quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Hoje É Muito Cedo

Conte-me, eu quero ouvir apenas mais uma das suas histórias
Eu sei que você já contou muitas, mas ainda não me cansei
Fique mais um pouco, é cedo demais para ir embora
Hoje ainda é muito cedo, e amanhã é tarde demais, eu sei

Fique mais um pouco, apenas mais um café
Eu ainda não sei o suficiente sobre quem você é
Eu sei que você não bebe, mas fique para a saideira
Ainda é muito cedo, e recém é sexta-feira

Ainda não aceito sua partida, mas entendo, você tem que ir
Sua presença me mostrou que o mundo pode ser um lugar melhor
Mas obrigado por ter vindo, feito parte disso tudo aqui
Espero ainda te rever em outro lugar pra te conhecer ainda melhor

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Amor Desperdiçado

O ar que eu respiro ainda me sufoca
Minha mente está parada, mas meu corpo se desloca
Os instintos agem por si só, não estou no comando
Meus pés se movem sozinhos, nem percebo e estou andando
Mas não sei se me afasto ou se me aproximo
Já nem sei mais o que é vontade ou apenas destino
E assim eu ainda vou te encontrar, mesmo do outro lado
Meu carinho agridoce, meu amor desperdiçado

Sou eu o que há de errado, e você não faz sentido
Somos pedra e caminho, silêncio e alarido
O que nos impede é o que nos impulsiona
E se não for por amor, pela dor nos abandona
Você se afasta, me deixa em um silêncio ferido
E eu dou as costas, me afasto combalido
E você vai me encontrar, mesmo que seja do outro lado
Um gosto agridoce no fundo, como um amor desperdiçado

O que pode restar é pouco, mas pouco já é suficiente
Meras brasas podem queimar mais que um fogo ardente
Então arraste-me para a fogueira, incendeie comigo
Sejamos o combustível para incinerar nosso próprio abrigo
Como um gosto no fundo da boca, as cinzas deixarão um rastro
A lembrança do abraço seguro e a esperança do amor casto

E assim nós nos encontraremos, mas só do outro lado
Trocaremos carinhos agridoces, de mãos e braços dados
Faremos finalmente sentido, não haverá nada de errado
Limparemos o paladar com nosso amor desperdiçado

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Cada Gota de Sangue

Há uma gota de sangue em cada promessa
E talvez o amor eterno seja mais lúdico que a vida eterna
Mas eu te prometo cada gota de sangue que eu tenho
Mesmo quando minha promessa é completamente interna

Há uma gota de vida por trás de cada beijo
Um pedaço meu que permanece em ti após cada abraço
Eu me entrego à tua entrega sem dúvidas
Sôfrego pela tua presença quando há excesso de espaço

E cada gota de sangue por trás de cada promessa
Carrega um beijo com uma gota da minha vida
Me entrego em tuas mãos, sem medo ou restrição
Pois agora só há cura onde antes era apenas ferida

sábado, 10 de setembro de 2016

Desafio de Hoje

Descobrir o limite entre a solidão e o isolamento por culpa da amargura. 
E o medo?
Não, medo eu tenho, de fato. E preciso dele. Ele vai me ensinar a ter limites e a enxergar o melhor modo de viver.
Mas viver com medo?
Sim.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Eu tenho uma teoria.
Ninguém chora por conta do filme, da música ou do livro. Eles, por si só, não te fazem chorar.

Você chora porque gostaria de estar lá.
Porque não gostaria de estar lá.
Ou porque já esteve lá.

E, em raras ocasiões, você chora porque parecia merecer estar lá.

Sim, ele estava falando com você.
Normalmente são desabafos: "você é covarde, se esconde da própria vida, afasta a todos, porque tem medo de encarar a vida à sua frente e olhar pras pessoas nela".

Talvez ele tenha razão. Mas, sabe, eu acho que ele não tem.

Acho que ele não sabe nada, assim como qualquer pessoa, na realidade.
Ela não está se escondendo. Ela está cada dia mais exposta. Vivendo da melhor forma que consegue, mesmo não conseguindo muito, afinal. Ela está cada dia mais disponível, mesmo parecendo alheia.
Quanto mais ela sorri, mais chove. Se ela gargalha por fora, por dentro é só trovoada. E você acha que ela se esconde, mas ela poderia simplesmente sair pela porta e jogar todo seu coração aos pés de quem quer que fosse.

Mas essa é sim a última vez.

Achou que iria ser pra sempre. Sim, foi um ano atribulado. Longo e movimentado. Mas passou, e ela não havia ficado tão feliz havia tempo. E era assim, ela queria se esconder, se esconder pra sempre, mas não deu. Achou que era a última vez. Mas não foi.

Mas, dessa vez será. Pode escrever que vai. Mesmo que demore um ano, dois, dez. Quando se for, será o último. Me dê uns meses.

Quando você ver alguém simplesmente dizendo a você como viver, garota, simplesmente saia. Com seu salto, seus óculos, tudo mais. Dê as costas e vá.

Embora, no fim, o sentido é apenas sermos uns dos outros, gostarmos de estar uns com os outros, ajudar e agradar uns aos outros, às vezes, isso é um saco. Não por não ser correspondido, essa é a parte óbvia, é a única garantia que se tem. É um saco porque, no fim, a gente está sozinha mesmo, garota. Eu te entendo. Tem gente que não se encaixa.

E eu odeio ter que simplesmente mostrar isso. Jogar na cara. As pessoas deveriam simplesmente entender. Uma garota faz o que uma garota deve fazer. E, o que ela deve fazer é apoiar quem ela ama, às vezes, ser ajudada.

Mas uma garota precisa de um limite. Estabeleça a sua parede. Não importa o que digam, é sua parede, não deixe que quebrem ou que pule. Quanto maior e mais resistente a parede, mais longe você estará da tempestade. Não acredite, e estará a salvo.

É assim que uma garota deve ser.

Pelo menos uma delas.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Manual prático de bons modos com depressivos

Cara, isso vai ser longo.

Compreendam: é um pedido, sempre é um pedido. Seja de socorro, de afeto ou de companheirismo.
Você não precisa mentir. Se não sabe como a outra se sente, pode dizer que não sabe. Isso também é acolher. Estar ao lado nas diferenças.

Se souber, provavelmente você não precisará desse manual, mas é sempre bom reforçar: diga, sempre diga. Diga que sabe que é duro, e que não tem palavras pra saber o quanto isso é e não é. Porque a gente luta pra ficar triste, só porque “ser triste” é sentir algo, e alegria não te é permitido. Diga que sabe que nem sempre existem motivos, mas você estará lá, independente deles existirem ou não.

Saibam que ela não sabe o que é. E isso é aterrorizante, porque você não consegue respirar, dormir, acordar, abrir a janela, olhar para as pessoas.

Sobre as pessoas, aliás: saibam que, quanto melhor você for, maior é a possibilidade de levar uma patada. Mas, por favor, tenham paciência. Ela só quer te afastar, porque chegou na fase da certeza de que vai machucar quem não merece, porque não faz nada certo.

Não a julguem. Ela já tem certeza absoluta que só está lá porque quer, porque é totalmente incapaz de ser diferente. Que é ela. Não é algo que ela TEM, mas o que ela É. E não, não é verdade. Ela não quer isso, ela não sabe como fazer isso desaparecer. E ela não existe nenhum lugar onde tenha escrito que ela precisa saber.

Ela vai resistir. Vai dizer que já foi pior. Vai dizer que consegue fazer isso e aquilo; sair na rua e resolver as coisas, então está tudo bem. Mas não está, e essa é a próxima lição:

Discorde.

Por favor, discorde dela. Ela vai dizer que é frescura. Ela vai se autodepreciar, ela vai diminuir tudo que ela sente. Vai dizer que está bem, que ela consegue, que não existem motivos para isso, e ela é forte. Diga que não. Que ela não é o que diz, que ela não está bem, e não precisa de motivos pra se sentir assim. Diga que ela é forte, mas se for pesado, ela pode dividir contigo.

Ela não precisa disso pra inflar o ego (que ego?) dela. Ela precisa disso porque as suas palavras ressoarão na mente dela quando ela estiver sozinha, não importa que palavras forem ditas.

Ela não está exagerando.

Ela não tem insônia porque troca a noite pelo dia.

Ela não tem sono o tempo todo porque é preguiçosa.

Ela não está de dieta.

Ela não é comilona.

Ela só quer passar o tempo. Ela come para passar o tempo, ela tenta dormir para passar o tempo.

Se ela não consegue comer, não adianta forçar. Se ela se sentir melhor emocionalmente, ela come.

Não pense que “ela sabe que pode me procurar”. Ela vai achar que incomoda. Ela não vai te procurar sempre que estiver mal. Quando ela estiver mal, ela não vai procurar ninguém.

Ela vai passar bastante tempo da vida dela pensando em motivos lógicos para morrer em paz. Ela vai tentar te convencer. Vai se sentir culpada por querer, se sentir egoísta. Você vai ser o que irá segurá-la. Não ser responsável por um pensamento ruim, ou uma vida destroçada.

Sei que é contraditório achar que não é querida e depois achar que sentirão falta dela. Mas é assim. Ela sabe que não faz diferença no mundo e nem nas pessoas, mas que toda morte tem algo de ruim para quem fica. E mãe é mãe, pai é pai, irmão é irmão. Talvez os amigos lamentem, mas a vida segue.

Ela não quer aparecer, ela quer mesmo morrer. Ela quer acordar amanhã e já ser velha o bastante para morrer sem causar muito choro.

Ela não sente nada, mesmo. O mundo é um grande monte de nada, e ela, também. Ela julga você por não deixá-la morrer. Ela acha que viver sem sentido é uma hipocrisia, que a felicidade é super estimada.

Ela acha que procurar a felicidade é uma ditadura, ninguém tem obrigação de correr atrás de vultos.

Então, por favor, não a julgue. Esteja do lado dela, mesmo que não ache que tenha algo a dizer que vá resolver. Diga o óbvio, que se importa e está tudo bem ela dividir o que se passa pela mente dela. Diga que ela não é o que ela acha que é. Diga que isso vai passar, e vocês estarão juntos nisso.

Não respeite o espaço dela. Não aceite quando ela tentar te afastar, e nem quando ela disser que quer viver sem apoio para sempre. Ela não faz para testar você, ela faz porque ela acredita, mas quer que tenha alguém que a convença do contrário.

Não acredite no que ela diz sobre si. Não é sobre ser feia ou bonita, inteligente ou burra. Nada disso. Ela sabe que não é inteligente como dizem ou bonita como tem sempre aquele que fala. Talvez ele acredite nisso, mas é só porque o bom coração dele fala mais alto. É só a coisa estranha dela querer que alguém discorde dela, para que isso a ajude a desacreditar de algum modo.

E, por fim, escute. Cara, abra seus dois ouvidos e escute. Simplesmente esteja lá. Ela vai parecer melhor, e depois pode voltar tudo. Vai ser frustrante. Mas escute MESMO, e diga tudo que você sente, sem julgamentos.

Sweetie.

domingo, 31 de julho de 2016

Era uma vez, uma mulher


Ela pode ter qualquer nome, então vamos chamá-la de Maristela. Maristela era uma mulher, Uma mulher que, como muitas, odiava a si. Odiava não pelos seus defeitos, mas por acreditar nas verdades da vida, ao invés dos risinhos e mentirinhas de cada dia, dos elogios maravilhosos das pessoas que a cuidavam, e que ela sabia que era por algum motivo, mas não saberia qual até que acontecesse. E isso, ela também odiava. Poderia enxergar um alfinete perdido na cama, mas as pessoas continuavam, e continuariam a enganando. Porque é assim, a vida ainda irá proporciona-la um futuro maravilhoso, cercado de viagens e amizades, amores superficiais e talvez até dinheiro se, por algum milagre do destino, um lapso a deixe ser esperta.
Vamos confessar aqui: Maristela era sim meio doida. Maristela cometia acidentes não tão acidentais; Maristela escondia marcas de acidentes como esse com marcas de sol (sim, dá pra fazer, se for superficial ou no meio de alguma das várias imperfeições); e, não dá pra negar que Maristela era mesmo uma tormenta.
Por dentro. Por fora, Maristela era a engraçada, a que relevava e levava todos os problemas de modo superficial. Ela perseguia vultos o tempo todo, se escondendo dos espelhos, olhando para o vazio na direção dos olhos e se dirigindo sempre ao nada. Era “avoada”, “esquecida”. Maristela era perdida emocionalmente dentro do corpo de alguém que, dificilmente, se encontraria espacialmente. Maristela procurava uma vida comum, onde as pessoas fazem faculdade, namoram, fazem sexo, tem hobbies, tem planos e acreditam em si. Maristela se procurava nesse mundo e não estava lá. Era engano em cima de engano.
Maristela fez boa parte do que se espera de uma mulher. Ela terminou a faculdade e se sentiu perdida, teve um namorado e chorou por ele. Depois teve outros, mas, por eles, ela não chorou. Maristela se odiava desde o início. Ela tinha a ousadia de saber, de se reconhecer, com sua pequinês num mundo grande. Ela odiava a si, odiava saber sobre si mesma, odiava estragar a boa vida dos seus amigos. Odiava sua mente e, principalmente, odiava seu corpo, desde que teve ciência dele. Maristela foi a menina que se forçou e se tornou mulher. Que se forçou da primeira vez, porque achava que era assim que precisava ser, já estava na hora. Que, como toda garota, em seus momentos de normalidade, quis tentar na segunda, e foi bom. Bom, mas não perfeito, como as pessoas dizem. Porque os homens transavam consigo mesmos. Porque ela não era, e em momentos como esse, não há como esconder. Porque, às vezes, era bom, a tempo dela ter esperanças de que a próxima será melhor. E ela quis e quis novamente. As humilhações contra ela, seu corpo, sua forma e seu jeito foram seguindo. Aquele “devia ao menos ser boa de cama”, “mas as roupas enganam mesmo”, “você não tem vergonha de ter o corpo desse jeito?” a fizeram forte, e Maristela foi reforçando a sua verdade na fala deles. Aprendeu a disfarçar a cara de choro, a erguer a cabeça e a ler o olhar de “é melhor ir agora” antes que algo mais seja dito e ela não consiga. Maristela aprendeu quem era de um modo inesquecível. Ela desistiu de tudo, mesmo sendo uma jovem mulher, mesmo aos 26, mesmo com seus desejos de mulher sexualmente ativa.
Mas não era só sobre sexo, sobre correr para um lugar seguro pra chorar, humilhada e contorcida, com tanta massa corpórea por centímetro quadrado que talvez ela sumisse mesmo. Era sobre quem ela era. Sempre que pensava nisso, ela não ficava triste. Com o tempo, ela nem se importava. A vida é o que é. Ela se odiava por ser, por ter se permitido estar num lugar onde ela saberia que, cedo ou tarde, ela teria que mostrar o rosto, e que não seria bom. Então, ela estava quase se partindo, quase se esvaindo, quando resolveu que, já que tinha que ficar, precisava ser prática. Olhou para si e disse: “ok, Maristela, você está aí e não pode mais negar. Vai ser humilhada sim, e vai seguir sabendo quem é, mas não está funcionando. Precisa ser melhor, se esconder melhor. Você precisa se esconder atrás de quem dá certo. Vamos criar um nome novo, um jeito novo e tudo mais que precisar”. Então, não podia ser diferente, e veio uma nova “mulher”. Já que ela precisa de um nome, vamos chamá-la de Nise. Nise está aprendendo a existir. Ela é tudo o que precisa ser, e seu único parâmetro é não ser Maristela. Nise é legal, é forte e não leva desaforo pra casa. Acham que a Nise é esperta, inteligente, capaz e todas essas coisas que as pessoas acham umas das outras ou que mentem umas pras outras. Nise se meteu com trabalhos que exigiam mais reflexão do que ela podia suportar sem trazer Maristela à tona, e isso era um problema. Passado algum tempo, Nise incorreu na falha primordial de ter seus próprios sonhos. “Então isso é que são amigos”, ela pensou. E sentiu, pela primeira vez, o sabor da mentira. E era inebriante, ao menos até o momento da ressaca. Sempre que se enchia de si, doía no dia seguinte. Era um momento cor de rosa e um momento meio cinza. As coisas mudavam um bocado, e era demais pra ela. Era maravilhoso ser a Nise, mas também era mentira, e ela nunca devia ter se permitido daquela forma. Aprendeu a não permitir que ninguém se sobreponha a ninguém, isso era ser a Nise. Mas, de algum modo, aquilo não era aplicável a ela. Ela sabia que a Nise era uma fantasia com limites. Sabia que a Nise era um disfarce bem elaborado, que as pessoas simplesmente percebem isso. Sabia que continuariam falando tudo aquilo e Fazendo tudo aquilo, independente do rosto que ela tivesse. Sabia que pessoas maravilhosas eram pessoas maravilhosas, mas ninguém é perfeito, e alguns dizem o que pensam, outros, não.
Mas veja bem, não foi de um todo perdido, a Nise ensinou à Maristela a mentir melhor, a se esconder com maestria e a evitar a humilhação que ela sabia que sempre vinha. A Nise foi um valioso aprendizado que a colocou pra frente e a cercou das melhores pessoas, inocentes pessoas que jamais saberiam, se não ultrapassassem um certo limite. Mas havia um problema. A Nise ousou acreditar.
A Nise se pôs em um lugar que tinha tudo para ser diferente, um novo começo, sem as mesmas necessidades de perceber os olhares de expulsão. Mas Nise era só um disfarce. Uma roupa de adamantium muito bem elaborada. Dentro dela, estava a Maristela. E ela foi junto.
Agora, elas estão juntas, tendo que explicar para os que acreditaram nela que não deveriam ter feito isso, planejando mil formas de dizer que não, desculpe mas aquela lá não existe, podem até me dar pontapés agora. Agora a Nise atingiu seu prazo de validade, ela está evaporando diante dos olhos de Maristela, que agora disfarça bem melhor.
Vamos ver se disfarça bem o suficiente para não constranger.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Deixar pra Trás

Inevitavelmente, meu olhar repousaria sobre o seu.
Seria difícil não notar.
Para mim, era impossível não querer.
Mas eu estava errada. Era possível, sim.

Era possível e aconteceu. Agora, olhando pra trás, percebo que esse tempo, esse ano passado, foi importante à medida que fez sentir-me poderosa, incrivelmente poderosa. E você estava lá. Você soltou a primeira faísca no meio da palha que eu era quando estava tão frágil. 

E "pegar fogo" foi a coisa mais importante que me aconteceu. Me salvou de ser a futura coadjuvante por toda minha vida. Você foi importante, não só por estar por perto (até porque você nem sempre esteve, não até que eu tivesse que ligar "pra dar um oi despretensioso"), mas porque você foi o responsável pelo início. Mas só pelo início. 

Naquele entremeio, foi tudo muito divertido, você me salvou de me sujeitar a uma relação doentia, mais uma. De me rebaixar, de aceitar o que fosse, por que era assim que a vida era, por que os outros poderiam ter, mas não eu. Hoje, eu olho no espelho e vejo uma perspectiva no futuro. A chance de ser "normal", "como as outras". E, se eu tivesse que escolher um momento decisivo, eu diria que esse momento foi você.

Mas foi só. Eu não me meti nisso sozinha, nós sabemos disso. Foi você que sabia onde pisava mas, deliberadamente, se esforçou pra me fazer querer de você algo que você não podia dar. Foi você quem me deu uma perspectiva racional mas, emocionalmente, me levou à um penhasco de onde eu não permitia me jogar.

Uma parte de mim gostava. A bem da verdade, uma parte de mim gostava de saber que era possível que EU pudesse amar, que EU era como qualquer outra. E eu te amava, sim. E descobri que não deveria sentir vergonha, pois eu só queria estar ao seu lado, cuidar de você, falar sobre o meu dia e ouvir sobre o seu, transar com você e, depois, aproveitar esse sentimento cego e dócil.

E essa foi a coisa mais conflituosa pela qual eu já passei. Pessoalmente, eu sabia que me fazia mal, mas não queria sair de lá, sair de você. Como uma criança que só quer viver o encanto de conhecer o mundo eternamente. Mas esse encanto se foi. O amor, o que eu achei todos os dias por todo esse ano (e um pouco mais) que não iria embora nunca, que sempre estaria lá de algum modo, desesperançoso e, de novo, manco e sombrio, se foi. E eu estou aqui.

Estou aqui recebendo suas mensagens e ligações, ouvindo a sua voz e te vendo falar de trivialidades. Estou aqui vendo você de um modo trivial e terno, alguém que eu nunca deixaria na mão, mas que ficou, emocionalmente, pra trás. E eu odeio quando alguém importante fica pra trás. Mas, dessa vez, abre-se uma exceção. Foi importante deixar você pra trás, foi libertador. Me sinto idiota, porque achei com todas as minhas forças que era pra sempre, que era amor e que você estaria atrelado à mim pra sempre, mas não foi assim. Mesmo quando você me fazia claramente mal, quando a vida, os meus amigos e a minha própria mente deixavam isso claro, eu queria te amar. Porque era bom ter alguém que me ajudou tanto por perto, porque você era a pessoa lógica a se amar, mesmo que nós não concordássemos com coisas que eu julgo vitais, mesmo que eu não me visse tendo uma vida contigo.

Te ver ficar pra trás, perceber que não foi você quem me emancipou, quem fez isso fui eu, que você não era o meu farol em alto mar (mesmo sendo a luz que eu queria perto)... Ver que eu não preciso de você, que não é justo comigo te amar só porque "é lógico" ou porque é bom sentir isso, é bom, no fim das contas.

É libertador.
É emancipador
Te deixar pra trás,
Porque você não me emancipava, 
Não me libertava;
Você só me tinha,
E "ter" não é o suficiente.

Agora, apesar do que possa parecer, eu sei me amar, sei como é (pelo menos achar que sei o que é) amar alguém e, mesmo assim, amar a mim, sem ninguém fazendo o mesmo.

Isso é bom, é libertador,
E só eu posso me libertar.

Você não me quis livre,
Não me quis fora de você
(E, ainda assim, aqui estou eu).

Ainda assim, hoje, talvez um pouco mais estranha, estou eu

Um pouco mais,
Sweetie.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Realidade Superestimada


Algumas pessoas preferem a sinceridade. É claro que preferem, sinceridade é tudo, e ela nos faz crescer e progredir. Pessoalmente, eu acho a sinceridade superestimada às vezes. Talvez eu apenas não saiba lidar com ela, e não me importaria em admitir isso. Mas, a verdade, é que eu não gosto dela em alguns momentos, em alguns aspectos.

Porque a verdade é que você não está aqui. Você não está ao meu lado, nem fisicamente e nem sequer afetuosamente. Talvez eu seja apenas algo que você não tem, realmente, talvez isso tudo seja uma grande porcaria de lugar em que nem sempre o que as pessoas dizem que você merece é o que você tem. Ninguém é dono do tempo ou da vida, no fim somos apenas uma pequena peça andando sozinha e dependendo do resto do tabuleiro pra vencer o jogo. Essa é a verdade, mas não é essa verdade que me incomoda.

Não me incomoda não estar no controle, porque, apenas de controladora, eu já aprendi que esse é o tipo de coisa que eu não terei, então simplesmente lido com essa frustração. Mas você... isso não é apenas frustração, é algo que simplesmente não vai embora. É aquela coisa na sua cabeça, gritando "a verdade" no seu ouvido. Aquela verdade que eu simplesmente não me importaria em saber. Aquele pedaço de realidade que nos faz reviver aquele momento, o momento em que eu não podia mais negar tudo aquilo.

Será que você sabe que isso tudo é sobre você? Será que você sabe que é mentira tudo que eu te digo? Será que você sabe que não FOI importante apenas, mas que realmente é? Bom, talvez seja melhor que não saiba, que não saiba de fato que você me fez uma pessoa melhor. Mais triste, mas melhor. Mais fraca, mas que disfarça bem melhor agora. E isso sim é o que há de importante, no fim. Não a verdade nem nada assim, mas o que você é capaz de fazer as pessoas acreditarem. Mas você sempre me prometeu honestidade, e isso era o correto a se fazer.

Mas eu não quero a verdade. Queria que você soubesse disso, eu nunca quis a verdade. O que eu queria era você, do meu lado. A chance, a pequena esperança de tornar reais todos aqueles planos bobos que fazíamos quando ninguém estava olhando. Aqueles "eu sempre quis" que você realmente estava ouvindo, e que planejava em segredo realizar. A verdade é que todas aquelas pequenas sugestões sobre seus sentimentos, todas as palavras e as idealizações, todas as MENTIRAS é o que eu quero de volta. O que eu quero é você, e sempre quis. Não "a qualquer custo", mas qualquer parte sua que puder vir. Não pelas ações, pelos planos e pelos mimos, mas porque eu quero apenas estar aí pra você e ter o mínimo motivo pra acreditar que você está aqui, também pra mim. Com amor ou sem amor, mas que esteja. Porque, e eu não me importo com o que digam, você me faz bem. Mentiras ou verdades, às vezes você me deixa irritada, às vezes você me deixa preocupada, mas estar com você, perto ou distante, é sempre a melhor parte do meu dia.

Porque, quando eu acordo, eu me pergunto onde você deve estar. Quando acontece algo bom, eu quero dividir contigo, e quando acontece algo ruim, eu sei que saber que você está me ouvindo, por qualquer motivo que seja, e que eu certamente não quero saber, vai fazer com que o bolo na garganta se vá, nem que seja apenas por aquele momento. Porque eu não planejo a minha vida contigo (porque não posso, por culpa da verdade), mas sonho com as minhas conquistas e nem sequer posso evitar imaginar como poderia ser se você estivesse presente, de qualquer modo. Quando eu vou dormir, eu penso se eu deveria te procurar antes, saber sobre o seu dia - porque eu realmente quero saber - ou se eu devo simplesmente ir dormir, como se nem lembrasse da sua existência. E eu normalmente escolho a segunda opção. Porque? Por causa da verdade. Porque a verdade é que você pode estar procurando algo ou alguém pra preencher um espaço que, em mim, já está preenchido. Porque esse esse espaço não é e nunca será meu, assim como o meu espaço não pode ser de mais ninguém nesse momento. Porque talvez você esteja romanticamente ocupado, tentando esconder a sua insegurança e organizando as palavras pra ligar pra alguém. Porque talvez você esteja sozinho, vendo um filme, um jogo ou apenas fazendo nada, mas você dificilmente está pensando em mim ou em como eu estou agora.

Será que você sabe que, de algum modo, sempre acaba sendo sobre você? Talvez você saiba, mas eu nunca mais irei dizer, porque, sempre que eu penso em tocar no assunto, você me manda AQUELE olhar, de "eu não posso te falar o mesmo, porque seria mentira". Sim, a verdade é subestimada. Nesse momento, eu só queria que você ocultasse a verdade, que você planejasse bagunçar meu cabelo e tirar minha roupa, pra gente terminar se escondendo de alguém por fazer algo contra as regras e ficar no lugar menos romântico do mundo, fazendo da nossa história algo que ninguém pode tirar de nós.

Nós tivemos nosso momento, e eu lembro de cada um deles. E, a maior lembrança é a verdade, a pior verdade, que é que eles estão no passado e nunca estarão no presente ou no futuro. Eu sei disso por conta da verdade.

A verdade é que eu sou só uma bengala na qual você se escora enquanto sua perna dói, mas quando tudo fica bem, você a coloca atrás da porta. A verdade é que, inconscientemente, você me mantém por perto porque sabe que eu estarei aí a qualquer hora e pra qualquer coisa, e isso não é fácil. E a verdade maior de todas é que você SABE que eu só quero cuidar de você, mesmo que seja apenas a bengala.

No fim das contas, a verdade é que você sabe sim que tudo isso é injusto, então, mesmo querendo alguém que faça o que eu faço por você por perto, mesmo não sentindo nada, você é gentil comigo, tentando cuidar de mim, às vezes nem se importando, mas sendo atencioso e bondoso. A verdade é que você tenta amenizar, me levando à uma situação que grita que eu mereço alguém que me ame, que esse alguém não é você, e que eu preciso seguir em frente porque, cara, não é possível que esse alguém não exista.

No fundo, bem no fundo, você sabe que não tem o direito de falar de coisas que você não sabe e fazer promessas que não pode cumprir, então você não me diz, de fato, que eu encontrarei alguém que me fará feliz e blá blá blá, porque eu NUNCA te perdoaria se não encontrasse essa pessoa. E, mesmo não conseguindo ter raiva de você, mesmo nunca ficando, de fato, magoada com você, isso seria mais uma coisa injusta na qual você estaria envolvido, e acho que você, seja lá por que motivo, não quer mais errar comigo.

A verdade é que eu só quero aquela mentira doce, eu só quero ser enganada e desfrutar da esperança que eu já tive, mas que foi embora quando eu falei que você não gostava de mim, esperando que você usasse a deixa pra falar que sentia mil coisas, mas você não me corrigiu, e aquela verdade ficou ecoando no vazio. A verdade é que a mentira é superestimada, e que nem sempre todos querem se livrar dela.

Sendo justa, eu tenho o direito de ter esperanças, mas não tenho, porque não posso pensar com o coração. Porque, apesar de sempre que eu conhecer alguém e planejar algo com ele, parece errado deixar você pra trás, porque eu sei que iria até você no momento em que você dissesse que eu tava errada, como um filhotinho que espera pra ser adotado. A verdade MESMO é que eu não me incomodo de te sentir o que sinto, porque a minha vida não parece certa sem você. A minha vida nem parece mais minha se você não estiver presente de algum modo. A bem da verdade, eu quero ser sua, e já sou, e, enquanto esse terremoto não acabar, eu não sei se vou querer mais alguém, porque, agora, eu só quero a mentira que me leva até você.


SweetieSour .

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Pouco, Quase Nada

Deixo que minha alma seja arrastada pelo vento
Minhas feridas abertas até o osso conhecem o frio
A tempestade que se derrama sobre mim ao relento
Parece servir para preencher meu olhar vazio

Meus dedos já estancaram seu sangramento
Posso voltar a cavar minha própria sepultura
Meus olhos vertem lágrimas em agradecimento
Por finalmente ter encontrado a minha cura

Respiro o ar gelado e me desespero por dentro
Agora resta pouco, quase nada do que já fui
Ainda haverá vida bem depois do meu próprio tempo
Mas a mente não se aquece e a decisão não diminui

Onde haviam chamas, agora há apenas brasas ardendo
E mesmo que haja luz, os olhos já estão fechados
Não há mais o que ver, e o que eu vejo não entendo
Resta pouco, quase nada que valha a pena ser lembrado

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Testamento

Deixe minha poesia contar minhas histórias
Meus versos partidos serão minhas memórias
Como as cicatrizes entregam as feridas
Minhas cinzas serão a prova da minha vida

Minhas páginas serão meu único testamento
Meu DNA impresso em cada letra e lamento
Cada palavra contará um fragmento do meu passado
E as vírgulas dirão o que foi deixado de lado

Uma história com início e meio, mas sem fim
Afinal, o ponto final não cabe a mim

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Tingido de Vermelho

O pulso rasgado na minha boca deixa o sangue da culpa verter
Mate minha sede com vida, que de fome eu posso morrer
Com a alma dilacerada, eu me jogo em direção às suas garras
Da liberdade só me resta a solidão, e do medo, só as amarras

É um crime o que eu sinto, mas não resta mais caminho de volta
Não há arrependimento, nem descanso nem para a alma morta
Lacrimejando, encaro os olhos de um estranho no espelho
As olheiras denunciam o cansaço, e as mãos tintas de vermelho

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Morte Sem Dor

Traia o meu amor com a sua ausência
Enquanto seu olhar revela displicência
Distante enquanto sorvo seu dissabor
Afago sem carinho ou morte sem dor?

A cicatriz do corte ainda verte vida
A carne curada, mas alma ainda ferida
Aproximo meu abraço, distante é seu amor
Beijos sem vida ou morte sem dor?

Cometo o crime sem culpa de sentir a falta
Por asfixia seu abraço decerto não mata
Respiro sua distância e gelado é seu calor
Percepção sem compreensão ou morte sem dor?

terça-feira, 7 de junho de 2016

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Espaço vazio


Eu quero me esconder dentro do seu abraço,
Porque ele é o único lugar seguro e doce para mim.
Porque, dentro dele, algo me diz que posso ser quem sou
(mesmo que eu não saiba o que isso significa).

Eu quero poder ver você, me encontrar nos seus olhos;
Aqueles mesmos olhos que me fazem gelar o coração.
E, com aquele sopro frio, me sentir viva novamente,
Porque todo o calor que tenho é somente uma fuga sem fim.

Eu quero voltar a você, que é meu lar
Porque eu estava me afogando, e você era terra firme.
Porque o que eu tenho de melhor é o caminho até você
E talvez você ainda sinta que sou real.

Em algum momento, você me disse isso, que eu era seu apoio.
Que era a única a estar ao seu lado, e ainda estou.
Talvez não a única, provavelmente era só uma muleta.
Que te dava energia quando o mundo drenava de ti.

Um dia você disse que eu havia te tirado de uma vida automática.
Com objetivos, mas sem viço
Que eu te salvei de ser um "fracassado rancoroso".
E o que isso faz de mim?

Mas esse foi o grande erro,
Isso não é sobre o que se sente, mas sobre o que se pode ter.
E eu sou apenas alguém que você não tem
E é por isso que você me quer tanto.

O erro foi todo meu, e eu preciso consertar sozinha.
Construí um lugar pra você, mas você nunca esteve aqui.
E agora é apenas um espaço vazio, com o ar de deboche.
Você discordaria de mim, mas as suas ações, não.

SweetieSour

domingo, 24 de janeiro de 2016

Dias ruins

Deita.
Repensa toda a sua vida.
Chora. Sozinha, como sempre parece ser.
 
*Telefone toca. Mensagem*
"Oi, você tá aí? Tô mal, preciso conversar"
*Enxuga as lágrimas, engole o choro*
"Oi, o que houve?"

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Ilhada

As vezes as coisas não são o que parecem ser. Mas as vezes elas são, sim.
Talvez não seja assim pra você, mas a vida, a minha vida, é como estar numa ilha. Nessa ilha não tem ninguém e não lhe é permitido tocar em nada. Você não tem forças pra lutar.
As mesmas pessoas que te incitam a lutar são as que te impedem de tocar em tudo. As vezes, não.
Cada dia que passa, os barquinhos vão indo embora. Apenas indo. E isso não traz alívio.
Aquele barquinho é uma oportunidade de seguir. É o apoio das pessoas, ou apenas se sentir confortável. As pessoas são as mesmas de sempre, a vida também.
Você se torna, aos pouquinhos, os seus próprios demônios. Estar dentro de você é insuportável. Ruim, e aumentando.
E então, voltando. Tem os barquinhos. Eles são os refúgios. São o conforto trazido pela música, pela luta pelo que eu acredito e o conforto distante e próximo. E eles se vão.
E você tem que continuar, porque você não tem coragem. Tem apenas medo e uma falta de energia que te surpreende até que você esteja respirando. Então você segue. Você se dedica à sua música, porque precisam de você. Se dedica à sua luta, porque você pode fazer a diferença e se dedica às pessoas, na esperança de que os barquinhos voltem para cada um desses cantinhos que antes te preenchiam.
Eu entendo, sabe?
As pessoas querem ajudar e se esforçam pra isso. Ao menos, algumas. E eu não realmente me SINTO FELIZ, ou satisfeita. Mas, fora de mim, existe o sentimento de "que bom, obrigada". E esse é o melhor que eu posso ter.
Morrer é difícil, porque a morte é boa. Ela expulsa tudo. Mas viver, mesmo sendo um pé no saco, é o que resta. Porque você tem coisas a fazer e responsabilidades para com as pessoas.
Não que você seja insubstituível, mas se tudo que você faz é pra que as pessoas fiquem melhores, porque simplesmente dar a elas algum sofrimento? É isso que me prende. E é isso que me deixa aqui.
Vamos seguir. Não dá tempo de falar mais. Se lava, maquia essa cara e vai lá. Mas não toca em nada, tá?
É assim que é e lutar fica difícil.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Out

Não importam as suas intenções:
Nem você, nem ninguém tem o direito de me dar esperanças de algo que você não sabe se existe.
Mas
Fora isso
Tudo bem.
Obrigada.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Vida e Morte

Alguns acham que abreviar a própria morte é um ato covarde.
Quero que saiba que covardia é viver pra não machucar os outros. Morrer é corajoso, é honesto. A morte é a dançarina mais leve: ela te faz flutuar. A vida é um pisão no pé. De salto.
Dor é uma coisa com a qual a gente acostuma, mas é cansativo, sabe?
É cansativo ficar sem respirar porque o choro entupiu o seu nariz. É cansativo e é pesado viver. E cada dia, morre um motivo. De repente, você perde a perspectiva. E aí, tudo bem.
Tudo bem se você "se arranha por acidente", se você "caiu da escada" - olha que desastrada - e agora a sua perna está cheia de hematomas. Tudo bem se aquela parte escondida da sua coxa direita fica cheia de marquinhas, porque você começa a testar o quanto em dor você consegue sentir (e as imperfeições do seu corpo irão disfarçá-las). Tudo bem. Ninguém está procurando isso.
Existir se torna fácil. Você simplesmente está lá, e as pessoas estão lá também. Elas dizem que você fica ótima de batom, você diz que te ajuda na auto-estima, mas a verdade é que é literalmente mais fácil desenhando um sorriso de batom no próprio rosto. E sim, isso é possível. Cobre aqui, descobre ali. E o que eu não estou cobrindo, certo?
Morrer é a parte mais difícil. Pra morrer, é preciso coragem.
A única coisa que eu tenho é um talento pra me esconder. Me esconder em plena vista. Sorrindo sempre, fazendo as mesmas piadas. Estando com pessoas que não tem nada a ver comigo, apenas porque "não é bom para você estar sempre trancada". Porque quando você some, as perguntas vêm. E elas vêm porque eles se importam? Demora um tempo, mas você percebe que não. As pessoas não gostam do que é diferente. Se foge à norma, é melhor "consertar". Foge à norma não "procurar a felicidade", mas cada um pode ter aquilo que pode, e a felicidade não é como o ar, a felicidade é questão de ter. Então eles perguntam, eles dizem "fiquem bem", e então eles vão embora. Porque eles não se importam, eles apenas querem saber que, mesmo do modo mais genérico possível, tentaram falar algo positivo pra alguém que estava "estragando a paisagem" da vida dela. Felicidade é questão de ser. Como a coragem. Não tenho coragem, e não tenho felicidade.
Então eu digo que está tudo bem. E não tenho ninguém pra dizer que não está. Ninguém que se importe. A gente veste a máscara esperando que um dia ela grude no nosso rosto. Faz a maquiagem esperando que algum dia alguém perceba. Mas ninguém perceberá, porque ninguém se importa.
Alguns acham que morrer é um ato covarde. Morrer é um ato nobre. Abreviar a morte é reconhecer que a vida já te deu tudo que havia para te dar e que você já contribuiu com tudo que podia também. Morrer é corajoso, viver é que é difícil.

Um pouquinho mais,
Sour.