quinta-feira, 28 de julho de 2011

Apenas Mais Um Sonho

Era uma madrugada fria e ela recém havia acordado de um sonho. Ainda não sabia se era um sonho bom ou ruim, só que ele havia perturbado seu sono. Lembrava-se pouco dele, mas, mais que qualquer coisa, lembra-se que queria esquecê-lo. Sabia que se tratava de mais uma daquelas coisas que ela queria deixar pra trás, mas sua cabeça adormecida continuava a dar vida.

Talvez tivesse sido a lembrança da última conversa com seu pai, quando ele disse que ela era uma decepção, mas ela não teve a coragem de dar uma resposta, apenas fechou os olhos para impedir que alguma lágrima imprópria escorresse e deu-lhe as costas. Talvez tivesse revivido o momento que sua melhor amiga havia se mudado pra outro estado, indo embora junto com a promessa de manterem contato. Talvez as memórias de todas as vezes que seu ex-namorado disse que eles não eram certos um pro outro. E não eram, mas não era aquele o momento que ela queria para descobrir isso.

Eram tantas as coisas que ela não queria lembrar e tão poucas as que podiam ocupar sua mente para que isso não acontecesse. Uma cama com a outra metade fria, só uma escova de dentes no banheiro, um apartamento de dois quartos com apenas um ocupado. Ela se perguntava como poderia haver tanto espaço vazio num lugar tão pequeno. E isso se aplicava ao seu coração também.

Não descobriu. Aquilo foi apenas um momento de lucidez, daqueles que se tem durante a noite, vira-se para o lado e continua a dormir. E mesmo após alguns outros sonhos ruins, foi apenas mais uma noite de sono.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sobre os Sorrisos e os Desamores

Nesse mundo
Prefiro ser poeta
A ser sensato:
Os sensatos se dizem felizes
Enquanto compram, riem e se distanciam
Em nome de toda aquela sujeira que eles produzem
E que nem sequer tem coragem de engolir.
Enquanto aos poetas? Ahh, os poetas!
Esses se despem sem pudor
Libertam-se, gritam pelo mundo
Destroem suas ilhas imaginarias
Tornando-as continentes.
Em verdade, só os sensatos podem ser tão serenos
Eles não se mexem, não se olham, não se tocam...
Mas mesmo assim acreditam não serem malucos
Pois nós, os poetas, é que recriamos os desamores
Fazendo dos amores malucos uma simples sugestão de como sorrir.
Mas a lucidez é reproduzida numa ilha
Onde habitam as fábricas de amores
Delas saem a sensatez, o egoísmo e a falsidade
Que fazem do mundo ilhas cada vez mais caducas.
Mas a poesia não conta apenas a nudez
A insensatez
E os amores do mundo...
E se o planeta não fosse feito de ilhas
A poesia não seria uma ponte para abismos incertos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Assim Seja

Versos ao poeta
O destino na hora certa
É tudo que você tem

Versos ao vento
Gritos ao relento
Você e mais ninguém

Sonhos às estrelas
Almas que querem sê-las
Tocarão um réquiem

Anjos aos pecados
O destino foi encerrado
Diga então amém

terça-feira, 19 de julho de 2011

E se for pra viver...

Não foi porque te arranquei um sorriso qualquer
Que eu quero você
Eu não sou tão doce e amável
Quanto seu tesão queria que eu fosse
Não tenho culpa se o chão gira
Porque minha saliva é feita de ácido
Se eu não consumi sua língua
Então não venha lamentar sua dor...
Não me marque com ferro quente
Se não doer você estará perdido.
Não vale a pena expor seus órgãos à pólvora
O que vai ruir são fogos de artifício
(É o preço que se paga pelo esforço
No espetáculo do fingimento.)
Mas eu sei que tem fogo aí dentro
Ainda dá tempo de fazer ferver
Não se preocupe em cuspir chamas
A carne já apodreceu
Se não destruir o corpo
Seja bem-vindo a mais um dia de vida
E se for só pra viver
Por que não?


Sour .

domingo, 17 de julho de 2011

Céu Rubro

Vou dormir sob a luz da lua
E sonhar com teu rosto sem pedir permissão
Pedirei perdão a cada anjo que não vejo
E encontrarei teus olhos em meio a escuridão

Pintarei o céu em vermelho
E serei a mão que desenha a linha no horizonte
Apenas para que teus olhos
Não se apaguem de dentro da minha mente

Fingirei que ainda há paz
E fecharei meus olhos sob o céu rubro
Encontrarei teu rosto em cada nuvem
A cada um dos céus que eu descubro

Fluirei em cada gesto teu
Estarei em tuas veias, em cada gota
E ambos seremos pingos
Nas chuvas que regam cada flor morta

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Super-Heroína, Super-Kamikaze


Por vezes quando acordo de um sonho, tenho uma sensação tão confortante... Como se fosse um alívio aquilo não ter acontecido. E ali, deitada na cama, eu consigo simplesmente respirar fundo e repetir para mim que aquela dor é de mentira, é uma peça que a vida pregou em mim, por isso não tem nada a ver comigo.
Mas, bem no fundo, eu sei que estou enganada, sei muito bem que as piadas da vida são profundamente verdadeiras. Sei que tudo isso é sobre mim, sobre minhas crenças e meus desejos. Sobre como eu me sinto: sobre o conforto e a angústia diante de uma coisa tão crua que é um sonho. Sobre as noites sem sono e o medo de pensar naquilo novamente. Sobre desejar que aquilo seja (ou não) real. Porque acho que quando as coisas são reais elas são mais amenas. Quando é real, a ferida consegue cicatrizar. Parece que elas se camuflam, como uma proteção natural que permite que elas continuem existindo. E, por conta dessa proteção, é fácil aquela angústia sumir de você. Mesmo que você deseje que não tenha sido mesmo do jeito que você vê, ou que a realidade daquilo te pertença até se se tornar insuportável, a carne que a dor come não é tão fresca que não possa regenerar-se.
As pessoas que participam da vida da gente podem sim acrescentar, mas elas são tão potencialmente perigosas que por vezes eu preciso parar pra pensar se realmente vale a pena abrir a porta, porque não sei o que ela vai me dar quando tirar a minha vida do lugar, e levar aquele pedaço de mim que eu tenho desde sempre. Como se as pessoas existissem pra serem nocivas. Pra serem ameaçadoras. Isso me faz pensar no quanto que eu posso sofrer, o quanto eu possivelmente ainda vou sofrer. Me mostra que a minha dor pode estar sendo pré-fabricada. E pior: por mim mesma. Tudo aquilo que cicatriza, tudo aquilo que não é nu, tudo aquilo que é envolto em alguma máscara ou névoa, cada coisa dessas deixa o sentimento tão dormente, tão esquecido, que essa distância fica alheia a mim. Como se, por eu haver esquecido, eu simplesmente tivesse que reaprender tudo e, pra isso, cometer o mesmo erro outra vez. Sempre e sempre. Porque quanto mais dói, quanto mais profundo é o corte, maior é a necessidade de cicatrização. O ser humano é frágil demais pra manter uma ferida aberta, uma dor exposta. E eu não sou tão forte assim, as pessoas é que dizem tanto que eu acabo acreditando nisso. E tentando dar uma de super-heroína. Na verdade, sou uma super-kamikaze. Daí, quando aquilo se torna completamente dormente e alheio, quando eu finalmente esqueço as marcas da cicatriz, as coisas simplesmente voltam a acontecer: as marcas se apagam, a dor some.
Acho que isso é sobre a dor de sentir, sobre acreditar que sonhos são realmente sonhos, quando na verdade não é nada daquilo. É para pensar sobre como os sonhos são meus, é pra mostrar que eles me identificam, me nomeiam, me preenchem. Para eu saber que a realidade dos meus sonhos vai me perseguir mesmo quando eu abrir os olhos. Isso é porque eu sei que eu só sou eu quando eu sonho. Que eu só me permito de verdade, com sobra, porque é um sonho. Porque no sonho, é mágico. É leve, é cheio de sorrisos que flutuam. Porque eu nunca vejo os dentes pontudos da censura e as enormes garras da culpa que vão me marcar e devorar minha liberdade. E não é fácil correr o risco. Não é fácil pular de abismos só pra sentir a adrenalina do vôo. Mas eu o faço mesmo assim. Ainda assim eu me permito fazer, me permito falar, me permito trazer os sonhos pra realidade, mesmo vendo que tem espinhos no fundo do caminho, prontos pra me furar. E pelas costas.
Mas a (minha) vida é assim. É meu bem, agora que você limpou toda a bagunça que existia dentro de você, vai precisar de alguém que bagunce tudo novamente. Essa dor nada mais é do que a busca pelo conforto. Para sair de um poço é preciso entrar nele. Afunde, se afogue, vai pela sombra. E sabe, existe certa vitalidade nessa quase-morte. É isso faz você se sentir viva, eu sei. Vá em frente, viva. Pague o preço, caia. Alguém tem que sofrer ceder. Deixe que sangre, deixe que doa. Quando a ferida cicatrizar, será a hora certa. Siga em direção a luz, você vai se reerguer. Agora saia de casa e cometa o mesmo erro, apenas pra se sentir viva.
SweetieBloody .

domingo, 10 de julho de 2011

Será que é?

Acho que todo mundo algum dia já se pegou pensando aquela velha frase: "Será que é amor?". Qualquer ser humano com sentimentos já teve essa dúvida. Então, se você é um psicopata, pare já de ler esse texto.

Mas o que tem de tão difícil para dar esta resposta a si mesmo? Simples, não há um manual, não existe uma lista de pré-requisitos onde constam todas as coisas que um sentimento deva possuir pra ser chamado de amor. Ele não é algo simples de perceber, apesar de ser algo fácil de sentir.

Além disso, nós ainda temos um processo de negação natural a essa palavra. "Amando? Eu?! Nunca!". Ou seja, além da dificuldade de se perceber, ainda existe a dificuldade de admissão. Mas acaba por ser irrelevante o nome que se dá ao sentimento. Afeto, amor, carinho, tanto faz. O que importa é sentir, não negar que se está sentindo e não fugir do que é óbvio.

No final das contas, acho que a resposta mais certa pra pergunta "Será que eu estou amando?" deve ser "Não sei, me diga você.".

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Nós Sempre Teremos Vienna

Obediente, educada, aplicada. Aparelho nos dentes, óculos e cabelo partido ao meio. Mais esperta que a maioria dos adultos. Assim era a pequena Dora. Sabia muito bem um dos principais elementos da felicidade: sabia como sonhar. Passava os dias na biblioteca do pai. Gostava dos livros, especialmente os mais antigos. As traças não a incomodavam. O importante é que viajava para o local mais bonito de que se tinha notícia. O importante é que estava em Vienna. Em meio aquela imensidão, Dora esquecia que tinha dez anos, que era só uma garotinha. Lá, poderia ser rainha. Rainhas tinham tudo o que queriam. Pareciam felizes. Diversas vezes os adultos diziam que se tivesse dinheiro poderia ter qualquer coisa. E aí ela acreditou. Ela sabia sonhar. Sonhando poderia ter tudo, e queria tudo. Já dizia sua mãe: só os bobos ficam satisfeitos.
Mas cresceu. Cresceu e esqueceu como se sonha. Rapidamente tornou-se bem-sucedida nos negócios. Aos vinte e seis era Theodora Assunção. Tinha tudo, mas não era como ela pensava. E agora, Dora? Agora quis recuperar seu tempo, mas não havia como. Ligações e mais ligações, pessoas falando. Trabalho. Agora que era adulta perdeu os sonhos de vista. E, junto com eles, o caminho para Vienna.
Teve medo de como seria dali pra frente. Provavelmente pioraria. Eram muitos papéis na mesa de jantar. Muito papel e pouca comida. Muitos jornais diferentes em cima da cama. Só jornais, nada mais. Não tinha filhos, marido, um namorado, um amante, um amigo. Nem um cachorro, ou um amigo imaginário. Sequer sabia o nome da diarista. Não sabia o que fazer. Ligou a TV, ligou o som, abriu a geladeira. Mas a casa continuava silenciosa. E escura. Quis chorar, mas estava atrasada. Se chorasse, borraria a maquiagem. Não tinha tempo para desenhar uma nova fisionomia. Se continuasse com medo enquanto dirigia provavelmente iria bater. Se sofresse um acidente, se atrasaria mais ainda para a reunião. Não tinha tempo para chorar. Nem para acidentes. Havia escolhido o lado errado da verdade. Realizou alguns sonhos, mas não todos. Envelheceu e não teve o que quis.
Mas aquilo era loucura. Decidiu que precisava de um tempo fora do ar. Permitiu-se alguns dias, voltou pra casa. Tirou os telefones do gancho, desligou os celulares, e jogou todos os papéis na lata do lixo. Deitou-se na cama e olhou para o teto. Entendeu que não custava nada sonhar, mas custava realizar sonhos. Poderia voltar a sonhar naquele momento, mas nem tudo seria realizado.
Aquela garota havia crescido demais. Sentiu-se velha, fim da linha para ela. Decidiu acabar com grandes mudanças antes que perdesse o que já tinha. Afinal lutara tanto, já tinha um bocado de coisa. Bastava. Não era das melhores, mas era sua vida. Olhou para o lado, viu uma foto da falecida mãe. Lembrou-se que nem sequer teve tempo parar chorar sua morte. E chorou lá mesmo na cama. Começou a lembrar das mãos macias que a mãe tinha, do cheiro da lavanda que ela usava. Do doce de banana que ela preparava, e que ela nem sequer pegou a receita. E lembrou-se de que só os bobos ficam satisfeitos. Não poderia desistir na metade do caminho.
Ainda tinha sonhos, ainda tinha ambições. Ainda queria um amor de verdade. Queria filhos e um lugar para ser ela mesma. Não seria fácil, mas valia a pena. Decidiu recomeçar: poderia diminuir o trabalho, voltar a comprar doces e caminhar mais pela rua. Talvez na chuva. Viver um dia de cada vez, uma hora de cada vez. Devagar. Vasculhou pelas opções que tinha e procurou um caminho. E reencontrou. Um caminho apaixonante. Afinal, ela sempre teria Vienna.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amor Inimigo

Sonhos roubados por mãos feridas
Dilacerados enquanto ainda há vida
Me abrace e me beije, seja boa comigo
Seja pra sempre efêmero, meu amor inimigo

Mentiras pequenas em bocas sem coração
Ditas enquanto ainda havia algum perdão
Se afaste, vá embora, não ouça o que eu digo
Seja pra sempre efêmero, meu amor inimigo

Compaixão e ternura, braços sempre abertos
Sinto culpa sem ter feito, nunca estive tão incerto
Lhe ouço com toda atenção, mas separo o joio do trigo
Seremos pra sempre efêmeros, meu amor inimigo

Vou estar sempre lá, e respondo pelo que fiz
Continuarei tentando, mesmo com um sorriso infeliz
Me dê sua mão e eu ainda lhe sigo
Seremos pra sempre efêmeros, meu amor inimigo