaga em uma vela
Mas eu vivo no escuro sem ela

Tudo que eu te peço
Enquanto viro minha cabeça do avesso
Atrás de memórias e desculpas
Aquelas mesmas que eu sempre esqueço
É que estejas comigo
E que sejas meu abrigo...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sobre alguém que não veio

Não é fácil lidar com olhos negros. Com olhar de menina, com sorriso de menina, num corpo como o teu, mulher assim. Com uma voz doce, que chama, que não se nega, que não se ilude, que não se basta. Com uma mente como a sua, que quer o mundo, que quer um tudo, que quer a todos. Não é fácil aguentar noites sem sono, palavras sem culpa, silêncios apavorantes gritando ao pé do ouvido, saltando aos olhos. Mas aí está você.

Aí estão as palavras, os sorrisos e as surpresas. Aí está a sinceridade, a grande sinceridade. Aí estão mil motivos pra desconfiar de tudo, mas a desconfiança não está aí. É um eterno aprendizado: tudo na vida tem metade das chances de dar certo, quer pagar pra ver? A resposta é sim. Mesmo quando é não, é sim. Olhos negros são difíceis de lidar. Surpresas também são.

No meio de tudo, estava você. Em meio às luzes acesas, estavam as palavras, as simples palavras que recriariam sorrisos no rosto da menina que jamais admitira um sim na sua vida. Não para olhos negros. Não para sorrisos secos. Não para tanta confiança, que só a fazia desconfiar. Porque, poder ver o mundo em tanta luz não podia fazer bem àquela menina. Tanta luz ofuscava a visão da pessoa que estava do outro lado. E ela só via sons e sorrisos, palavras descuidadas, formuladas passo a passo para um divertimento estranho em que só uma das partes ria por vez. A outra ficaria séria.

É uma brincadeira estranha entre estranhos. Afinal, ninguém é capaz de conhecer alguém, e ela, a mocinha, não sabia o que se passava ali dentro. Só sabia da luz que vinha. Só gostava do monte de sensações que formavam aquilo tudo. Só queria aquilo que as cores representavam, as expressões mostravam, que podia entender. O indescritível não era confiável, e ela nunca soube se valia a pena pagar pra ver.

Mas aquilo tudo era estranho: lugar estranho com pessoas estranhas criando um espaço esquisito dentro da menina. Espaço só que devia ser só dela. Com suas cores, do seu jeito. Mas que, de repente, deu lugar a outros mundos. Que, em cores, tamanhos e formatos diferentes (ou iguais), juntas em seus respectivos grupos, dão lugar a toda aquela representação. Que agora tinha morada. Aquilo não existia só na cabeça dela: nada que não exista tem um lugar pra morar. E ponto final.

Mas começou na cabeça dela, quando eram só olhares desconhecidos criados pela primeira vez. E foi-se modelando uma representação, que unia características de um ser único. Criado por ela, formado para o mundo. Programado pra ir embora (em cinco, quatro, três...) da vida dela por algum tempo. E ninguém sabe se vai voltar. Ninguém sabe se aquilo que ela mais odeia vai dar as caras, se aquilo que ela admira vai dar as caras, se aquilo que ela gosta naquela criatura vai dar as caras de novo. Ela só sabe que vai viver nela durante algum tempo, ainda que morto, ainda que longe, ainda que contra a vontade dele. Porque ele vai levar um pedaço dela consigo, um pedaço que cresce e cresce, sempre e sempre. Um pedaço daquela amizade que ia crescer junto com o tempo que gastava escrevendo pra uma simples representação.

Não importava tanto se voltaria e nem quem era ou o que faria. Se aquilo era mentira ou verdade, se no fim das contas aquilo tudo era propositalmente errado para originar uma mentira qualquer. O que se cria é verdade, e, naquele espaço, a verdade é aquela que se mostra antes. E aquela era a mentira da vez, criando sensações que ela não conhecia, que ela conhecia, que não importavam. Porque não lhe importava o que os olhos negros achavam, tudo era sobre a menina e sobre a sensação que aquilo tudo lhe trazia. Era tudo sobre uma sensação de proteção e de preocupação qualquer, sobre frases soltas e estranhas que eram direcionadas apenas pra ela, sobre como aquilo lhe fazia bem. Era tudo sobre as palavras. Ou era tudo sobre as ações. Ou sobre o significado delas. Nada daquilo importava, não faria falta. Havia controvérsias. Tudo na vida tem metade das chances de estar errado. Admitia.

Mas nada que viria dali poderia ser tão nocivo. Não sairia do lugar, e sempre pode ser uma invenção. Sempre pode não ser nada, sempre pode ser irreal. Importa?! Não. Ainda não podia fazê-la tão mal se lhe fazia tão bem. Certo? Não sabia, mas pagava pra ver enquanto valesse a pena.

Era muita audácia daquela pequena. Era loucura subir num salto pra brigar. E falar e falar, descontroladamente. E ouvir calada coisas assim tão estranhas, mas que não acreditava. Era loucura lutar contra aquilo, se fosse coisa da sua cabeça. Era muita audácia duvidar daquilo, se aquilo fosse real. Definitivamente, estava disposta a não cair em abismos. Nem a deixar que ninguém jogue a sua representação ali. Estava disposta a dormir e acordar, até o dia de alguém lembrá-la que o mundo novo era só um mundo paralelo. E que ERA coisa da sua cabeça. Que não existiam brigas e nem proteção naquele espaço. Nem o sorriso. Nem uma verdade. Nenhumazinha. Era só a cabeça dela criando um mundo que a protegesse do medo que ela sentia de acordar com as baratas e com as traças, de lembrar os dias ruins... Era só a cabeça dela tentando poupá-la de guardar só pra si alguma coisa boa. Era só a cabeça dela, pregando-lhe uma peça: não existiam pessoas que fizessem aquele monte de coisas simples por ninguém. Naquele interior, na sua cabeça, existiam pseudocarinho, pseudoproteção, existia um monte de coisas ruins, que lhe traziam coisas boas. Porque, no fim, existiam letras que voltavam. Não sabia até quando, mas, aquela criatura da cabeça da menina, lhe fazia bem até quando valesse a pena pagar pra ver.


Sweetie?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sem Destino Final

Me permita ser aquilo que você não espera que eu seja
Apenas um pouco de tudo que eu não sei ser
E antes que o mundo despenque e caia sob nossos pés
Nós saberemos que é a hora de crescer
E abrir os olhos um pouco mais cedo para assistir o amanhecer

Seremos apenas nós mesmos, sem saber o destino final
E isso não é nenhuma novidade, chegamos até aqui assim
Mas aprendemos um pouco desde sempre, a cada dia
E já vimos que nem sempre tem que ser tão ruim
Pelo menos não antes que chegue o fim

Que apenas sobre o que nós somos
O que não temos, nem por que, nem como
E um ao outro talvez seja tudo que nós tenhamos
O que nos ensinamos e o que aprendemos
E também um pouco do que nós sonhamos...