sábado, 4 de março de 2017

Casca

Um corte em cada pulso
Apenas a quantidade certa de sofrimento
Uma lágrima derrubada por cada olho
É o suficiente de lamentos
As quedas ainda são frequentes
Mas cair significa se levantar
E quanto mais eu respiro sofregamente
Menos parece haver ar

Sinto meus pulmões queimarem
E cada passo meu é vacilante
O gosto amargo persiste na boca
Mais forte a cada instante
Meus olhos estão trêmulos
Eu sequer consigo sustentar um olhar
O espelho me encara com vergonha
E eu não tenho como discordar

O que mais sobrou além de sobras?
O que restou além de restos?
O presente é algo amorfo
E o passado são apenas gestos

Ainda há restos de mim mesmo?
Sobrou algo além da casca?
Não sinto mais nada de minhas feições
Não me sinto mais do que uma máscara