domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mutabilidade

“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o ‘pra sempre’ sempre acaba?”. Não sou um grande fã do Renato Russo, mas essa frase específica é forte, tem significado. E ao contrário do que possa parecer, não foi o que me motivou a escrever isso, mas eu achei que seria uma boa introdução ao assunto.

Dito isto, hora de ir ao ponto: “eternidade”. Palavra bonita, com certa sonoridade poética, até mesmo seu conteúdo parece meio lírico, mas alguém realmente consegue entender o que isso significa? É tangível que prometer um “pra sempre” é mentiroso e que esse “pra sempre” vai existir até muito depois de nós termos morrido?

Mudemos o foco então: “por toda vida”. Alguns ainda diriam “até que a morte (n)os separe”. Ainda assim me soa mentiroso, mas ao menos mais palpável. É fácil prometer “vou estar sempre aqui”, “nunca vou te trair” e seus congêneres, são apenas palavras, basta ter boca para dizê-las (e não, piadas sobre mudos não são cabíveis no contexto).

Eu não creio que pessoas mudem, então o que eu vou dizer pode soar meio incoerente com essa (des)crença, mas não é. As coisas mudam, as nossas opiniões mudam (e quem não muda de opinião morre, isso é um fato) e, mais que isso, o que nós sentimos por alguém muda. Não pela pessoa mudar, mas porque sentimentos são baseados em retratos que nós pintamos sobre alguém, e conforme se conhece alguém, esses retratos acabam por mudar suas cores, a paisagem muda.

Os sentimentos em si, justamente por essa troca gradual de paisagem, acabam tendo sua própria mudança gradual, seja ela negativa ou positiva. Algo bonito pode virar algo feio, ficar mais belo ou apenas mudar de aspecto, ainda mantendo sua beleza inicial. Amizade pode se tornar ódio, ganhar contornos de amor ou, na melhor das hipóteses, agregar à amizade original os tais contornos de amor. E o amor também pode acabar, mas se tornar companheirismo e amizade, tendo a honestidade como fundação.

É algo complexo demais para ser compreendido ou prometido como imutável. Prometer a eternidade (ou uma vida inteira) é uma promessa tão segura quanto passar a vida dizendo que o dia de amanhã não será nublado. Por algum tempo até pode parecer um acerto verdadeiro, mas eventualmente uma nuvem vai encobrir o sol e a verdade acaba surgindo.