sábado, 16 de novembro de 2013

Apenas Vida

E então, vida minha, do que sofreremos após essa sofrega arritmia?
O que nos guarda o destino, esse futuro que nunca se anuncia?
Somos parte, apenas mera parte, e nunca enxergamos o inteiro
Temos medo de abrir os olhos, medo de vermos o reflexo no espelho
E descobrir que vida é apenas vida, apenas um momento que parece durar
E que a eternidade não dura mais que uma respiração ou um olhar

Entao respire fundo, e olhe dentro dos olhos do reflexo
Dê razão a essa linha de pensamentos tão desconexos
Entregue sua doença nas mãos calejadas à sua frente
É sua própria imagem, é a sua própria mente
É o seu próprio olhar, e você apenas ouve sua própria respiração
São seus pulmões ávidos por ar fresco, cansados dessa prisão

Essa janela fechada, esse flagelo auto-imposto
Permita um pouco de luz antes que lhe sobre menos que seu rosto
Permita que a razão e a insanidade vivam lado a lado
Dando espaço uma à outra, matando a doença no coração escoriado
Respire um pouco de si mesmo antes que sobre menos que isso
Vida é apenas vida, seja você o rei ou um cavalariço

domingo, 20 de outubro de 2013

Apenas Fragmentos

Dou-te um beijo por cada engano, por cada erro que cometi
E espero que tentes me entender, como tento entender a ti
Entender que somos incompreensíveis, em acertos ou enganos
Somos nada mais que apenas errantes, somos apenas humanos

Peço-te um abraço por cada fragmento, cada resquício desperdiçado
De uma alma se já sem medo, já não há muito a ser perdoado
Foram erros momentâneos, apenas palavras cuspidas ao vento
Já não passamos de seres incompletos, apenas fragmentos

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Calmaria

Deixe o vento sussurrar enquanto a tempestade grita
Sem jamais interromper a correnteza deste rio escarlate
A reza silenciosa de sua alma torturada e aflita
É o que dá voz a este coração que já não bate

Deixe o vento gritar enquanto a tempestade ameniza
E seus olhos deixam a inundação da dor fluir
Não há mais nenhuma voz além da própria brisa
E é apenas ela que você deve ser capaz de sentir

A calmaria virá assim que você permitir que ela venha
Acredite que esse incêndio não precisa de mais lenha
Você já queimou toda carne que poderia querer queimar
Agora abra a janela e deixe entrar um pouco de ar

Você é sua própria paz, dentro da sua própria criação
Sua voz e seu silêncio, seja na insanidade ou na razão
Seja seu próprio motivo para então seguir em frente
Nada além das suas mãos vai segurar a sua mente

A calmaria só existe quando o espelho retribui o olhar
Com a calma e a dor coexistindo em perfeita harmonia
E aquela voz que absolutamente ninguém pode calar
É quem cantarola a sua triste e cansada melodia

domingo, 8 de setembro de 2013

Teia

Destrua minha voz enquanto eu grito por ajuda
Negue-me a verdade que eu te nego amor
Deixo-te me mentir, mas não permito que me iluda
Sou cego a teus defeitos e insensível a tua dor
O sussurro na tua garganta não me vê e não escuta
Tua saliva é como droga que me deixa em torpor
Ainda sinto na boca o gosto vermelho da tua voz bruta
Abro meus olhos, mas já não resta nenhuma cor

Mas ainda resta vida onde ontem havia menos que morte
Voltou a respiração aos pulmões secos e o sangue à veias
Ainda resta luz, e uma cicatriz onde um dia houve corte
E a presa finalmente consegue se livrar da teia

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A Flor do Silêncio

O silêncio construído com lágrimas presas
De sentimentos obscuros dotados de rara beleza
A ira naquele grito enjaulado dentro da mente
E a saliva que afoga o sussurro feroz e estridente

Você só quebra o silêncio quando não suporta a dor
Grita que conhece de perto o medo, mas nem sabe sua cor
Do espinho que impede o sangue de sair da ferida, nasce a flor
Ela só terá beleza e perfume se o sofrimento tiver ardor


A alquimia da sua voz misturada ao medo
Gera a sintonia da dor com o segredo
A mágoa é calada, mas transborda pelo olhar
Teme se expor, só seus sentimentos irão julgar

Você só quebra o silêncio quando a dor vai além da sua capacidade
A noite recém começou, mas você já sabe o quanto é tarde
As brasas estão se apagando, e isso é o que mais queima e arde
O medo de quebrar o silêncio e ter que encarar a verdade

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Doce Escuridão

Te entrego vida através do que eu não creio
O sangue contido em cada gota de suor
E o suor na única semente que eu semeio
Tem um gosto que tua língua já sabe de cor

Derradamas as lágrimas, nada mais pode ser feito
Um crime cometido a cada sussurro
E mais nenhum sussurro preso no peito
Todos ditos pela voz que preenche o vazio no escuro

Doce escuro, para olhos claros ou olhos negros
No escuro, todos são apenas olhos cegos
Doce escuridão, para o grito ou para o suspiro
De olhos fechados, é pela tua voz que eu me guio

Doce escuro, para olhos negros ou olhos claros
No escuro até o medo é um sentimento caro
Doce escuridão, para o suspiro ou para o grito
De olhos fechados, cada segundo parece o último e infinito

sexta-feira, 5 de julho de 2013

O Martelo E Os Pregos

Dê um pouco de voz ao que não pode gritar
E algumas lágrimas a quem não pode chorar
Isso lhe custará menos que um beijo

Dê um pouco de água à sede por vingança
E um pouco de música para acabarmos a dança
Apenas um sorriso após o último gracejo

Entregue um olhar que você não daria em frente ao espelho
Finja que não sente esse gosto ferroso e vermelho
Ria às piadas que o mundo ao redor grita ao ouvido
Enquanto o muro desmorona sem nem o menor estampido

Apenas escombros e algumas sombras, nem olhares de pena
Você permanece no palco enquanto não lhe deixam sair de cena
Enquanto você compreende que apenas você será por você mesmo
E sua voz é apenas um som vagando no vento, um sussurro a esmo

Dê um pouco de luz ao olhar que é cego
Já lhe deram em mãos o martelo e os pregos
Enquanto você se prendia à sua própria cruz

Dê um pouco de atenção a quem não merece
Apenas mais um dia e o mundo se esquece
O mundo é seu, ele vai aonde você o conduz

Vozes rezam e olhares julgam, discursos que você já sabe de cor
Olhos fechados e mente cansada, você já sabe o que há ao seu redor
Dê vazão ao que você não sente e você talvez se entenda
Continuando de olhos fechados, você sempre terá uma venda

Há um gosto amargo no fundo da sua boca e só você o pode tirar
Sua própria carne é doce o suficiente, mais do que você pode lembrar
Você não precisará que ninguém lhe diga o que é certo ser
Quando souber o que você é todo pôr do sol terá gosto de amanhecer

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Primeiro Passo

O sol batia forte na janela de Ana naquela manhã e atravessava a frestas com facilidade para iluminar fracamente seu quarto, mas ela não veria seu quarto iluminado naquele dia. Ela não o veria nunca mais, na verdade. Afinal, foi na madrugada daquele dia, antes mesmo do sol pensar em nascer, que ela decidiu que cansou de dizer na frente do espelho “e se...?”.

Ela tinha chegado aos trinta razoavelmente bem, mas ainda morar com os pais era algo que soava deslocado quando ela olhava para sua vida em retrospecto. Todas as escolhas que ela havia feito e que a levaram àquele ponto passaram por sua cabeça enquanto ela fechava a porta por fora e tomava aquilo que ela poderia considerar com folgas a atitude mais corajosa (ou talvez inconsequente) de sua vida. Ela se acostumou a pensar nas consequências, mesmo quando fazia algo de moral dúbia (ou que assim seria considerado).

Ironicamente ela gostava de novidade e novas experiências, mas mesmo assim tinha um certo pavor racional de sair de sua zona de conforto (afinal, se fosse alguma atitude “definitiva demais”, ela não teria como voltar atrás). E ela assim havia sido desde que ela conseguia se lembrar, desde sua primeira decisão própria, sem ajuda da mãe ou do pai: aos dez anos, aquela primeira blusa que havia escolhido na loja, que, apesar dos pais pagarem, ela que escolheu, e não fugia em absolutamente nada do estilo que sua mãe sempre comprava para ela.

Havia tido alguns namorados, mas sempre que sentia que algo sério estava tomando forma, acabava o relacionamento. O mais longo havia durado um mero ano e meio, mas, ao ver o rapaz se ajoelhando no meio do restaurante, ela não teve nem tempo de pensar na sua reação e saiu correndo antes mesmo de a entrada chegar. Antes mesmo de notar que ele também não estava preparado para dar aquele passo e que ele havia apenas se abaixado para amarrar o sapato.

Adorava crianças, e, apesar de não sentir arrependimento propriamente dito, havia bem lá no fundo uma dose de lamento reprimido. O mesmo rapaz que se abaixara para amarrar o sapato a engravidara aos oito meses de namoro, mas nem tivera tempo de saber devido ao aborto que ela realizou em completo silêncio e total solidão. Ninguém além dela mesma jamais saberia daquilo.

Amava artes de forma geral: música, teatro, pintura. Talvez seu arrependimento mais profundo fosse não ter feito nada daquilo nunca, afinal não havia como ter uma vida regrada e cheia de certezas nessas profissões. Vocação não rende números na conta ao final do mês, ao contrário do seu curso superior de ciências contábeis, coincidentemente a mesma profissão de sua mãe.

Não era à toa que, mesmo ganhando o suficiente para morar sozinha há pelo menos cinco anos, ainda não tivera coragem o suficiente para fazer algo mais que olhar os classificados por um apartamento. E isso gerava um zumbido em seu cérebro toda noite antes de dormir há quatro anos e meio.

E foi esse mesmo cansaço que, na madrugada de seu aniversário de trinta anos, foi catalisador dessa atitude corajosa e inconsequente. Era madrugada de domingo, período em que ela estava sempre em casa, afinal nunca saíra sábado à noite, que ela levantou, olhou no espelho do banheiro de rosto inchado pelo tempo passado no travesseiro, que ela disse “e se...?” pela última vez. Acordada às 3:17 da madrugada, mala pronta às 4:03 da manhã e passos lentos na sala em direção à porta, acompanhados apenas pela sua reza silenciosa por seus pais, ela ia embora. Olhou uma última vez em direção a seu quarto e pronunciou um adeus silencioso que apenas seus lábios ficaram sabendo. E, às 7 da manhã daquele mesmo dia, seu quarto vazio estava fracamente iluminado pelo sol através das frestas da janela. Ela não veria aquele quarto mais, mas não por ter realmente seguido em frente. Duas horas na rua haviam sido o suficiente para convencê-la que a atitude impulsiva não havia sido uma ideia exatamente boa, mas fora um pouco divertido. Enquanto ela voltava para casa, alguém alcoolizado a atropelou. E aquele que havia sido o pontapé inicial para a concretização de todos os futuros “e se...?” havia sido também o último. O primeiro passo foi dado, mas era muito tarde.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Quem Eu Não Feri

A sua voz está fraca e o seu amor está escasso
Amor, me diga, por favor, o que eu faço?
Os caminhos se cruzaram, mas as vidas não
Os pecados são os mesmos, mas as penitências são em vão

O seu medo se fortalece enquanto você perde a esperança
Amor, me mostre, por favor, como percorrer essa distância
Os olhares se cruzaram, mas os sentimentos não existem
Por que nós devemos viver enquanto outros desistem?

Tesouros existem para não serem revelados
Eu sei o que deve ser dito e o que deve ser guardado

Não dê adeus, não diga olá
Não me diga o que falar
Não quero saber como agir
Não quero ser a cura de quem eu não feri


O nosso tempo está curto e o amanhã está longe
Amor, me diga, por favor, onde o seu coração se esconde
Os amores se cruzaram, mas não no mesmo coração
O que te faz acreditar não é uma visão

Tesouros existem para não serem revelados
Eu sei o que deve ser dito e o que deve ser guardado

Não dê adeus, não diga olá
Não me diga o que falar
Não quero saber como agir
Não quero ser a cura de quem eu não feri


Não tenho culpa, não tenho do que me arrepender
Não vou fugir nem me esconder
O medo é uma barreira, não um limite
Só há sentimento desde que você acredite

Seus olhos se fecharam, me deixe vê-los mais uma vez
Me diga sim ou não, nunca talvez
Não me culpe por não desistir ou por tentar
Eu não sou alguém para se amar
Não dê adeus ao sonho porque você acordou
Há outra chance para quem errou

Tesouros existem para não serem revelados
Eu sei o que deve ser dito e o que deve ser guardado

Não dê adeus, não diga olá
Não me diga o que falar
Não quero saber como agir
Não quero ser a cura de quem eu não feri

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Cinzas

Enquanto a luz se apaga
E a última alma vaga
Sozinha pela escuridão direcionada
A culpa já está destinada

As incertezas iluminam uma face desgastada pelo tempo
Recolha as cinzas, jogue-as ao vento


Abra a última porta
Só sangra quem se importa
Os olhos se fecharam para descansar
E os sustos vão acordar

As incertezas que iluminam o relento
Recolha as cinzas, jogue-as ao vento

Cinzas de um sol, a supernova se apagou
Presente sem passado que a escuridão dominou
Deita-se o espírito, a alma não descansa
Momentos finais, últimos passos da dança
Os arrependimentos vêm à tona, tomam conta do que sobra
Caem as vigas onde o céu se escora


Os olhos que são incandescentes
Iluminam o seu amor inconsequente
E tudo nunca é suficiente
Para ser eterno no seu presente

As incertezas iluminam o seu afogamento
Nas cinzas que foram jogadas ao vento

Cinzas de um sol, a supernova se apagou
Presente sem passado que a escuridão dominou
Deita-se o espírito, a alma não descansa
Momentos finais, últimos passos da dança
Os arrependimentos vêm à tona, tomam conta do que sobra
Caem as vigas onde o céu se escora

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Doença Que Você Chama de Amor

Os anjos que deram adeus ao céu
E botaram pra fora o seu lado cruel
Vieram ao mundo para vingar
O amor que eles tiveram que matar

Os demônios que tiveram suas almas vendidas
Tentaram voltar atrás porque estavam arrependidos
Mas quem comprou suas almas não aceita arrependimentos
Ele não quer saber nada sobre sentimentos

O que foi deixado pra trás
Foi trocado por uma espécie de paz
Ele dirá o que deve ser dito
Nenhuma solução está no que foi escrito
Ande seu caminho e não pense no que você deixou
Não há cura para a doença que você chama de amor


Aqueles que pensavam ser imortais
Receberam o castigo por pensarem demais
Tiveram de cruzar a última linha
Tiveram de deixar o corpo enquanto a alma caminha

O que foi deixado pra trás
Foi trocado por uma espécie de paz
Ele dirá o que deve ser dito
Nenhuma solução está no que foi escrito
Ande seu caminho e não pense no que você deixou
Não há cura para a doença que você chama de amor

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Território Desconhecido

Um último beijo, de boa noite
E então a escuridão toma conta
Feche os olhos e adormeça logo
Enquanto a alma se apronta
Se apronta para encontrar algo
No território que você desconhece
Você o visita todas as noites
Mas quando acorda, o esquece

A incógnita da mente descordada
O desconhecido dentro de você
Sua parte que você ignora
Ou apenas o medo de reconhecer
A existência do outro lado
A cicatriz no meio da face
Maculando sua pretensa perfeição
Impedindo que você disfarce

O confronto consigo mesmo
Que lhe força a acreditar
Que há outro lado na moeda
E abaixo da superfície há o mar
Quando você abre os olhos
Tudo pode ser esquecido
Mas você nunca poderá apagar
Uma vez que você tenha sabido

terça-feira, 21 de maio de 2013

À Meia-Noite

Passos à meia-noite, alguns passos à meia luz
Mais alguns passos, a sua alma não se cansa
A lua ilumina, a luz das estrelas seduz
O corpo enfraquece, mas a alma ainda dança

Palavras no ar, o vento sussurra a melodia
Algo em seu olhar trai e demonstra a vontade
Um sorriso involutário do rosto que não sorria
Estar consigo e não querer mais é felicidade

Silêncio à meia-noite, palavras à meia-voz
A sua mente grita enquanto você se cala
O silêncio há de revelar o que somos nós
São as palavras que desnudam a fala

A insanidade brinca com seus olhos cegos
Que fingem não enxergar seu interior
Você é o que eu sou e sabe o que eu entrego
Pode me chamar de destino, ou apenas de dor

terça-feira, 23 de abril de 2013

Sonho Em Claro

Gostaria que tu fosses um sonho, para poder te ter a qualquer momento
Só de fechar os olhos ou deitar, mas cada noite vazia é um novo lamento
E por não ter te dado um beijo a mais e te abraçado mais um segundo, um arrependimento

Se tu fosses um sonho, cada noite seria uma alegria, não uma espera
Cada abrir de olhos seria um mero segundo, não duraria uma era
E eu não tentaria amansar o tempo, deixaria que ele fosse fera

Espero pelo dia em que tu deixes de ser um sonho, seja toda noite realidade
Pela noite que eu não me restrinja ao teu perfume, mas tenha tua totalidade
Mas me contento com a tua lembrança enquanto isso não se torna verdade

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sem Borracha



Hoje me permiti escrever sem usar rascunho. O que tá aqui, vai desse jeito pra vocês. O mais parecido possível.
Sempre que me esforço pra enxugar o que escrevo, me sinto desonesta, hipócrita. Se a função é desabafar, então não existem motivos pras meias-palavras, pras insinuações. Não preciso de um espaço.
Por outro lado, às vezes é necessário ser hipócrita. Ter amigos ruins, ter amigos. Ou seja lá o que for. De qualquer forma, acredite, é bom ter alguém que nos permita enganar a nós mesmos.
Hoje eu tive um sonho, e eu lembro bem dele. É até engraçado, porque eu nunca me lembro de nada depois que fecho os olhos pra dormir. De qualquer forma, dessa vez, fechar os olhos me fez enxergar melhor. Pensar sobre amizades, sobre apenas ter alguém ali. Ou longe, mas que seja confortável o suficiente pra te fazer acreditar que nunca se está sozinho, afinal. Sim, eu sei. Drama. Muito drama.
Bom, esse é o momento pra abandonar o texto. Mas talvez isso te traga algo também, então quem pode saber?
Isso, quem pode saber o que se pode ganhar de outra pessoa? Quem pode saber se realmente se TEM uma pessoa, seja em que sentido for? Como se sabe? Vou te dizer.
Eu não sei se é triste ou do que se trata. Não é importante, também. Mas, você pode ter mil pessoas ao seu redor, mil pessoas te dizendo todos os dias o que sentem, como gostam de você e te querem bem. Às vezes pode ser verdade, ou não. Independente disso, amizade é algo que vai e volta, e ser amigo de alguém não garante que o outro também seja seu amigo. E a gente aprende isso da pior forma, sempre.
Mas se quer mesmo saber, você consegue dizer que é amigo de alguém quando você não se sente um idiota por falar de si e do que te incomoda. Quando você está confortável pra fazer aquelas coisas que sua mãe sempre te repreende por fazer, dizendo que é “falta de educação”. Amigo é quando você não precisa desse tipo de educação. Não precisa medir o jeito com as palavras. Amigo não é aquele ser perfeito e compreensivo, que te escuta e passa a mão na sua cabeça, ou que te diz “olha, você está errado”, e pega na sua mão pra que façam juntos aquilo que decidiram ser melhor. Amigo briga, discute, grita, diz que odeia, fica sem se falar por um tempo também. E não necessariamente vocês se gostam menos. Mas amigo mesmo, dos bons, te deixa entrar na casa dele na chuva e simplesmente ajuda. Ouve, e as desculpas ficam pra depois. Mas elas chegam também.
Amigos não são ideais, eles têm erros, tem seus momentos. Todo tipo de momento.
Mas ainda fica, em mim ao menos, aquela dúvida sobre a linha tênue que separa as amizades das pessoas que “querem o seu bem”. O quanto se pode contar, afinal? Isso eu não sei dizer, acho que a única chance que temos é arriscar. E eu não vou te dizer que, mesmo dando errado, acaba valendo a pena, porque também não sei disso. Às vezes vale.
No sonho, eu estava com dois amigos, e alguns desconhecidos entravam e saiam falando coisas sobre mim, sem saber que era eu que estava ali. Coisas realmente desagradáveis. Os meus amigos (ou seja lá o que forem), apenas ficavam calados, olhando ao redor, me olhando como se tivessem num teatro, o ator errasse o texto e todos ficassem segurando o riso.
No sonho, havia alguém. Alguém que me tirava dali de dentro e ficava me perguntando o tempo todo porque eu ainda achava que aqueles dois eram meus amigos. Estranhamente, eu não estava surpresa com o que aconteceu. E não estou até agora. “Nós somos amigos, confiamos um no outro”, eu dizia ao rapaz desconhecido que me questionou, mas mesmo dizendo isso em voz alta – no sonho e acordada – eu realmente acreditava naquilo. De uma forma muito estranha, eu simplesmente me enganava. Ou não, a pior parte daquilo tudo era saber que realmente eles nunca me deram suporte quando eu precisei, mas, ainda assim, relevar. O tempo todo.
A minha resposta para o desconhecido foi o que já disse aqui: “ter amigos ruins também é ter amigos. Seja como for, mesmo que por engano, é bom ter o conforto (falso?) de que alguém te faz se sentir bem pra dizer qualquer coisa”.
Quando acordei, ainda não estava surpresa. Mas ainda estou bem incomodada: será que elas fariam algo se isso me acontecesse hoje, agora? Ou amanhã? A resposta é não. Sim, ter amigos ruins também é ter amigos. Sim, ter uma sensação de falso conforto por se enganar jurando que aquela pessoa está por lá, de alguma forma é bom. Ruim é quando você precisa encarar a verdade.
Olha, eu sei o que devem estar pensando, mas isso não é sobre merecer. “Você merece mais que isso” não adianta. Talvez até mereça, mas o mundo continua girando, quase uma afronta, e a vida está repleta de coisas injustas. E daí o que se merece? Quando levanta da cama, sai de casa, vai cumprir seus afazeres, pra quem você dá bom-dia? É sobre isso que se trata.
Dormir de olhos abertos é possível, assim como viver de olhos fechados. Todo mundo faz as duas coisas em algum momento, apenas pra ficar tudo bem. Mas o quanto isso vale a pena? O quando você aguenta ser machucado? Só a gente sabe o momento de dizer chega. Se eu tenho um “desconhecido” pra me perguntar por que eu continuo chamando essas pessoas de amigos? Não sei, às vezes ouço isso, mas quem realmente se importa? Talvez eu seja a “desconhecida”. Desconhecida, sem aspas. Desconhecida pra mim, pros outros... Mas, sem dúvida, eu me perguntei aquilo antes mesmo de levantar da cama. O mais desconfortável é ainda não ter uma resposta agradável. Mas vamos ver até onde vai o meu limite, afinal.

domingo, 24 de março de 2013

Efemeridade

Eram seis e meia da manhã quando o despertador do celular tocou. Susana acordou, desligou o despertador e, enquanto olhava para Leo deitado a seu lado, amaldiçoou sua mania de coloca-lo para despertar mesmo em sábados à noite. O despertador não foi capaz de acorda-lo, e ela sentia um pouco de inveja da situação.

Ela levantou e abriu a janela, apenas para ver mais um domingo nublado. Era o que? O quarto ou o quinto fim de semana que se passava sem ela ver o sol, já havia quase esquecido como ele era. Olhou para Leo novamente, pensando no quanto ele estava imóvel, apesar da janela ter sido aberta sem nenhum tipo de preocupação em não fazer barulho.

Sabendo que aquele sábado era um dia tão bom como qualquer outro para fazer qualquer coisa menos voltar a dormir, decidiu acordar de fato, apesar da falta de sol. Foi ao banheiro e, enquanto escovava os dentes, pensou na noite anterior, em como conheceu Leo. Lembrou-se da cantada ruim que ele dera, mas que havia funcionado por causa daquele belo sorriso e do par de olhos verdes. Como ela gostava daqueles olhos verdes acompanhados do cabelo escuro. Pensou nos drinks que dividiram e que ele insistentemente pagou, apesar da relutância dela em aceitar bebidas que ela mesma não tenha pagado.

Foi uma noite curta, ela não estava com muita paciência para jogos. A semana havia sido longa e cansativa, ela queria apenas ir para a casa dele e fazer o que deveria ser feito. Ela perguntou, ele obviamente aceitou e lá estavam eles. Ela dormiu apenas umas duas horas por culpa da mania estúpida que ela adquiriu de acionar o despertador sempre antes de dormir. Mas a mania tinha suas partes positivas, ela não gostava muito de passar mais tempo que o necessário em nenhum lugar.

Voltou para o quarto e se vestiu, sempre olhando de canto para Leo deitado, pensando na efemeridade das coisas. Pelas contas dela, ele já era o quinto nos últimos três meses, todos de cabelos escuros e olhos verdes. E ela o invejava enquanto olhava para ele depois de vestida e pronta para sair sem ele notar. Ele parece ter algo que ela não tinha, estava descansando, estava em paz.

E ela saiu daquele apartamento silencioso e quase vazio, o quinto apartamento nos últimos três meses, deixando para trás apenas uma janela aberta num dia nublado, um corpo frio estirado na cama e um pouco da inveja que ela sentia da paz em que ele estava.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Verdade Áspera

Algo está ausente quando você não está por perto
Algo que faz falta dentro de algo quase completo
Esse algo pode ser um toque ou um mero olhar
Ou um espaço vazio na cama, um lugar...

As páginas nos livros não parecem suficiente
As histórias que elas contam apenas mentem
São apenas um paliativo para esse vão
Apenas um lugar para repousar minha razão

Fazem falta a boca e a sanidade
Sobram o espaço e a verdade
A verdade áspera e não lapidada
De que faz falta sua voz até calada


Quando você não está por perto, algo se perde
Como em uma artéria ferida onde o sangue verte
E quando você chega, há algo que me encontra
Eu caio em mim, como um castelo de cartas se desmonta

Faz falta a sua boca e há necessidade
Sobram o espaço e um pouco da verdade
Uma verdade bruta, áspera e não lapidada
De que faz falta sua voz até quando calada

A verdade seca e de gosto amargo
Cada vez que a distância se torna um fardo
Mas um fardo não difícil de carregar
Pois ele acabará assim que você chegar

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mutabilidade

“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o ‘pra sempre’ sempre acaba?”. Não sou um grande fã do Renato Russo, mas essa frase específica é forte, tem significado. E ao contrário do que possa parecer, não foi o que me motivou a escrever isso, mas eu achei que seria uma boa introdução ao assunto.

Dito isto, hora de ir ao ponto: “eternidade”. Palavra bonita, com certa sonoridade poética, até mesmo seu conteúdo parece meio lírico, mas alguém realmente consegue entender o que isso significa? É tangível que prometer um “pra sempre” é mentiroso e que esse “pra sempre” vai existir até muito depois de nós termos morrido?

Mudemos o foco então: “por toda vida”. Alguns ainda diriam “até que a morte (n)os separe”. Ainda assim me soa mentiroso, mas ao menos mais palpável. É fácil prometer “vou estar sempre aqui”, “nunca vou te trair” e seus congêneres, são apenas palavras, basta ter boca para dizê-las (e não, piadas sobre mudos não são cabíveis no contexto).

Eu não creio que pessoas mudem, então o que eu vou dizer pode soar meio incoerente com essa (des)crença, mas não é. As coisas mudam, as nossas opiniões mudam (e quem não muda de opinião morre, isso é um fato) e, mais que isso, o que nós sentimos por alguém muda. Não pela pessoa mudar, mas porque sentimentos são baseados em retratos que nós pintamos sobre alguém, e conforme se conhece alguém, esses retratos acabam por mudar suas cores, a paisagem muda.

Os sentimentos em si, justamente por essa troca gradual de paisagem, acabam tendo sua própria mudança gradual, seja ela negativa ou positiva. Algo bonito pode virar algo feio, ficar mais belo ou apenas mudar de aspecto, ainda mantendo sua beleza inicial. Amizade pode se tornar ódio, ganhar contornos de amor ou, na melhor das hipóteses, agregar à amizade original os tais contornos de amor. E o amor também pode acabar, mas se tornar companheirismo e amizade, tendo a honestidade como fundação.

É algo complexo demais para ser compreendido ou prometido como imutável. Prometer a eternidade (ou uma vida inteira) é uma promessa tão segura quanto passar a vida dizendo que o dia de amanhã não será nublado. Por algum tempo até pode parecer um acerto verdadeiro, mas eventualmente uma nuvem vai encobrir o sol e a verdade acaba surgindo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Rio Escasso

Há um semi-vazio entre o sim e o não, é ali que sua voz tremula
A quase escuridão onde você fica quando não sabe o que sente
Você não sabe o porquê, mas ainda assim sua pulsação pula
Há um ruído agudo em seus ouvidos da voz que se faz ausente

O desconhecimento da sua própria carne e a presença da desilusão
São partes constituintes daquilo que você não sabe ser
As pétalas da flor que nasce após a dolorida cicatrização
Tem o mesmo aroma doce da luz fria de um dia a amanhecer

A sua parte que não faz parte porque você não a enxerga
A mão que acaricia enquanto também apunhala ao fim do abraço
Palavras são as chamas que tem a origem na sua entrega
Ao sentimento que flui como nascente em direção ao rio escasso

E é nesse preciso momento de indecisão que o rio transborda
Deixa nascer a vida onde antes não havia mais que seca
E o fio de esperança que é o que antes parecia o fim da corda
Existe apenas por existir, não perdoa e também não peca

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A Árvore Que Cai

Tal qual o pecador que já não se arrepende
E desistiu de fazer o sinal da cruz
Como o cego habituado à total escuridão
E que não tropeça em sua falta de luz

Eu me acostumei à ausência de vozes
E ao beijo seco e sem gosto do silêncio
Ao som da minha respiração una
A única que contradiz meu contra-senso

Sem mão alheia para aparar a lágrima
É irônica a completa falta de razão para ela
A sensação parece a de encarar uma parede
Indefinidamente esperando que se torne uma janela

E sabendo que mesmo que ela existisse
Luz não seria o suficiente para ver a paisagem
Não haveria nem sinal de sol no céu
Sem projetar sequer sombra da própria imagem

E quando se corrompe a auto-compreensão
O que resta são apenas as marcas na parede
Rasgadas a mão e tingidas de vermelho
Servindo de prova para o que a alma pede

Em cada um dos gritos que não recebe resposta
Como a árvore que cai na solidão de uma floresta
A súplica por uma resposta, mesmo que negativa
O rogo encarecido por uma mera fresta

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

No Escuro

No meio de todo este barulho
Gritamos tão alto que não ouvimos nossa própria voz
E mesmo com tantos ao nosso redor
Tantos rostos sem expressão, ainda estamos sós

Sinto falta de algo em minhas mãos
Mas talvez eu apenas sinta sede por algo novo
Ansiando por ser saciada de uma vez
Ou talvez seja um antigo problema que eu não resolvo

O vazio que corrói aquilo que não existe
Talvez seja apenas a vontade de sentir novamente vontade
A solidão que parece se auto-completar
Traz a saudade de sentir mais uma vez saudade

Tudo isso aqui parece tão pouco
Em um momento que parece durar uma eternidade curta
A cicatriz dura mais tempo que a ferida
Mas não é sucifiente quando a alma não luta

Sem voz, o grito não quebra o silêncio
E sem o primeiro passo, o caminho ainda fica no futuro
A vela pode passar um aeon em sua mão
Mas se não acendê-la, você permanecerá esse aeon no escuro