quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Verdade Oficial, Mentira Real

Enquanto remexia nas fotos antigas, prestes a serem encaixotadas, lembrava dos dias que teve, do cheiro dos doces que comia escondido da mãe no fim da tarde, de como era quando criança. Pensava que a criança que via era só uma criança, mas isso havia mudado. Crescida, empregada, ocupada e devidamente munida de desculpas para fugir de si, chegar em casa era a pior parte. Não que a casa fosse a culpada, era uma boa casa, feita para a mulher respeitada e respeitável que era.
Mas mesmo nos negócios ela era o que era: conhecida pela ousadia e pela coragem, ela era temida, não amada. Nunca havia sido amada, essa era a triste verdade. A verdade que encontrava em casa, e nenhuma casa mudaria isso. Os negócios começavam a lhe fazer mal, tudo que ouvia e que era levada a dizer a fazia pensar no que era em casa. Era triste, mas não realmente infeliz. Não o tempo todo, só quando pensava nisso. Enquanto deixava a casa pra trás, deixava toda a tristeza.
Não deixaria. No fundo, ela sabia disso. Sua impaciência, sua intolerância, toda aquela implacável coragem que a fazia ser a líder que era, estava encaixotada. Mas o pior de tudo era o medo. Via nas fotos e nas lembranças o quanto tinha fugido a vida toda, via a mentira que era. Seus olhos vazios pareciam não sentir nada. Enquanto era o que era, enquanto devorava suas chances com desculpas e promessas de sábados à noite no escritório, ela mesma ficava para trás. Olhava-se no espelho e sentia medo do que tinha, da tristeza pelo que não tinha e medo de nunca sair dali. Era o que sabia, mas pouco importava (a não ser quando parava pra pensar naquilo). Os sábados à noite (assim como todos os outros dias e horas da semana) pertenciam aos papéis, à empresa. Ela mesma pertencia à empresa, há muito não podia negar. E pra ela estava tudo bem. Mas não estava. Perto dos trinta, nada está. Estava satisfeita em conhecer papéis e não pessoas, e tinha uma desculpa também pra isso. Era as pessoas, o mundo inteiro. Culpava a humanidade por ter medo. Sua vida não era nem nunca foi realmente sua, e nada no mundo seria. Encaixotava a casa inteira numa busca desesperada de algo que não teria.
Fora dali o mundo era o mesmo, e nunca era dela. Mesmo um mundo covarde não pertence aos covardes, e era o que ela era. Covarde. Um poço de covardia, pelo menos dentro de casa. Sentia-se um eterno pedaço mecânico de restos, sem aquela... coisa que as pessoas tinham. De acreditar nisso, aquela era a verdade oficial. A verdade era que, o tempo todo, vivia de trocar elogios com esposas de cartões de crédito, que gastava sua pouca paciência com delicadezas capazes de se esgotar com duas frases. A verdade era que não tinha paciência nem delicadeza, e sabia disso. Todos sabiam, e ela havia aprendido a ser o que era, pelo menos oficialmente. E aquilo bastava, porque tudo que tinha era um terninho importado, um carro importado, uma vida inteira que vinha do mundo que rejeitava, e nada dela era dela, vinha dela ou seria dela.
Encaixotava livros, embalava discos e cobria quadros, pois estava de mudança, e era oficial agora. Aquela casa lhe fazia mal, mas qualquer coisa que lhe desse tempo pra pensar, lhe faria. Era a venenosa que os grandes empresários temiam, era os pés que sustentavam a empresa, o sucesso perfeito para a diretoria. Um futuro promissor para o mundo que rejeitava e que a rejeitava, e ela sentia isso, numa verdade extra-oficial. Era aquela mulher vazia no espelho que esvaziava a casa, preenchida pelo medo de si. Sentia-se protegida, acima do mundo que rejeitava, acima das pessoas que odiava só por serem pessoas, e abaixo do que queria pra si, mas não admitiria. Estava satisfeita com a vida e não era infeliz. Não oficialmente.
Não havia nada ou ninguém que mudasse aquilo, era a feliz mais infeliz que jamais conheceria, e alguém que ela não tinha sabia disso. Ele sabia que, dentro dela, sobrara um pouco da menina que foi, e que, mesmo a mulher que era oficialmente, era só uma mulher, e era o que ela sempre seria pra ele. Era quem sabia dos sábados à noite, das férias que nunca tirava, do eterno feriado que seu coração lhe deu. Era o que era, era o desconhecido que ela rejeitava, que a procurava e que não cansava de querer estar com ela. Era agora o que fazia as malas e ia embora da vida da mulher doce que era só o que era. Era sua última chance, e estava fazendo as malas. Não tinha medo ou pena, mesmo que desejasse tê-lo. Só estava cansado, estava exausto do que sentia quando ela se esforçava pra se ser oficialmente. Tinha fé no próximo a não acreditar, mas ele acreditaria. Estava fazendo as malas e iria embora do desejo tolo de ser dela um dia. Cansou dos sábados à noite e dos papéis dela, e iria embora. Ela encaixotava toda a sua vida de casa em casa, e pra sempre o faria. Se mudava também dele, e as teias que tinha no espaço reservado aos sentimentos que jamais dedicaria ao rapaz também iam embora.
Olhava as fotos do quem era, olhou o terninho, os papéis, olhou em volta e se sentiu pronta pra ele. Pronta pra ser extra-oficial, mas não teria outra chance. Nem forças. O que restara do rapaz agora pertencia ao mundo que ela rejeitava. O que sobrou dele estava preso na geladeira, num pedaço de papel com uma promessa de voltar algum dia. Estava só, era oficial agora. Ela tirava sua vida das caixas, a casa não a mudaria. Nem mudaria a casa. Abriu o jornal, amanhã era sábado à noite, um sábado tão distante quanto sempre foi. O telefone não tocou e suas desculpas estavam tão ultrapassadas quanto ela. Olhou as fotos, não tinha nada mais que aquilo. Agora sua vida seria feita de um passado alegre que sabia que existiu, mas que não lembrava como sentia. Aos poucos esquecia quem era, e não se culpava por isso. Se esvaía na sua felicidade de papel, enquanto se tornava a mulher poderosa que você verá no caminho para o trabalho, e que nunca conhecerá de verdade.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Perfeita

Abra seus olhos e seu peito
Entenda de uma vez que há um mundo lá fora
E ele só não te entendeu até hoje
Porque você mesma ainda se ignora

Aquele mesmo mundo que te exige
Ele não pede e não implora
Ele simplesmente demanda de você
Tudo que você foi ontem e é agora

Não é um mundo perfeito
Muito menos doce e que te adora
Mas você é mais perfeita do que foi ontem
E amanhã será mais que outrora

Mate sua própria sede
Com as lágrimas que você chora
E saiba que mesmo não estando aqui
Eu nunca vou ir embora
Nem amanhã, nem em nenhuma outra hora

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Põe Na Conta

Da saudade.
E diz pra ela que esse é o preço
por me deixar chorar de amor.

Do amor.
E diz pra ele que esse é o preço
por me deixar viver com dor.

Da dor.
E diz pra ela que esse é o preço
por fazer me sentir viva.

Da vida.
E diz pra ela que esse é o preço
por me proporcionar tudo que sinto.

Do sentimento.
E diz pra ele que esse é o preço
por me fazer feliz.

Da felicidade.
E diz pra ela que esse é o preço
por me trazer você.

Agora pague essa conta.
Acrescente e diminua.
Seja pobre e fique rico, ou seja pobre.

Agora receba esse preço.
Diminua e acrescente.
Enriqueça, pois a pobreza já se foi.

Agora seja justo.
E receba o que merece pela vida que teve.
Cada coisa que me deu.

Diz pra felicidade
que essa conta é dela,
e ela vai pagar o preço;

Avisa pro sentimento
que ele é seu,
e você também será dele;

Fala pra vida
que te dê mais algum tempo,
e que subtraia meus anos de vida;

Manda a dor
partir à procura de quem a merece,
e existem muitos merecedores;

Para o amor
o que eu tenho a dizer é que ele existe,
e obrigada por isso;

Diz pra saudade
Que é melhor ela sumir,
ninguém a quer aqui.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Breve Alívio

Mesmo que nada valha a pena e pareça tudo em vão
Que não sobre nenhuma lembrança, apenas a negação
Mesmo que nada se confirme e não reste segurança
Que não haja um pingo de bondade ou temperança

Haverá um pouco de paz
No final, só o que sobra é um pouco de paz
Um breve alívio para a dor
Um alívio para o excesso que se desfaz


Mesmo que caiam os muros e só restem feridas
Que só se sinta dor pelas lembranças perdidas
Mesmo que o peso seja maior do que você pode suportar
Que a única lembrança seja o último olhar

Haverá um pouco de paz
No final, só o que sobra é um pouco de paz
Um breve alívio para a dor
Um alívio para o excesso que se desfaz

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Viúva-Negra

Se em meio a tudo que eu tenho está você, sem gosto, sem marca, sem cheiro; se hoje o que eu tenho é você, e cada dia menos, se esvaindo de mim, presente apenas em mim no fim da noite, se isso é tudo o que eu realmente tenho, eu não quero ter. Não quero te ter, nem quero nada: sou sua por inteiro, não quero você pela metade. Doar-se aos pouquinhos pode ser o curso normal da vida, mas que vida? Onde há um caminho só, há espaço para a marca dos seus pés junto aos meus passos; onde há espaço para um só, haverá sempre um vazio dentro de mim para você. Dentro, sempre dentro. Dentro de mim, dentro do riso, dentro do corpo, dentro do meu corpo, dentro da minha vida. Se hoje eu corro apressada atrás do fim é por saber que no final da minha estrada está você, está seu sorriso me esperando, seu olhar me perseguindo.
Se em meio ao que sou está o seu amor, o seu doce amor a me enlouquecer, a me fazer virar de ponta cabeça no parque de diversões que é você, se além da diversão está a loucura, o seu louco desejo de me ter só sua, só nua, só a mim, sem espaço pra mais nada, é esse jogo que eu escolho. Essa é a minha vida, essa sou eu, essa é pra você. Essa sou eu, assim sou sua. Sou sua você, sou sua amarga, sou sua e apenas sua, com toda a vida que me cabe em você.
E depois de me ter, de sorrir pra mim, de me fazer respirar seu ar quente, se depois de ter meu corpo quente você não quiser, simplesmente não quiser mais me ter, saiba que eu serei menos. Serei uma parte a menos, serei derretida no seu caminho, terei parte de mim ainda suja no teu corpo. Pois, de tanto ser sua, de tanto te querer, de tanto poder em mim, aquele gigante de mulher que você me tornou será apenas uma poça de doce desejo e amarga lembrança de um passado encerrado.
E se algum dia você esquecer que eu te fiz, que eu te disse, que eu te completei; se alguma hora você me disser que eu não passei pela sua vida, saiba você que você também não é vida sem mim, que seu vício-veneno não tem nada fora de mim. Saiba que metade de você também está em mim, também sou eu. Lembre-se que eu sou você, que eu estou em cada palavra sua. É bom que realmente entenda que seus passos não serão tão fortes e que você não é tão grande se eu não estiver dentro de você. Seu recheio, seu sangue, seus órgãos pulsantes são meus, são eus, são só.
Alguma hora você vai me ouvir gritar, vai me ouvir respirar, vai me ouvir te atormentar a noite e te falar baixinho de dia; Algum dia você vai dar ouvidos a voz e vai saber que sou eu dentro de você, pulsando entre as sombras, morta aos poucos Mas não antes de você. Todos os minutos da sua morte, todo o tempo que você não viverá sem mim, saiba que eu estarei em você, cuidando para que não seja doce, e você saberá que nunca será doce como foi, que nenhuma mulher sou eu, é como eu ou terá nada de mim. Você sabe que cada gota do seu sangue-veneno será amarga e nociva para você também, que eu poderei te matar também, e o farei. Saiba que cada passo que você der sem mim, será um passo de morte e para a morte, que meu veneno estará em todas que você tiver, em cada beijo seu, em cada olhar que você receber.
Saiba que eu te condeno, que eu te mato, que eu te tenho e que sempre te terei. Saiba que você é meu e eu sou só sua e cada marca que seu corpo tiver será por mim, todos os beijos que você der, serão meus, saiba que eu sou você agora. Eu sou sua e estou em você, e você é meu. Saiba que eu também te tive, eu também te fiz, eu também te dei vida, te dei desejo e te tornei meu. Saiba que eu sou sua e somente sua, e sou viva só em você. Só pra você, só no seu corpo, e minha doçura está guardada pra você. E você é meu, você será meu, em meio ao sangue e à saliva: seu corpo, seu gozo, seu veneno-desejo é nocivo e é meu. Está em mim, e meu veneno, meu corpo-veneno, está em cada pedaço de você, te matando enquanto te dá vida. A vida que você quer, a vida que você tem, a vida da qual você nunca se arrependerá, pois não tem escolha. O veneno já foi derramado, o perfume já foi espalhado, a morte já deu seu primeiro passo, e depois que você me quis, que você me escolheu, que você me teve, sua vida não será a mesma. Eu sou sua viúva-negra, sou sua perdição, sou a escolha ruim da qual você nunca se arrependerá. Depois de mim você quererá a morte, você me quererá cada vez mais. Eu sou cada um dos seus vícios, caminhando na sua direção, à espreita na penumbra. E eu tomei conta de você, agora seu corpo é meu e você está preso a mim. Agora o veneno é sua vida, é sua única forma de vida, é a sua morte, é a sua única opção. Me deseje. Me tenha. Me satisfaça. Se prenda, se marque, se perca. Você é prazer, e seu prazer é meu.

SweetPoison .

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Panacéia Perversa

Seus lábios são tão doces quanto uma doença
E sua ausência tem gosto de cura
O julgamento por trás dos seus olhos fechados
E o abraço que não me segura

A boca fechada que nunca me responde
Me pergunta agora o que há de errado
Eu não sinto mais o gosto do seu olhar
Nem vejo as cores do seu palavreado

E talvez eu goste do momento
Que precede o instante em que a alegria se dispersa
E talvez eu prefira o gosto da doença
Toda vez que a panacéia for perversa

Talvez eu prefira definhar
Do que beber o elixir de gosto amargo
Melhor saborear o tom doce da sua voz
E morrer aos poucos do seu lado

Você me atira ao fogo
E sempre espera que eu saia ileso
Mas por mais que eu abra a boca
Meu grito continua preso

Talvez por isso você não saiba da dor
E não entenda o que há de errado
É que eu nunca mais senti seu gosto
Nem entendi o seu palavreado

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Devo dizer,

seu toque me faz ter arrepios. Pensar em você me dá medo, e eu gosto desse medo. Gosto de você. Eu acho que deve ter algo perdido no meu coração pra você. Isso aqui passou em todos os modelos de sentimento que eu imaginei, mas não se encaixou em nenhum deles. Não sei bem como é, isso de sentimento, eu não sei. Nunca usei. Mas ainda me dá medo, tenho medo do que tem perdido aqui, e que é seu."
Não quero amor de poeta, nem quero amor de jeito nenhum. Sem poesia, sem incerteza.
(E olha que eu nem costumo gostar de segurança. Adrenalina, energia, essas coisas. Mas esse amor, esse sentimento que as pessoas falam, esse negócio que os poetas não conseguiram decidir ainda se dói ou se não dói, eu tô tentando deixar passar. Não, não quero amor de poeta. Assim, liberto.)

Com aqueles olhos, aqueles grandes olhos, ele simplesmente sorri. Ele se aproxima, ela recua. Ele tenta não se aproximar mais, mas as pernas não atendem. Estava bem, estava tranquilo e feliz. Com o ego alimentado, mas nada mais que isso passava por ele.
E aquela mulher, aquela menininha assustada, simplesmente se corroía e se destruía por dentro. Não deveria ter dito nada daquilo, e tinha aquelas esperanças (sem sentido) de que ele não tenha entendido nada. Mas ele havia entendido. Ouvido, entendido, sorrido, e vindo. Sorrindo na direção dela, e aquilo a fazia tremer. E enquanto ele pedia pra ela se acalmar, enquanto ele falava qualquer coisa que ela não queria ouvir, ela se distraía com a idéia daquilo ser um sim, mas não era. Então seus sentidos ficaram inevitavelmente presos aquele momento, e ele simplesmente a lembrava da poesia, e de como o amor seria inevitável ali. Então ela alcançou algumas palavras, que deixaram de dançar no ar e caminharam em fila até ela.
"Você pode não querer amor, mas sei que você adora poesia. Já sei, conheço seu corpo, sua mente. Te conheço por dentro e por fora. Sei que você é feita de poesia, sei que as letras e as palavras deslizam por você sem medo. No seu corpo não existe a palavra medo."

Ela quis dizer alguma coisa, quis correr e apagar aquele momento da vida dela. Não devia ter dito aquilo. Não devia ter ido até ali, mas agora não tinha mais escolha. Ela respirou, mas permaneceu (tremendo) no mesmo lugar. Aqueles trinta segundos pareciam eternos, e ela pensou em como a vida dela tinha sido jogada fora. Era verdade, ele conhecia seu corpo, a conhecia. Ela sabia, ele sabia,os dois sabiam o que sentiam, mas ninguém se importava com isso. Até o sentir sair penetrando na carne dela e contaminar todo o corpo. E ela, indefesa, pegou o telefone, trocou algumas palavras com o rapaz, e o resultado era aquele. Não se lembrava como tinha chegado ali, simplesmente parara no tempo. Renasceu, precisava daquilo. Tudo que fez em sua vida se tornou pequeno diante daquele segundo de coragem. Se arrependera, mas estava orgulhosa de si.
Parou. Olhou. Respirou novamente. E, dessa vez, ergueu os olhos pro rapaz, que não era muito atraente, só pra ela. Percorreu os olhos pelo rosto, desenhou o corpo do rapaz com os olhos. Andou dois passos, do jeito que conseguiu. E, com uma dormência insuportável no coração, abriu a boca, e ele ouviu sair daqueles grandes lábios apenas algumas palavras.
Ela pensou, ela o olhou, ela entendeu a situação, e disse: "Eu quero você, mas não quero nada disso".
Por alguns segundos, aquilo não fazia sentido racional nem pra ela. Mas, lá dentro dos seus órgãos infectados pelo amor, pôde saber que não queria, que se recusava, na verdade, a caminhar mais um passo que fosse na direção do rapaz. Pensou e, racionalmente, viu que tinha uma opção. A vida dela não iria mais se cruzar com a dele, e essa é uma daquelas histórias ruins de desamor.

(Acho que a mulher, a menina indefesa, conseguiu sentir por um segundo tudo o que os poetas sentem quando escrevem seus contos de amor. Sentiu, mas passou, e ela estava decepcionada. Pra quê amor? Não sabia, não importava, e a vida dela seguiria. Sem amor. Aquilo de amor, ela não queria. Não sabia, não sentia. Não daria mais uma gota do seu sangue por uma pitada de satisfação num mar de dor. "Se quiser esse amor, fique pra você". Sentir é para os loucos, afinal).

Sour .

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Curativo Entre Escombros

Me deixe descansar minha cabeça em seus ombros
Esquecer de tudo que já me feriu
Meu curativo entre escombros
Sol de setembro em pleno abril

Um sol que se esconde entre nuvens
Uma luz pálida e sem calor
Mais que suficiente para iluminar
A minha ilusão sem nenhuma cor

Me deixe descansar minha voz um pouco
E ficar mudo ao seu lado por um instante
Permanecer de olhos fechados apenas dez minutos
E fingir que a vida é algo distante

Pois sem vida não há morte
E se não houver morte, não haverá dor
Sem morte não há pesadelo, nem sonho
Apenas uma ilusão sem nenhuma cor...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Talvez ou Quando

Talvez não seja hoje nem amanhã. Talvez demore, talvez nem aconteça. Mas acredite. Assim como eu, acredite no dia em que sentirá algum apreço pela imagem no espelho. Algum carinho pelo seu próprio rosto. Acredite, torça pelo dia em que uma onda de tristeza será só uma lembrança distante. Realmente distante.
Se algum dia você conseguir sentir alguma paixão, alguma não-dor, se algum dia você abrir os olhos e pensar em alguém de uma forma doce e feliz, simplesmente saia de casa e diga-o. Diga pra alguém que essa pessoa é capaz de te trazer felicidade, que ela te traz felicidade. Diga a esse alguém que você o ama. Diga agora, diga a verdade. Ou não diga mais, e espere a próxima oportunidade, frustrada e triste, diminuída e diminuindo. E não pense que não pode ficar menor, porque sempre pode. Sempre pode ser triste, sempre pode ser pequeno, sempre pode haver um sorriso nada sincero ali no meio. Aprenda que sorrir não vai apagar a tristeza. Tristeza é mais forte do que um risco, e não é uma borracha que vai apagar. Não existe nenhuma satisfação em nada disso, pelo contrário. É um dos momentos em que eu desejo com toda a minha energia, que eu imploro a quem quer que se responsabilize por isso, que me deixe completamente dormente. É a hora de pedir de volta o meu sentimento de inumanidade, do não-sentir, do não-ser, do não-saber. É a hora de trocar um problema pelo outro, como causar uma dor de cabeça para diminuir a dor do coração. Uma mera questão de distração.
Acho que não sou boa nisso. Não sou boa em distrair, em mentir, em simplesmente fingir que não há nada. Não quer dizer que eu não tente, mas cada vez que eu digo que não há nada, meu coração se convence mais de que há algo, e aí só dificulta as coisas. Eu ainda não sei lidar com a "existência de algo", simplesmente não sei "o que", "como" ou "qual" é o próximo passo. É assim que se faz uma dor de cabeça. E de coração. Falar de dores parece fácil, parece que é só vitimizar, chorar e falar qualquer bobagenzinha. Talvez seja, e provavelmente quem fala sobre isso dessa forma fala melhor do que quem realmente sente. Falar não é como sentir, falar é diferente. Para falar é só abrir a boca, quero ver abrir o coração. Mais de uma vez. Abra seu coração uma vez e, depois do vôo livre, ele vai cair em algum lugar. As vezes não é o melhor lugar. A parte difícil é se convencer a abrir o coração novamente, sabendo que ele vai voar. As portas são suas, a chave é sua. O impedimento é seu, você escolhe o que acontece.
Depois disso, podem aparecer aqueles momentos que transformam coisas simples em coisas complexas. Ou fazem coisas simples parecerem complexas. A resposta é simples, você sabe qual é a resposta. Eu sei qual é, e se fosse só falar, seria bem fácil. Mas não é a única escolha, e cada uma delas traz muitas outras, é um coração, não uma pedra. Infelizmente não é uma pedra. Você tem medo do que pode ouvir, do que pode sentir, do que pode acontecer. Prefere que não aconteça, e tem medo de querer que aconteça. Tem medo de tudo e de todo mundo, tem medo de qualquer coisa. Acho que posso sentir alguma coisa, acho que sinto medo. Acho que sinto, e não sei se quero sentir. Poderia ser fácil, poderia deixar pra trás e correr pra frente, mas acho que a gente só deixa pra trás de verdade quando dá o primeiro passo adiante. Até lá, é só especulação e palavras usadas pra se convencer que passou.
E será que passou? Talvez sim, mas não olhar pra trás não significa olhar pra frente. Não é porque eu não choro que eu estou sorrindo. Não é porque eu não amo o passado que eu consigo amar o futuro. Que eu consigo falar sobre o futuro. Que eu consigo sentir os presentes do futuro. Que eu consigo um presente. Um presente-futuro. Estar no presente te dá duas opções: você pode olhar pro futuro ou prender-se ao passado.
Olhar pro futuro é bem uma questão de se questionar sobre a próxima frase. É saber o que vai dizer, o que vai sentir, é pensar sobre, é querer. É saber sobre o que você não quer que aconteça daqui pra frente. Ao contrário do que se pensa, é preciso estar preparado pra isso. É preciso estar organizado, capaz das coisas. É preciso saber sobre você, sobre o outro, sobre o mundo e sobre o que acontece. Mais ainda, é preciso querer tudo isso. Porque saber é fácil, difícil é fazer. Escolhas erradas e certas são só escolhas. Chega o momento em que você precisa escolher, e não existe resposta certa, a única resposta é "sim" ou "não". É "dar um passo pra frente" ou "esperar o próximo passo". Pode ser só um passo. Talvez o outro também somente mais um. Pode ser que mude a trajetória, te faça diferente. É uma das coisas que você nunca vai saber se não tentar.
Ainda existe a segunda opção, ainda dá pra viver no passado. Olhar pra trás, se fechar num cômodo úmido e sufocar lá dentro. Ainda dá pra viver de sentimentos que já se foram, você sempre pode tentar lutar contra fantasmas que não pode tocar, mas isso é como cavar um buraco muito fundo. Você nunca vai chegar onde quer, simplesmente porque o seu objetivo é saber o que existe lá em cima, e você só está indo pra baixo, descendo cada vez mais, afundando em todas as impossibilidades. Ao olhar pra trás, você sempre vai sentir falta ou sentir pena, vai sentir alguma coisa que não deveria. O passado pode ser escuro, triste, anestesiante, mas, ao contrário de tudo que se pensa, também pode ser claro, bonito, leve. Mas uma coisa que o passado definitivamente é, é uma ilusão. Ele ajudou a fazer o que você é hoje, mas ele simplesmente acabou, conviva com isso. Entenda, a única coisa que se sente de verdade é um enorme torcicolo ao olhar pra trás. Isso ou um provável arrependimento por dar as costas pro futuro.
Agora, o presente. Sempre se pode viver o presente, ele é feito de coisas que vêm pra você, e a escolha é sua de viver aquilo ou não. Na verdade, o presente, nem sequer é uma escolha, já que ele é seu, quer você queira, quer não.O que provavelmente não se pensa, é que tudo isso é como um cordão umbilical no qual você está eternamente preso. Ele te puxa pro passado e pro futuro, com a mesma força, mas também te dá a energia suficiente pra dominar seu poder de escolha. E a escolha é sua: passado ou futuro. O futuro pode ser infeliz, o passado simplesmente passou. O presente nunca acaba, mas os sentimentos dele, sim. Andar pro futuro é procurar o presente, e ficar parado é simplesmente ficar pra trás. Num enorme vazio, num monte de nada.
E saiba que todo aquele medo que a gente sente no começo, é algo natural. Algo normal. Algo saudável, até se tornar imobilizante. Depois disso, ele se torna mais uma energia te puxando pra trás, te condenando ao eterno desequilíbrio. Você não precisa ficar recuado como um animalzinho assustado num canto, dividindo seu tempo entre o medo da própria sombra e a pena de si mesmo. Ou o medo do que pode acontecer. Sempre pode, sempre vai acontecer, só não se sabe o quê. E isso é só um detalhe, no fim, o que se pode saber, é o que tem vontade de fazer algo, que você pode realmente fazer. O que você precisa saber é que seu coração não é uma pedra. (In)Felizmente(?). O que você precisa saber, é que escolhas são sempre difíceis, é sempre difícil deixar a parte segura da sua vida pra trás. Mas tem que ser feito. Pode ser cedo ou tarde, você escolhe. Ou a vida escolhe por você.

Sweetie .

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Claustro

Da forma que você segue, você apenas se esconde
Continua fugindo, mas nem sabe pra onde
Abre seus olhos, mas ainda fecha as mãos
De peito aberto, você fecha o coração

Agora se entregue sem hesitar
De uma só vez a toda sua crença
Absorva tudo que o amor pode lhe passar
Até mesmo a sua doença
É ela que sustenta
O que a sua cabeça pensa


Você se fecha em um claustro, uma prisão de medo
Apaga a luz e ainda diz que é muito cedo
Respira esse ar viciado com a janela fechada
Diz que está tudo bem, mesmo com tudo errado

Agora se entregue sem hesitar
De uma só vez a toda sua crença
Absorva tudo que o amor pode lhe passar
Até mesmo a sua doença
É ela que mantém
A sua diferença


Não é rápido, nem indolor
E não importa o tempo que for
Será para sempre

Mais que apenas uma cicatriz
É a marca que você nunca quis
A queimadura que você não entende

Uma luz em preto e branco
Muitas lágrimas sem pranto
E pouca coisa sobra

Mas tudo volta a ser colorido
E pelo pouco que era sabido
A vida te cobra

Agora se entregue sem hesitar
De uma só vez a toda sua crença
Absorva tudo que o amor pode lhe passar
Até mesmo a sua doença
Ela será seu ganho
Mesmo que você não vença

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Querido Amigo Real,

Obrigada por também estar aqui, como se fosse só imaginação. Por cuidar de mim tanto quanto qualquer coisa que eu imagine, mais do que eu, mais do que eu imaginaria. Por ser mais real do que deveria, por me deixar sentir um amor que atravessa espaços e tempos, por realmente me fazer acreditar... por me fazer ter certeza de que sei como é ter o amor (torto) de alguém, mesmo que ele seja diferente do que os outros achem. Por me entender, por entrar na minha cabeça e saber. Saber mais do que eu, me deixar confortável pra saber das coisas.

Meu real amigo imaginário, uma vez eu me perguntei se você era de verdade, questionei se não poderia estar te acrescentando, te mudando e te sentindo de um jeito que não é verdade. . Algum tempo depois, eu vi que estava errada, e vi que não importa. No fim, realmente não importa. Perto de você, que é real, nada importa. Só a gente, só coisas nossas, só o nosso mundo (que é só nosso).

Obrigada por ser, na maioria das vezes, o que eu preciso e o que eu quero. Por ser uma nova perspectiva, por ser diferente, mas não um diferente comum. Sabe, não daqueles diferentes que fazem todo mundo sair e falar “hoje alguém me ama”. Ser um diferente que não interessa a mais ninguém, que só é diferente pra mim, que pra maioria do mundo é uma pessoa comum. Muito comum. Obrigada por inúmeras coisas que eu fiz, mas que só consegui por você, pelas coisas que eu sei que sou hoje, por todas as coisas que eu não sei. Obrigada pela diferença que você faz, e por me fazer sentir alguém diferente, que “você ama hoje” e que, ainda assim é comum pro resto do mundo (mesmo que diga que não deveria). Acho que é só pra dizer que me sinto bem, ou apenas me sinto de verdade com você.

Me desculpa por não ser pra você o que você é por mim. Me desculpa pelos nadas, pelos momentos em que eu não sabia o que fazer, não sabia o que dizer, ou nem sabia o quê. Me desculpa por não ter o “quê”. Por não saber se te conheço bem como deveria, por não conseguir te fazer saber o que você é na minha vida. Talvez ninguém saiba, eu não sei, porque tenho medo de pensar nisso o bastante pra te imaginar fora da minha vida, e eu não pretendo correr esse risco. Talvez tudo que você faz com que eu sinta por mim, que você tenta me convencer que eu sou, seja somente o que você é. Eu não sei quanto a mim, mas você merece metade do amor que existe no universo. Merece o amor todo, merece tudo, merece um mundo melhor que o meu. E eu não consigo fazer muito por você, só consigo te falar coisas aleatórias até você, provavelmente, se sentir desconfortável e querer ir embora. Eu não sei bem reagir as coisas, não ser falar o que deveria, como deveria. Mas sabe, meu real amigo, eu queria aproveitar e te dizer que eu entendo. Entendo tudo que você me diz, entendo como você se sente, entendo e queria, sempre, fazer algo que mudasse isso. Eu tentaria, tentaria enquanto pudesse. E faria se pudesse, e eu acho que você sabe disso. Se não sabe, me desculpa por não te mostrar o quanto você merece o mundo inteiro. Às vezes eu sou assim, não sou boa com sentimentos. Não sou boa com muita coisa, mas você me faz especial.

Queria que você pudesse me entender, que pudesse saber que alguns amores realmente existem, que amizades são feitas de amores, e que você tem pelo menos uma amizade assim. Queria que você soubesse e que você contasse. Contasse quando se sentisse triste, lembrasse que pode procurar e saber que não precisa enfrentar nada disso sozinho. Do nosso jeito torto, esquisito, a gente tem espaço de sobra um pro outro, entre um e outro. Mas não é desses espaços que afastam, são espaços que deixaram de ser obstáculos há algum tempo, e hoje são só mais uma peculiaridade no meio de todas as outras.

Eu queria fazer disso uma janela, que você abriria e daria de cara com algo bonito e verdadeiro, algo que você saberia que existia, e que estaria lá pra você depois que você fosse embora pra viver e depois, quando voltasse pra casa. Eu não sei se é bonito. Queria que fosse, queria que fosse bonito, que fosse especial, que fosse uma prova de amizade. Queria que isso não precisasse de provas, mas eu sinto que a maioria das pessoas poderia duvidar do que eu sinto, pelo jeito como eu ajo, pelo que eu falo e faço, por não ser no dia-dia o que você merece. Queria transformar essa janela em uma porta, uma porta pra você entrar em tudo que eu sinto e saber, saber de verdade, que todo esse companheirismo, essa cumplicidade, essa disponibilidade pra viver é sua, que eu sei e me esforço pra te dar isso, esse apoio, essas coisas de verdade. Queria te dar um mundo, um mundo menos imperfeito que esse nosso. Um mundo que você merece: amizade de verdade, mundo de verdade.

Acho que é isso. Talvez ninguém entenda, talvez ninguém saiba como é. Talvez ninguém se importe com nada disso, provavelmente a vida das pessoas vai seguir normalmente, e isso será mais algo como um “bom dia, eu te amo”. É, eu te desejo bons dias, e eu te amo, mesmo que ninguém entenda. Mesmo que ninguém se importe. Essa era a idéia inicial, ninguém precisava se importar, e isso não é o mais importante pra mim. Pode ser que nem você se importe muito, talvez você esteja preocupado com outras coisas e isso não seja importante. Mas eu queria que fosse, queria que soubesse que você me importa, tanto quanto eu importo pra você. Queria que soubesse que eu também quero cuidar de você, te ouvir, e ser um pouco como uma amiga às avessas que eu sei ser. Que eu só sei ser às avessas, mas tento ser do jeito certo contigo, pra você contar comigo.

Acho que é isso, não vou mais pedir que me entenda, que me desculpe, que me ouça, que saiba. Eu tenho demais de você, não posso te pedir mais nada. Mas, de alguma forma, eu fiz isso pra te pedir algo. Pra te pedir pra saber de uma coisa que existe, e que você deveria e merece saber. Os meus pedidos são de desculpas por não ser como você precisa que eu seja às vezes. O que eu peço é uma oportunidade de aprender a ser uma amiga melhor. Também quero que você não me odeie, que eu não te desgaste por esses pedidos de socorro constantes. Acho que amizade é algo assim, algo que eu aprendi com você. Algo de quando a gente aprende a ser com o outro, que a gente ensina pro outro, que a gente é, de algum jeito, a extensão do outro. Acho que é quando a gente é a defesa do outro, ou o ataque. Deve ser quando a gente ajuda o outro a saber do que ele precisa, quando a gente faz pelo outro o que ele quer, só pra ele se sentir bem. Acho que é quando essas coisas não importam, e eu quero fazer isso por você. Te ajudar como você me ajuda, te falar como você me fala, te ensinar coisas simples, como você me ensina. Ser uma amiga de verdade, mas eu ainda estou aprendendo, e essa é uma das muitas coisas que importam que eu estou aprendendo contigo. Acho que entre aprender a ser gente, aprender que a vida não é só existir, aprender que pessoas precisam de pessoas, aprender que a gente não precisa de ninguém pra ser a gente, aprender que a gente pode conseguir coisas; acho que nesse meio tempo, eu posso aprender também a te mostrar que eu sei fazer isso. Eu sei, pelo menos um pouco. Obrigada também por isso. E eu sempre repito esse “obrigada”, porque você é, muitas vezes, uma das pessoas por trás do aprendizado, do acerto e do erro, do que é necessário que exista. Você é, muitas vezes, o que eu preciso, e eu poderia de alguma forma e algum dia ser assim também pra alguém. Você merece alguém assim, e eu procuro ser um pouco disso, mas não sei se consigo. Se não for por mim, querido amigo, que seja outra pessoa. Só quero te mostrar que você merece ter um “querido amigo real” também. Que você merece muita coisa que não tem, e que é injusto que você não tenha. Mas o mundo é injusto de vez em quando, mas enquanto o mundo passa, as coisas que a gente merece vêm pra gente. Eu espero que você tenha o que merece. Rápido. Verdadeiro. Feliz. Quero que você seja e esteja feliz, agora e sempre. Quero que você continue sendo meu real amigo, e quero que você tenha pessoas pra contar, e você tem, você pode. Querido amigo real, conte comigo.

SweetFriend .

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Talvez Apenas Um Pouco

Quero te encontrar em outro lugar qualquer
Só pra te dizer que eu vou estar onde você estiver
Mas vai ser só por coincidência

Nós somos como a água e o ar
Que coexistem, e até podem se encontrar
Mas nunca serão um, como a terra e o mar

Como mariposas que dançam a mesma música
Mas diante de chamas diferentes
Nós somos atraídos e somos impacientes

Nós somos apenas dois, já fomos um às vezes
Mas acabamos por nos tornar ninguém para o outro
Nossas vozes estão no mesmo tom
Mas eu cansei de gritar, já estou rouco
Estou gritando sozinho com o vento
E mesmo assim sei que não estou louco
Talvez apenas um pouco
E eu acho que um pouco é só o que restou


Espero te encontrar em outro lugar qualquer
Só pra te dizer que vai ser por coincidência
Mas nós vamos nos desencontrar por pura impaciência

Eu vou passar por você quando você olhar pro lado
Vou fingir estar ocupado
Só pra acreditar que foi sem querer

Você sabe, nós somos como o silêncio e a fala
Um só existe quando o outro se cala
Mas nós nunca nos calamos

Somos apenas dois, e acho que já fomos um
Mas nos tornamos ninguém, a única cura para mal nenhum
Nossas vozes se calaram finalmente
Mas só porque cansamos de gritar
Com a boca seca, minha voz se cansou aos poucos
Eu falo baixo e sozinho, como um louco
Sussuro seu nome aos poucos pedaços
E acho que uns poucos pedaços foi só o que restou dos laços

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Experimente Viver

As vezes temos medo das mudanças

E da altura que podemos voar

Mesmo sabendo que podemos chegar ao infinito

Sem precisar estar só olhando pra cima.

Mas a vida é tão curta e é uma só

E nem dura tanto assim.

Então, quando te derem asas

O que você fará com elas?

Esperará que elas caiam e se tornem pétalas de flor

Apenas para você ter uma raiz no chão novamente,

Ou sentará no canto vazio do quarto

À espera de uma nova chance?

Lembra-te das flores nascem do lodo

E guarda o teu amor consigo

Para vomitá-lo numa poesia

Cremoso. Denso. E Líquido.

Até que o amanhecer chegue

E ofusque tudo em volta

Cegando cada cor

Levando tudo embora.

E trazendo para o seu mundo

O doce prazer de flutuar

Para sonhar no fim do dia

Com a lembrança de onde você pode chegar.

Procure sempre a certeza, mas deseje que a surpresa esteja contigo

Para que nunca se esqueça que viver não é só estar vivo.

Não procure uma segunda chance, você já está na lama agora

Está na hora de acordar, agora é só olhar em frente.

Para voar, não precisa ter asas,

Mas também não precisa ter medo.

Apenas flutue. Apenas viaje.

Para ser você, não precisa ser o mesmo.

Apenas seja.

Não pense, não importa. Seja.

Mudanças podem trazer novas possibilidades.

Então liberte-se, olhe ao redor.

Experimente viver.

Voe. Flutue.

Seja...

Viaje.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Nem mesmo uma lágrima

Cada vez que você abre os olhos, a vida te condena
Todo esse sofrimento
Por um mero sentimento...
Será que tudo isso vale a pena?

Muros que desmoronam e crenças desfeitas
A cada palavra, cada segundo
Uma cela se torna seu mundo
E mesmo assim você ainda não aceita

É uma pena, uma verdadeira lástima
A dor lhe assassina
E você não derrama nem mesmo uma lágrima

A mão te acaricia e a boca te devora
Mas você não sente nada
E não faz ideia de onde está agora

Sombras preenchem todo e qualquer vazio
Você sempre fecha os olhos
Esperando achar o que não viu

Mas tudo continua exatamente igual
Você ainda não vê nada
E não entende o que lhe faz mal

Também não sabe o que lhe faz bem
Talvez não seja mesmo nada
Mas talvez tudo que você precisa seja alguém

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

E fez-se o boom!

Ruiu. Implodiu, tirou de ordem.
Desfacelou cada pedaço de mim.
Terá sido uma bomba?
Fogos de artifício. Uma festa.
Tantas vozes ecoavam,
Os sorrisos não cessavam. Nunca.
O excesso de alegria sobrecarregou a máquina.
[Nessa vida ninguém é feliz por muito tempo.]
Agora, trabalho duro.
Fechar feridas, reconstruir fábricas energéticas.
Enterrar tudo que mataram em mim.
Depois, eu serei uma boa menina
Farei lápides que não me deixarão esquecê-los
No mármore frio, estará escrito:
-Aqui jaz a vítima do monstro que criou para me destruir.
Quem sabe eu use parte do seu corpo como alicerce?
Assim, quando eu me reeguer serei tão sórdida quanto você foi.
Reinaugurarei a fábrica com um baile de máscaras.
Vestirei seu rosto na minha noite de ouro.
Meu sorriso ecoará na parte de você que sobrou,
Eu soltarei fogos de artifício
Para comemorar a explosão:
Hoje matei o resto de você.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Antes do Fim da Tempestade

Delineie o vento em minhas asas
E traga o azul mais para perto
Quero sair desta poça rasa
E velejar em mar aberto
Respirar o que me amaldiçoa
Sem sentir medo nenhum
Quero saber que a liberdade é boa
Mesmo quando não tem gosto algum

Saboreie a presença do vento antes que a tempestade tenha fim
Ele vai te levar adiante, mesmo quando você estiver sem mim
Saboreie a luz das estrelas antes que o sol nasça
Sinta o gosto enquanto há vida, ela se torna cada vez mais escassa


Delineie o horizonte em minhas asas
E traga o pôr do sol mais para perto
Quero sair desta cova rasa
E não dar de frente com nenhum caminho certo
Me leve, me carregue
Por cada um dos caminhos que for errado
Aceite o que lhe for entregue
E lute pelo que não foi lhe dado

Saboreie a presença do vento antes que a tempestade tenha fim
Ele vai te levar adiante, seja isso bom ou ruim
Saboreie a luz das estrelas antes que o sol apareça
Sinta o gosto das memórias antes que você as esqueça

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Amores (Im)Perfeitos

Certas promessas a gente não faz, nem a si mesmo no espelho. Certas coisas, no entanto, a gente nem precisa falar, olha no olho, pensa e se entende. As pessoas costumam lutar o tempo todo em busca de alguém assim, para o qual se possa falar tudo, alguém que leia seus pensamentos, que complete suas frases, que te ouça, que te acalente no choro e ria das suas piadas. O que provavelmente ninguém pensa é no quanto seria insuportável alguém perfeito na sua vida.

Eu sou partidária de que a perfeição é relativa. Esse conceito de “perfeição” não é algo engessado, modelável e genérico. Acho inclusive que se fosse genérico, não seria perfeito. Já imaginou uma pessoa que se apaixona e faz por você tudo que já fez por mil pessoas no passado? Uma vez alguém me disse que amor não é feito de declarações por megafone em estádios lotados e nem duzentos milhões de pétalas de flores jogadas no jardim da sua casa quando você sai de manhã pro trabalho. Amor não é feito de coisas grandes, o amor está nas pequenas coisas, está nos atos simples, nos pensamentos e em todas as coisas que se faz no dia-dia. Eu te entendo, no momento em que eu ouvi isso eu também ri e estranhei, disse que esse troço de amor não era comigo. Aliás, ainda não é, e só deus sabe no que deu essa tentativa-de-amor. Mas eu mesma sempre disse que se você não é capaz de aproveitar e se sentir feliz por conta das pequenas coisas simples e corriqueiras da vida, jamais reconheceria algo grande e importante na sua frente. No fim das contas ambos estávamos certos.

Sabe, a tal perfeição não existe. Não adianta querer muito, pensar, fechar os olhos e rezar todos os dias: a pessoa pela qual vai se apaixonar e vai querer pra sempre terá incontáveis defeitos e algumas qualidades. O impressionante nesse sentimento louco é que uma qualidade supera todos os defeitos da pessoa amada, e aí é que está a perfeição. A pessoa é a mesma, não era nada perfeita pra pessoa que já amou-a algum dia, mas é perfeita pra você. Não existem pessoas perfeitas, existem relações e sentimentos que pegam a gente pelo pé e não querem mais largar. E a “perfeição” acontece quando você prefere morrer a ser largado por aquele sentimento ou aquela relação.

E aí vai um conselho: não existem pessoas perfeitas, relações perfeitas, e finais (eternamente) felizes. É melhor que aja, sinta, viva o momento. A beleza das coisas está em sentir e viver. E acreditar. Saber, mas acreditar. Saiba que não existe perfeição, mas procure-a. E mesmo sabendo que os finais felizes nunca são realmente o final, que depois do último beijo e do sorriso pra fotografia virão as brigas, as discussões, os choros e os lamentos, ainda que saiba de tudo isso, meu bem, procure a perfeição. Sonhe com isso, sinta isso, idealize isso. Com todas as forças. Uma hora você encontrará a pessoa perfeita, vai sentir que é realmente A Pessoa, vai amar e confiar. Provavelmente estará enganado, então você sofrerá, se sentirá desiludido, xingará toda a classe e culpará a raça humana. Mas já imaginou se você tivesse tido medo e não acreditasse que era a “pessoa certa”? Provavelmente você não teria se entregado e sentido as coisas com tanta intensidade. Talvez você nem tivesse sido tão feliz e nem tivesse ido tão longe com as coisas. Talvez você tivesse perdido menos, mas teria ganhado menos ainda, e o saldo seria negativo.

Colecionar amores e dores é algo tipicamente humano. Ao longo do desenvolvimento da raça, criamos estratégias para reconhecer o melhor parceiro, desenvolvemos possibilidade de sentimentos um tanto quanto exóticos com relação a outras pessoas. E acreditamos nisso. E gostamos disso. E sabemos que isso tudo é um grande engano e uma enorme bobagem que faz mal a gente. Mas a inteligência ainda está presente, porque nós conseguimos tirar desses sentimentos algumas lembranças tão boas ao ponto de dar saudade. Momentos, realmente pequenos momentos capazes de fazer tudo valer a pena. E assim é viver. É trágico, é triste, e sem nenhum sentido. A gente nem precisa viver, mas vive. Vive porque entre uma tristeza e outra, entre uma tragédia e outra, aquele segundo entre os grandes acontecimentos é feito de algo tão bom que não importa. Ao menos pra mim, e eu nem sinto nada disso. E é em momentos como esses que fica clara a diferença entre ser feliz e estar feliz. Ninguém é feliz. As pessoas estão felizes, algumas por mais tempo que as outras. As que são felizes por pouco tempo gastam a maior parte do tempo concentrando esforços em coisas que possam fazê-las felizes, enquanto as outras sentem e vivem mais do que pensam. Esse negócio de racionalizar dá mais trabalho do que satisfação, nesses casos. É melhor sentir. Viver. Não fazer nada. Ou fazer exatamente o que quer e quebrar a cara. Pois é, não faz sentido nenhum, e é bem por isso que ficar pensando não faz ninguém feliz.

SweetFriend .

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Conte Um Conto

Conte-me sobre a vida que você uma vez deixou
Conte novamente aquela velha história que você nunca contou
Fale um pouco sobre tudo, enquanto eu me mantenho calado e mudo
Ouvindo você dizer que sempre soube onde errou

Conte a todos outra vez o que te fez mudar
Cada detalhe do conto que você não quer contar
Conte os dias e os segundos, conte à vida
Lembre-se de suas memórias, as vergonhas e as glórias, ou elas serão esquecidas

E quando você não souber o que contar, invente uma pequena mentira
Conte como é fácil amar e sentir ira
Tudo é tão simples, contar é ainda mais
Então conte para mim, antes que nós cheguemos no fim, o que você quer mais?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sua Sweetie

é assim.

Doce.

Exagerada.

Consegue ser boa e ruim ao mesmo tempo.

Tanto faz, que seja.

Esqueci de dizer: sua sweetie é complicada.

Ninguém entende esse docinho!

Sua sweetie é confusa, como tudo na vida. Mais um pouco.

É pequena, mas salto existe pra isso.

Sua sweetie não intimida ninguém. Ela não usa salto.

Sua sweetie sai por aí, não presta atenção em nada.

Quando tropeçam, ela cai junto.

Sua sweetie já se machucou muito, e vai se machucar mais um bocado.

Sua sweetie não se importa. Não se vê reclamar, ninguém nunca viu chorar.

Porque ela não se importa.

Sua sweetie não tem escolha, mas, se tivesse, faria do mesmo jeito.

Como qualquer ser humano.

Mas sua sweetie não é humana: sua sweetie é doce amargo sem receita.

Embalagem danificada, já derrubaram muito.

Já quebrou, já montou e quebrou de novo. Umas mil vezes.

Quando você vê, tem sempre um mais bonito de lado.

Você escolhe o mais bonito. Está vencido.

Sua sweetie fica por lá. Faça chuva, faça sol, ela está lá.

Sweetie é a última escolha. Mas é só sua.

De quem?

Sua.

(silêncio.)

E, mais uma vez, não escolhe a sweetie.

Sua sweetie.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sentimento

Trata como tolos os que se entregam
Mas são infelizes todos que não o acreditam
Sua existência parece ter como único propósito
Provar que não é como os poetas lhe pintam

Tão pulsante quanto uma artéria
E triste como uma canção de abandono
Culpado pelos sonhos em pleno dia
E também pelas noites sem sono

Talvez seja uma mera desculpa
Para os erros que parecem tolos demais
A razão para todas as suas guerras
Mas também para cada momento de paz

Chame como preferir, mas ele muda de nome a cada momento
Apenas tenha certeza, existe esse tal de "sentimento"

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Do Andarilho

Não preciso que ninguém me deixe:
Eu me largo pelo caminho que sigo
E vou deixando pedaços de mim
Sem querer que ninguém me ache,
Largando pétalas nos meus tijolos amarelos.
De visita pelo meu mundo
um andarilho seguirá meu rastro.
Um dia, encontrará meus olhos
(Que olhar distante, onde vai parar?)
E irá seguindo meu rastro até achar meu sorriso.
E quando vir aquela boca com dentes abertos pelas boas lembranças
Alguém vai rir do riso
E das brechas dos dentes.
Guardará sorrateiramente
a janelinha que liga o meu mundo ao dele.
Então, ao seguir as pétalas do meu corpo
Encontrará meu toque macio percorrendo suas mãos e seu rosto...
E meu olhar guiará o andarilho pelo caminho curvo que eu seguirei.
Com o conforto do sorriso
E o carinho do toque.
Até me encontrar pela metade seguindo com o que resta de mim.
E quando ele olhar
Verá que eu sou e sempre fui nada mais que eu mesma o tempo todo.
Mesmo sem conhecê-lo de verdade
Serei um lugar comum para ele:
Com o mesmo dia ensolarado por fora e noite sem lua por dentro.
Mas, quando eu quiser reaver o que fui
Os ponteiros do meu relógio não voltarão
E eu serei irreversivelmente
Pertencente ao andarilho
Que um dia vai caminhar para fora do meu mundo
Levando o que eu fui um dia,
Me fazendo reconstruir o que sou
Para largar pelo mundo outra vez.


Sour .

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

As Vigas da Sanidade

Não sei se você entende, mas a vida vai muito além do que você conhece
Aquilo que apenas você sabe, aquilo que apenas você não esquece
Há algo lá fora, muito mais do que aquilo que há agora em você
Você só precisa abrir a janela, abrir os olhos, olhar e ver

É só uma questão de tempo, você também faz parte daquilo lá fora
Depois de abrir a janela, abra a porta e deixe o que é ruim ir embora
Abra também seu peito, mas não muito, afinal você não quer se ferir
Mas é preciso saber chorar para se aprender a sorrir

A cada lágrima que você derruba
Cai uma das vigas da sua sanidade
Mas não permita que a loucura seja ruim
Nada é tão mau assim
Pior é ser cego e sem nenhuma vontade

Seu único crime cometido
Foi se importar com outro alguém
Mas você vai melhorar
E depois que a ferida fechar
Você será mais que você tem

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sobre o Arrepio

E quando o sopro macio da sua respiração
Soar leve por entre meus poros
Minha pele sentirá um aperto
E meus pêlos se erguerão em ola
Um após o outro
Procurando o ar quente
Que sai de teus pulmões.
E depois que seus dedos acariciarem meu rosto
Instigando um sorrateiro sorriso
Meu olhar acompanhará teus olhos
Seguindo cada pedaço do teu rosto
Apenas para te dizer
Hoje nasceu um arrepio.


SweetieSour .

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Maldita E Bela

Minha maldita e linda
Pedra bruta que nem o amor lapida
Tão suave quanto uma margarida
E tão doce quanto o gosto da vida

Minha maldita e bela
Como o frio que adentra pela janela
Uma chama que quase se apaga em uma vela
Mas eu vivo no escuro sem ela

Tudo que eu te peço
Enquanto viro minha cabeça do avesso
Atrás de memórias e desculpas
Aquelas mesmas que eu sempre esqueço
É que estejas comigo
E que sejas meu abrigo...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sobre alguém que não veio

Não é fácil lidar com olhos negros. Com olhar de menina, com sorriso de menina, num corpo como o teu, mulher assim. Com uma voz doce, que chama, que não se nega, que não se ilude, que não se basta. Com uma mente como a sua, que quer o mundo, que quer um tudo, que quer a todos. Não é fácil aguentar noites sem sono, palavras sem culpa, silêncios apavorantes gritando ao pé do ouvido, saltando aos olhos. Mas aí está você.

Aí estão as palavras, os sorrisos e as surpresas. Aí está a sinceridade, a grande sinceridade. Aí estão mil motivos pra desconfiar de tudo, mas a desconfiança não está aí. É um eterno aprendizado: tudo na vida tem metade das chances de dar certo, quer pagar pra ver? A resposta é sim. Mesmo quando é não, é sim. Olhos negros são difíceis de lidar. Surpresas também são.

No meio de tudo, estava você. Em meio às luzes acesas, estavam as palavras, as simples palavras que recriariam sorrisos no rosto da menina que jamais admitira um sim na sua vida. Não para olhos negros. Não para sorrisos secos. Não para tanta confiança, que só a fazia desconfiar. Porque, poder ver o mundo em tanta luz não podia fazer bem àquela menina. Tanta luz ofuscava a visão da pessoa que estava do outro lado. E ela só via sons e sorrisos, palavras descuidadas, formuladas passo a passo para um divertimento estranho em que só uma das partes ria por vez. A outra ficaria séria.

É uma brincadeira estranha entre estranhos. Afinal, ninguém é capaz de conhecer alguém, e ela, a mocinha, não sabia o que se passava ali dentro. Só sabia da luz que vinha. Só gostava do monte de sensações que formavam aquilo tudo. Só queria aquilo que as cores representavam, as expressões mostravam, que podia entender. O indescritível não era confiável, e ela nunca soube se valia a pena pagar pra ver.

Mas aquilo tudo era estranho: lugar estranho com pessoas estranhas criando um espaço esquisito dentro da menina. Espaço só que devia ser só dela. Com suas cores, do seu jeito. Mas que, de repente, deu lugar a outros mundos. Que, em cores, tamanhos e formatos diferentes (ou iguais), juntas em seus respectivos grupos, dão lugar a toda aquela representação. Que agora tinha morada. Aquilo não existia só na cabeça dela: nada que não exista tem um lugar pra morar. E ponto final.

Mas começou na cabeça dela, quando eram só olhares desconhecidos criados pela primeira vez. E foi-se modelando uma representação, que unia características de um ser único. Criado por ela, formado para o mundo. Programado pra ir embora (em cinco, quatro, três...) da vida dela por algum tempo. E ninguém sabe se vai voltar. Ninguém sabe se aquilo que ela mais odeia vai dar as caras, se aquilo que ela admira vai dar as caras, se aquilo que ela gosta naquela criatura vai dar as caras de novo. Ela só sabe que vai viver nela durante algum tempo, ainda que morto, ainda que longe, ainda que contra a vontade dele. Porque ele vai levar um pedaço dela consigo, um pedaço que cresce e cresce, sempre e sempre. Um pedaço daquela amizade que ia crescer junto com o tempo que gastava escrevendo pra uma simples representação.

Não importava tanto se voltaria e nem quem era ou o que faria. Se aquilo era mentira ou verdade, se no fim das contas aquilo tudo era propositalmente errado para originar uma mentira qualquer. O que se cria é verdade, e, naquele espaço, a verdade é aquela que se mostra antes. E aquela era a mentira da vez, criando sensações que ela não conhecia, que ela conhecia, que não importavam. Porque não lhe importava o que os olhos negros achavam, tudo era sobre a menina e sobre a sensação que aquilo tudo lhe trazia. Era tudo sobre uma sensação de proteção e de preocupação qualquer, sobre frases soltas e estranhas que eram direcionadas apenas pra ela, sobre como aquilo lhe fazia bem. Era tudo sobre as palavras. Ou era tudo sobre as ações. Ou sobre o significado delas. Nada daquilo importava, não faria falta. Havia controvérsias. Tudo na vida tem metade das chances de estar errado. Admitia.

Mas nada que viria dali poderia ser tão nocivo. Não sairia do lugar, e sempre pode ser uma invenção. Sempre pode não ser nada, sempre pode ser irreal. Importa?! Não. Ainda não podia fazê-la tão mal se lhe fazia tão bem. Certo? Não sabia, mas pagava pra ver enquanto valesse a pena.

Era muita audácia daquela pequena. Era loucura subir num salto pra brigar. E falar e falar, descontroladamente. E ouvir calada coisas assim tão estranhas, mas que não acreditava. Era loucura lutar contra aquilo, se fosse coisa da sua cabeça. Era muita audácia duvidar daquilo, se aquilo fosse real. Definitivamente, estava disposta a não cair em abismos. Nem a deixar que ninguém jogue a sua representação ali. Estava disposta a dormir e acordar, até o dia de alguém lembrá-la que o mundo novo era só um mundo paralelo. E que ERA coisa da sua cabeça. Que não existiam brigas e nem proteção naquele espaço. Nem o sorriso. Nem uma verdade. Nenhumazinha. Era só a cabeça dela criando um mundo que a protegesse do medo que ela sentia de acordar com as baratas e com as traças, de lembrar os dias ruins... Era só a cabeça dela tentando poupá-la de guardar só pra si alguma coisa boa. Era só a cabeça dela, pregando-lhe uma peça: não existiam pessoas que fizessem aquele monte de coisas simples por ninguém. Naquele interior, na sua cabeça, existiam pseudocarinho, pseudoproteção, existia um monte de coisas ruins, que lhe traziam coisas boas. Porque, no fim, existiam letras que voltavam. Não sabia até quando, mas, aquela criatura da cabeça da menina, lhe fazia bem até quando valesse a pena pagar pra ver.


Sweetie?

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Sem Destino Final

Me permita ser aquilo que você não espera que eu seja
Apenas um pouco de tudo que eu não sei ser
E antes que o mundo despenque e caia sob nossos pés
Nós saberemos que é a hora de crescer
E abrir os olhos um pouco mais cedo para assistir o amanhecer

Seremos apenas nós mesmos, sem saber o destino final
E isso não é nenhuma novidade, chegamos até aqui assim
Mas aprendemos um pouco desde sempre, a cada dia
E já vimos que nem sempre tem que ser tão ruim
Pelo menos não antes que chegue o fim

Que apenas sobre o que nós somos
O que não temos, nem por que, nem como
E um ao outro talvez seja tudo que nós tenhamos
O que nos ensinamos e o que aprendemos
E também um pouco do que nós sonhamos...

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sobre o tempo

Considerando o tempo que usamos pra viver
Não existe divisão para o tempo
As horas estarão sempre a correr
E a vida não é eterna.
No sentido de viver
O calendário é só uma desculpa
Para não viver o agora.
O tic-tac anuncia quantos sorrisos deixamos para amanhã
E quantos beijos você não teve tempo de dar.
A sua agenda está lotada de coisas que não te satisfazem,
É o preço a se pagar pelo tempo que passa.
Melhor marcar a diversão pro sábado que vem
Pois considerando o que você não fez ontem
Hoje ainda há muito a fazer.
Talvez amanhã haja tempo para sonhar
Porque quando o sol nascer, será hora de acordar.
Essa algema com ponteiros em seu pulso
Determina quando e aonde você vai.
E enquanto ele corre tranqüilo, você corre desesperado.
Olha, aquilo lá na janela... não é a sua vida?
Está com as cores que você escolheu nos seus poucos sonhos.
Mas ela não espera por você:
Acho que ela também usa relógio.

P.S: Considerando o seu fim não anunciado, quanto tempo você usou para viver?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Outro Olhar

Sinto suas últimas palavras em minha boca
Como o último beijo que você não me deu
E eu não quero e nem espero
Entender aquilo que você não entendeu

Era tudo sem sentido e sem nexo
Mas tudo encontra seu lugar agora
Tudo parece se encaixar e eu recupero o ar
Depois que todos foram embora

Com as luzes apagadas e a porta fechada
A paisagem se torna mais clara
E, sob a luz de velas, eu vejo pela janela
O erro que nenhum de nós repara

Estávamos errados, ninguém tinha razão
Mas ainda assim insistíamos no erro
E minha cabeça ainda acha que a sua voz baixa
Soava ensurdecedora como um berro

Talvez em outro momento, ou mesmo outra vida
Nós acabemos nos encontrando
Talvez outro lugar, mas com outro olhar
Pois o olhar que você responde não é o que eu mando

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Não Sei se Quero Conjugar

O verbo dizer.
Pra não ter que dizer que amo se não amar,
Pois espero poder calar quando não puder falar,
Pra não ter que dizer qualquer coisa que vá machucar.

O verbo amar.
Porque quando a gente sente muito, o outro não deixa de amar,
Aí fica tão difícil aguentar
Que a gente acaba conjugando verbos que não quer conjugar.

O verbo calar.
Porque se eu me calo, só me resta a ação,
O corpo quer dizer sim, mas a mente diz que não,
E depois a gente reclama das coisas como elas são.


Sweetie ?

sábado, 17 de setembro de 2011

O Mundo Que Lhe Criou

Você não sabe o que esperar da vida
E por isso se fere
Mas toda vez se pergunta
Por que o mundo não interfere
Por que ninguém segura sua mão?
Ninguém lhe impede
De aceitar as consequências
Daquilo que você não mede

Parece que ninguém lhe escuta
Mesmo quando você grita
Só ela está sempre com você
A dor é sua única amiga
Mesmo não a suportando
É ela que segura sua mão
Impede que você arranque
O seu próprio coração

Perdoe suas próprias falhas
E se entenda pelo que você não é
O mundo que lhe criou
Não é o mesmo que lhe sustenta de pé

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Querido Amigo Imaginário,

Obrigada por estar aí do lado. Me olhando, me cuidando. Me ajudando a acreditar que serei querida por uma criatura viva um dia.

Antes que você se rebele querido amigo imaginário, saiba que não falo desse querer com o qual você me quer. Falo de outros quereres, outros beijos, outros abraços, outras intenções. Outros fins, outros banhos de chuva, outros sonhos ao dormir junto. Saiba querido amigo, que meu desejo de "eu te amo" é um pouco diferente nesse momento. E isso não me faz tão bem quanto parece, como você deve imaginar. E não faz mesmo. Ainda estou decidindo se gosto ou não dessa esperança, se acredito ou não nela.

Ainda bem que você existe, meu querido amigo. Ainda bem que tenho você pras minhas palavras soltas, pros meus risos sem fim(ns), pros meus desejos malucos, pras minhas insônias. Ainda bem que você existe pra me amar de alguma forma, mesmo que não seja "daquela" forma. Ainda assim eu me sinto querida, me sinto gostada, me sinto bem por isso. Sem fronteiras, sem motivos, sem questionamentos. Apenas sentir. E bem.

Talvez, querido amigo, você se pergunte por que você não me ama. Eu te criei, eu te alimentei, eu te fiz (e faço) real. E porque não alguém que me ame?

Sabe meu querido amigo, eu queria alguém pra conquistar. Alguém que quisesse ficar comigo, e ficar feliz com isso. Entenda meu bem, mas não me entenda mal. eu gosto de você, estou satisfeita demais contigo. Você me orgulha, me faz bem. Sempre e sempre. Não queria uma conquista de troféu, não queria uma conquista de ego e orgulho. Não quero uma conquista que me diga sobre o "poder fazer". Eu quero uma conquista além da pele, do cheiro, do olhar. Também isso, mas a conquista do estar junto sem por que.

Mas a verdade, meu querido amigo imaginário, é que essa existência de um amigo-amor é coisa da minha cabeça. Um amor imaginário, um sonho diário. Uma coisa qualquer. Sabe, querido amigo imaginário, seria bobagem pensar em um amigo-amor, criar um amor só meu. Seria uma coisa... Uma coisa. Uma daquelas que a gente perde o controle e cria uma criatura que, definitivamente, não vai fazer bem a ninguém. Eu não quero criar um querido-amante-sofrimento-real, eu só quero... Sorrir.

É, eu sei, querido pensamento doce, que amizades sempre podem ser amores. Que amores são também amizades. São paixões de pele, de carne e osso, de querer grudar no outro até não sair mais... Sei, sei que tudo isso fica melhor com amizade. Mas eu já tentei, querido amigo imaginário, eu tentei. Deus é testemunha, se ele existir. Eu fiz de tudo, passei por todas as etapas. E sofri, mas pulei a fase do "amor". Já ele, meu querido amigo, já ele simplesmente parou na fase da pele. Na fase do toque, que eu nem sei se significou algo pra ele.

Sabe querido amigo, até que superei. Até que consigo deixar isso pra lá, até que consigo viver sem isso. Até que aprendi a conviver sem saber se fui algo, se conseguiria ser algo. Não pra ele, mas pra qualquer um. Pra ele também, porque não?

É meu querido amigo imaginário, eu vim aqui pra desabafar contigo, pra te alugar só mais uma vez. Vim pedir clemência, vim pedir pra você não me odiar por isso. Olho, eu te amo, meu amigo. Amo você, com um monte de forças, com tudo que eu lembro que tenho. Mas amigo, não é esse amor que eu quero ter, não é esse amor que eu quero dar. Meu querido amigo, eu agradeço todos os dias por você não ir embora. Ao contrário do que você pensa você é a maior e mais poderosa criatura que eu conheço, e pode sim ir embora quando quiser. Mas não faz isso, por favor. Eu não ia gostar. Nem quero saber se aguento, não quero pensar nisso.

Querido amigo imaginário, eu acho que por hoje chega, não quero abusar de você e da sua paciência. Não quero te alugar com todo esse sentir inútil. Não quero destruir o seu humor com esse coração oco que eu tenho. Não vou te pedir um coração, querido amigo imaginário, não vou te pedir nada. Nem posso, nem devo. Querido amigo imaginário, eu só quero que fique. Eu sei que posso esquecer todo esse falatório sobre amores e a falta deles. Sei que posso ser assim, sei que posso amar, sei que, algum dia, posso falar tão bem quanto você sobre isso. Quando eu conseguir falar de saudade como você, quando eu conseguir tirar esse resto trucidado de animal sofrido, quando eu trocar isso e preencher aquele pedaço destinado a um coração que sente você vai me amar de verdade, querido amigo imaginário? Você vai sentir saudades, vai me querer perto de você? Vai me ajudar com amores e com dores?

Querido amigo imaginário, eu espero poder amar, espero poder sentir um dia. Espero poder cuidar de você e te fazer rir sem ser com cócegas. Espero que você saia da minha cabeça e se torne alguém concreto, alguém de beijar, alguém de sentir, alguém de abraçar e dormir junto. Enquanto isso, amigo imaginário, eu tento me transformar em uma boa amiga imaginária pra você. Tento desejar que você me crie como eu sou, e que se sinta feliz por isso. Enquanto isso, querido amigo imaginário, eu procuro um nome pra você. Já tentei solidão, mas não combina contigo. Já tentei saudade, mas você não deixa eu me sentir assim. Já tentei tanta coisa! Agora, querido amigo, estou me esforçando pra poder te chamar de amor.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Harmonia

Beba meu sangue enquanto você pode
Deste coração sem veias que sempre explode
O cálice sagrado virou a maldição
Daqueles que agarraram a fé com duas mãos
E derramaram o sangue do cordeiro em vão

As cordas da sua lira enforcaram a melodia
Do canto da última alma que pedia
Um pouco de paz, ou apenas mais um dia

Esconda a sua inocência
De um julgamento precipitado
Só mais uma das sentenças
Que você poderia ter evitado
As marcas na parede
Os olhos inertes
Há quanto tempo que o tempo
No seu labirinto se perde?


Corte seus pulsos, sem minhas veias você não sangrará
É só mais um jogo que a sua mente insiste em jogar
Deitado no leito de morte da esperança
Um dia você já teve a inocência de uma criança
Mas agora ela só é uma lembrança

Fora da jaula o animal se mostra cruel
Receba a maldição como uma benção do céu
Fora da noite, em direção à luz
Apenas o medo te faz lembrar da cruz
Pergunte às nuvens, elas dirão “o culpado és tu”

As vigas que sustem a sua harmonia
Logo vão cair, mais dia, menos dia
Um pouco de paz da sua bela melodia

Esconda a sua inocência
De um julgamento precipitado
Só mais uma das sentenças
Que você poderia ter evitado
As marcas na parede
Os olhos inertes
Há quanto tempo que o tempo
No seu labirinto se perde?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Por favor, Toque

(Quero)
Leveza, encanto...
Algo pra lembrar.
Qualquer coisa que me orgulhe.
Um lugar pra onde ir.
Um som, uma voz...
Algo que me faça crer que dá pra ser.
Ou apenas crer.

(Alguém para)
acreditar,
amar,
falar qualquer coisa que não se entende fácil.
dizer "eu te amo" (sem que eu tenha que perguntar antes).
Alguém pra quem eu não tenha que mentir.
pra quem eu não queira mentir,
pra quem eu não consiga mentir.
sentir o cheiro e conhecer
reconhecer
saber
entender e não ter medo.

(Ter)
braços para abraços,
mãos para carinhos,
olhares para apoio e admiração,
e coração pra dividir.

(Um coração para ver meu coração e)
derreter o degelo,
quebrar as pedras,
e ficar. Comigo.
preencher espaços,
cuidar das feridas.
saber calar o "não" que vier do medo,
aceitar o "não" que apenas vier.
ler os avisos ao fundo
dizendo "Por Favor, Toque".


Sweetie .

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Habilidade Inata

Alma vendida, sem cicatriz ou corte
Cura para a vida, um final sem morte
O que você ama, eu prefiro viver sem
A vida não é nada sem o que você tem

As faces tristes olham para você
Sempre existe alguém para te ver morrer
Uma alma perdida em um labirinto
O que não me mata, eu não sinto

Presas expostas, vítimas na mira
O desafie, sinta sua ira
Resposta curta para o problema
Façam silêncio, o ódio entrou em cena

O que você tem é uma habilidade inata
Quem você não tortura, você mata
O seu nome foi escrito no sepulcro
Amor eterno, eu não o culpo

Eu me recuso a acreditar
Não faço questão de te ver voltar
Não cure a mim, cure meu amor
Cure minha fé, ela sente dor


Não há discussão quanto ao que deve ser feito
Arranque o coração que há em seu peito
Não sinta culpa, sinta aflição
Nada mais merece a sua atenção

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Casa Reservada aos Monstros

Sabe quando bate aquele desespero? Aquela dor, aquela angústia, vontade de sumir? Dá uma fragilidade tão grande que dá vontade de chorar... Será que é frescura? Bom, não sei. Mas também, ninguém sabe alguma coisa demais nesse lugar. Assim, com folga. Chorei como se tivessem roubado minha boneca de pano (ou meu carrinho de rolimã, que faz mais meu tipo). Chorei feito uma criança. Uma criança desesperada.
Não tinha muito como saber o porquê daquilo tudo, acho que perdi a racionalidade em algum tropeço pelo caminho. Mas não me importa muito, se quer saber. Havia um lugar tão maior que eu, que me fazia acreditar que eu era só uma criaturinha diante daquele pequeno (grande) refúgio. E, apesar de meio quebrado, meio escuro, meio sujo; apesar do abandono, aquele lugar me trazia uma paz estranha, como uma ordem no meio do caos. Era calmo, era tranquilo, o mundo parecia parar lá dentro. Era ruim para a maioria, mas, quando se quer que o mundo pare só pra juntar os caquinhos, é realmente um bom lugar. E era um bom lugar. Era perfeito.

Logicamente, eu preferia minha praia, meu conforto, meu sol. Preferia não chorar, se eu tivesse essa escolha. Mas esse mundo é como um gigante com dentes e garras enormes, grunhindo para mim quando não tem ninguém por perto. Aquilo me afligia e alguém ia ter que ficar com aquela angústia. E não seria eu.
Acho que foi assim que as velhas casas de madeira, que me davam medo quando eu era criança, se tornaram o melhor abrigo. Não sei ao certo se é por conta do barulhinho que a chuva faz quando cai no teto ou porque quando o frio se mistura com o cheiro da terra molhada aquela sensação aconchegante dá um soninho gostoso, mas parece que aquela escuridão, aquela casinha sem móveis, me fazia sentir que aquela casa está se mostrando pra mim. Assim, como ela realmente é. Porque a tristeza quando tá dentro da gente deve ser assim como aquela casinha: Fria, escura, vazia, quebrada. E protegida. Uma proteção única para uma dor única. Uma única casa para um poço de tristezas. Aquele lugarzinho era bem escuro, sabe? Tinha algumas goteiras, porque ele chorava pra dentro, porque sofria junto comigo. As madeiras rangiam, como os gritos de dor que eu queria soltar pro mundo todo. Não tinha sofá, não tinha cadeira, mesa, nada. Aliás, acho que nunca teve. Nem sei porque existia, acho que só estava me esperando. Só a mim, porque nem ratos, baratas, moscas, nada daquilo afundava junto comigo no meu medo, encarava meus monstros e nem sofria no escuro. Porque aquilo era só meu. Aquela dor era minha, só minha. Reservada para mim, encomendada por você.

Aquela casa era parte de mim, era dentro de mim. Era o caminho pro meu coração. Estava em pedaços, estava escuro e frio. Estava com medo, estava sozinho. Estava bem ali, na casa dos meus medos, a casa dos meus grandes monstros, na parte escura de mim. Naquela casa, prestes a desabar. Ninguém havia pintado, ninguém havia escondido, ninguém havia protegido aquele lugar. Não se protege dor. Acho que nem se esconde de verdade, as pessoas é que não querem ver.

Essas casinhas existem apenas pra mim. Eu tenho uma rua de casinhas, uma rua de tristezas. E cada tristeza que se vai, derruba uma casinha daquela. E cada tristeza que nasce, constrói outra casinha, com direito a monstros, frio, dor, sujeira, escuridão. Pacote completo, lotes ilimitados. Adquira já o seu.

Existe um mundo cheio de casinhas de madeira, uma para cada pessoa, e uma para você também. Elas ficam ali no fim da estrada à direita, um caminho de terra batida. Todo dia chove por lá. Aliás, você pode se dar ao direito de perder as forças ou sentar-se num canto, encolhido em lágrimas, porque aquele barraquinho vai te fazer sentir protegido. São casas nuas, feitas pra gente chorar, onde as paredes vão te abraçar até as goteiras avisarem para suas lágrimas que é hora da dor passar.


SweetMonster .

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quem de Nós

Você continua me dizendo que não há mais jeito
Mas eu te vejo em desespero cada vez que eu me afasto
Respirando como se o ar fosse rarefeito
E chorando como se nosso amor fosse casto

Eu continuo dizendo para mim mesmo que desisto
Mas entro em desespero cada vez que você se afasta
Não acreditando no que eu mesmo assisto
E me enganando que apenas isso basta

E entre pranto e insanidade
Um diz que basta e o outro, que não é suficiente
E nós continuamos sem saber
Quem de nós diz a verdade e quem de nós mente

E entre erros e perdões falsos
Um diz que sente muito e o outro que apenas não sente
E nós continuamos sem saber
Quem de nós diz a verdade e quem de nós mente

sábado, 27 de agosto de 2011

Brotar

Se acaso pudesse acordar um dia
E ver que sou mais do que vejo no espelho
(Porque os espelhos sempre diminuem o que não poderia ser menor...)
Talvez enxergar que há algo em minhas mãos.
Entre os dedos as coisas se perdem, me perco mais de uma vez nos teus.
E me espalho no chão até alguém resolver olhar.
Você pode achar que sou boba
E que ninguém pensa isso de si mesma
Mas, quando, da lama, eu brotei
Você me olhou, e não viu uma pétala.
Alguém viu.
Só que até as flores perdem a beleza,
E quando restou apenas o galho retorcido
Jogaram o vaso da flor fora
Lá, na mesma lama.
Porém, não esqueça jamais: Flores voltam a desabrochar.
Mais fortes, mais bonitas.
Acordam cobertas de pétalas e cara de sono
Estão sempre lá pra te desejar um bom dia.
Flores sentem e pressentem
Conhecem a ficção, criam o próprio mundo.
Tentam mandar nele
Mas não se manda nas grandes árvores ao redor
Querem ser eternas meninas bem-amadas
(Até para as flores isso faz falta)
Flores têm sonhos
Meninas também têm sonhos
Sonham em acordar
Abrir os olhos e voltar a ser flor.

FlowerSweetie .

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Necessidade

Você precisa de sonhos, você precisa de algo em que acreditar
Você precisa de sangue, nem que seja apenas para sangrar
Você precisa de desilusões, elas que vão te ensinar

Você precisa cair para sentir o gosto da poeira
Você precisa perder para entender a brincadeira
Você precisa perder uma metade para sentir que sua alma é inteira

Você precisa de mais do que tem
Apenas para entender que não precisa de nada
E saber que alguns tropeços
Não te jogarão para fora da estrada

Você precisa de alguns abraços
Apenas para se manter de pé
E ver que o céu pode desabar
Apenas para ter certeza de que tem fé

Um pouco de ar nos pulmões
Para ter certeza que não vai cair no meio do caminho
Um pouco de água para a sua sede
E para as tristezas, um pouco de vinho

Você precisa de um pouco dos outros
Para ver que você mesmo é suficiente
Você precisa sentir o vazio
Para entender o que você não sente

domingo, 21 de agosto de 2011

Com glacê, com afeto

Acho que todo mundo já pediu a alguém pra não sair da sua vida. Já quis pedir pra ficar, pra simplesmente ficar do seu lado. Se não isso, pelo menos uma pessoa já procurou algo no mundo que soasse doce, confortável. Eu sei que sim. E esse alguém fui eu. Assim como todo mundo, já tive momentos ruins, tristes. Não ruins como quebrar a unha, não tristes como pisar no rabo do cachorro. Momentos desses de odiar tudo, de dizer que nada importa. Mas, nesses momentos, existiu um pedaço bem grande do meu coração procurando desesperadamente qualquer ponta de conforto, de acolhimento, de tranquilidade. De gosto de doce, de cheiro de flor. Durante um único momento, a lágrima escorreu pedindo ao papai do céu que você eu queria que existisse – mas que não sabia bem se acreditava nisso – que aquilo simplesmente aparecesse. E apareceu. Veio remontando bons momentos: o domingo na praia, a guerra de travesseiros, as cócegas na cintura. Como se aquele sentimento que veio a partir dali, fizesse eu me sentir menina novamente, invadida pela doçura, enfiando novamente o dedo no glacê do bolo, deixando-o com um enorme buraco no meio. Mas era mais, era maior: era como entrar no coração do outro. Um coração doce, coberto de glacê. Ir para dentro de alguém, e sair suja de glacê. E não ter medo disso.

Mas eu sei que nem todo mundo reage igualmente diante da doçura: enquanto eu aproveitava o gosto daquilo, alguns apenas limpariam as mãos, e se privariam do sabor do outro. E se privar de sentir o outro talvez seja mais fácil, mas duvido que valha a pena. Ao menos pra mim, que preciso do afeto do açúcar pra viver. Acho que todos precisam. Mas alguns se enchem de medo e paralisam diante de qualquer sinal de açúcar. Outros espalham glacê em cada parte do outro, adoçam cada um. E fazem a maior lambança, até que se deseje morar no outro para sempre. E é pra isso que existe o coração. Ele absorve o açúcar e faz o afeto. E é assim que se faz um sorriso. É assim que criamos glacê.

Mas, apesar de não ser uma produtora real de glacê, eu sei que, lá no doce, tem um azedinho, desses que a gente pensa bem antes de ingerir. O responsável por milhões de caretas por segundo, e de alívio pós-careta. Acho que é disso que as pessoas têm medo, do limão do glacê. Do azedume líquido que a gente produz. E sem receita. Dos dias que se acorda "azedo", capaz de destruir qualquer receita de carinho. Medo de provar a doçura e ela sair da gente. Medo de provar uma vez e não conseguir provar de novo. Medo do doce, medo do azedo, medo do gosto que o outro tem.

Mas medo é algo normal. Desde que mundo é mundo que o homem tem medo do coração do outro. Medo das pessoas, medo de si, medo do outro. Medo. E sem saber, o coração produz o limão, procurando açúcar para o glacê. Até que o outro aparece, e traz o açúcar com ele. Isso pode ser bom. Isso pode ser ruim. Isso pode ser muita coisa, mas pode apenas ser. E que seja. Que seja doce.

SweetSmile .

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Noites Em Claro

As noites em claro se tornaram algo comum
E não representam mais nenhum perigo
Você não tem mais nada o que temer
Quando o escuro se torna seu amigo

Você não tem muita escolha
Mesmo que ficar de olhos fechados não lhe traga paz
Você reza por um pouco de tranquilidade
Mas você é aquilo que você faz

Mais uma noite sem sono e um novo ser humano terá nascido
Alguém que não teme, alguém que não é temido
Alguém que se tornou apenas um homem combalido

Mais uma noite sem sonhos e uma alma nova nascerá
Uma alma inocente, mas sem medo de roubar
De tomar para si o que a vida deveria lhe dar

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Olhos de Vidro, Cabelos de Mola

Quem a olha vê. Vê que é só uma moça. A moça de cabelo de molas que vê além do que há pra ser visto, através de seus olhinhos de vidro. A menina do sorriso amarelo e do riso fácil, que adora o som doce do sim e o eco de músicas que flutuam no ar e perpassam seus ouvidos, o barulhinho bom da respiração do gozo que lhe diz “eu te amo”. Mesmo assim, nunca acreditou no “tal de amor”. Em verdade, nunca soube o que é amor. Uma poetisa que não sabe amar, mas que expõe – em letras – seu corpo entre papéis e vozes vacilantes: sem roupas, sem máscaras, sem medo, sem pudor... seu corpo não sobrevive às letras, assim como sua energia não sobrevive a um olhar inocente e verdadeiro: ambos desabam de joelhos em meio aos escombros de si mesma, numa mistura de sentimentos, como uma onda que atinge seu coração de pedra com todo vigor, para que ela possa escolher se é bom ou ruim. Quer saber o gosto desses sentimentos, quer sentir cada um deles ferver em sua carne a todo vapor, quer poder escolhê-los depois de perder o sono por eles. Perder o sono, como já perdeu noites adentro, entre livros e discos, sentindo que pulsava água fria nas veias, mas com toda força que lhe é particular. Com aquela força que guarda em sua fragilidade, com toda fúria que existe em sua ternura, com cada molécula de plenitude que se esconde em seus atos. Plenitude que nunca a ensina a amar nem a odiar (muito menos a ser indiferente a) nada, mas que a move rumo ao desconhecido – ou sem rumo algum. Plenitude cheia de carinho. Carinho que cuida, que reconhece, que se preocupa, que sente um ciuminho tocar o coração. Uma menina de alma livre, e dona de uma mente libertária, um corpo libertário, um (repentino) prazer libertário... mas que ainda é só uma menina em noite de verão; correndo livre entre sonhos, sendo boba em ruas desertas e provocando olhares e sussurros curiosos. Correndo perigo em becos, mas com medo de si. Sendo escrita em bocas pelo caminho e construída a cada passo, em cada gesto. Aprendendo a ser alguém sem se de ninguém. Criando um caminho que não é seu, nem meu, nem do mundo nem de deus: um caminho que a faz segura e corajosa; que a ensina a viver, mesmo que não saiba direito como; mas que a faz ter certeza – a mesma que sempre teve - que seu desejo de desejar era sua causa primeira, sua razão, seu por que.

domingo, 14 de agosto de 2011

Sem Segurança E Sem Zelo

Que se elimine a vida em cada beijo sem vontade
Sem sentimento não há prisão, como sem espelho não há vaidade
Que a incerteza nos afogue como a ignorância nos cerca
E que a alma nos perdoe onde a boca sempre peca

E agora que nos encontramos nus em pelo?
Sem segurança e sem zelo
Sem abrigo contra o frio e o gelo

Nos restará algo além da sina?
Sem saber o que o caminho nos destina
Aprendemos o que a vida ensina

Teremos indulgência pela cegueira?
Não enxergamos a vida inteira
E nossos castelos são de areia

Teremos a culpa por nossos demônios?
Nessa parte da vida que eu não escolho
Me sobram apenas alguns sonhos...

Que se determine o fim por cada abraço sem calor
Não há erro sem aprendizado, como não há aprendizado sem dor
Que as más escolhas nos assombrem por uma eternidade
E um pouco mais, se for preciso para entendermos a realidade

E agora que nos encontramos nus em pelo?
Sem segurança, nem zelo
Para quem será nosso último apelo?

Não temos mãos nem braços
E não teremos mais espaço
Nem para beijos, nem para abraços

Teremos indulgências por nossos enganos?
Cometemos erros até quando nos calamos
E no fim não temos nenhum plano

Vivemos a esmo sem saber onde chegaremos
Não sabemos onde estamos nem onde estaremos
Mas nós sobreviveremos ao menos...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Caminho

Fica calma, querida!
Você é só uma garotinha diante de um mundo tão grande
Ainda haverá quedas, haverá dores...
Mas não há tempo pra chorar, existe muito a fazer:
Com esse comportamento você conseguirá apenas atrasar sua caminhada.
Diante do mundo você é uma doce gigante
E pode tornar-se um titã,
Basta esse sorriso e esse olhar infantil
E esse jeito firme e persistente.
Mas não se esqueça que você sempre pode mais,
Que conseguiria conquistar todo o planeta só pra si
Depois alguns beijos e olhares
E se não esquecer nunca de sonhar.
Se conseguir aguentar os tantos tropeções e vazios que irá sentir,
O controle pode ser todo seu.
Aquilo tudo espera só por você:
Pode ser que não dê certo agora,
Pode ser que o romantismo da vida queime bem na sua frente;
E ainda existem sonhos que não se realizarão.
Mas você deveria ter notado
Que o controle é todo seu.
Pra que ser uma criança indefesa
Se você pode ser uma menina-rainha?
Olha o horizonte, olha as estrelas acima...
Olha o mar ao redor, o caminho de tijolos amarelos,
E olha a pedra, não vá cair.
Cuidado pra não se perder, eu sei que é confuso
(Às vezes os espelhos ofuscam sua inocência)
E você perde todo o foco sem saber o que é ou não real.
Quando isso acontecer, lembre-se somente que isso não importa:
Basta fechar os olhos, quem sabe pode voar pra fora dali...
Eu sei que a realidade é cruel
E que nem sempre sabemos como amar,
Mas a vida ainda está disposta a te dar a mão:
Apenas aproveite enquanto ela ama
E se amá-la também, poderá amar o mundo inteiro.
Talvez se nunca se satisfizer com uma só vida por vez
Você consiga fazer tudo o que quer.
A vida te dá as mãos agora
Mas ela é tão traiçoeira que é melhor contar apenas com essas últimas horas.
Olha o sol, olha o mar...
Olha o mundo, ele é todo seu!
Para ir busca-lo o caminho é meio difícil
Mas se seus amores forem imperfeitos
E seus sorrisos forem bobos o bastante
Talvez sua inocência vença os males de hoje, não é?
Não queira sentir que as coisas são suas
Elas não vão caber em seu bolso,
Só estarão ao seu alcance
Mas poderá tocá-las quando quiser.
Pode ser que não ganhe, mesmo que lute.
Mas se não lutar sequer terá chances.
Pode ser que não tenha amores plenos,
Mas sem amores imperfeitos você não tem nada.
Seus sorrisos não devem se esgotar,
Nem aquela garra que você aprendeu a tirar de si.
Nem tudo em seus ouvidos serão musicas:
Algumas vezes podem ser o som do não gritando do seu lado.
Mas será que você não entende
Que a magia do não é torna-lo um sim?
Escrever a sua historia é seu único dever,
Mas não pense que o lápis não quebrará a ponta.
Não adianta escrever poesias na sua vida
Se elas sequer sairão do papel.
Mas lembra que é uma gigante
E que pode pisar nas pedras ao invés de tropeçar nelas?
Pode não enxergar as pessoas, pode não enxergar os amores.
E pode ser que os pise também,
Mas isso só te fara menos feliz.
Pagar pra ver nem sempre é tão bom,
Mas porque só ver se pode participar?
A satisfação não é tão doce quanto o caminho de pedras
E talvez o grande prêmio nunca chegue.
Mas não importa qual será seu final,
O que importa é como chegará até ele
Afinal, depois do fim não há mais nada a viver.
E qual a graça de chorar na cama quando as coisas terminam?
Eu me lembro da sua força, me lembro da sua persistência,
Lembro que nem se esforçava pra conseguir algo, apenas sorria.
Eu me lembro dos dias em que botões de rosa valiam mais veludo
Apenas pelo cheiro que eles tinham.
E você, lembra-se do tempo da simplicidade,
E do quanto trabalhou para consegui-la?
Agora é hora de dar ao mundo alguns desses seus belos sorrisos
Pra ele poder te trazer mais energia.
É querida, ninguém vence sozinho.
Mas você já sabia disso, não é?
Não peça pra fazerem algo pra você
Ou perderá a melhor parte do serviço.
Porque, afinal, pra que tanta doçura nessa grandeza,
Se não for pra amar no caminho?
Eu sei que chorar ácido dói
E que algumas topadas arrancam parte da carne,
Mas ainda existe cuidado, carinho...
E amores inocentes, além do seu.
As dores saram, mas não são esquecidas,
E você terá que conviver com isso.
Só que o mundo te espera, meu bem
E você vai deixar que a melhor parte seja levada embora por outra pessoa?
Corra, o dia tem poucas horas.
E, apesar da vida te dar a mão agora,
Ela não espera por ninguém.