domingo, 30 de dezembro de 2012

Sobre Algo Novo


            Sempre que me falam de algo novo, eu ouço algo sobre fazer, falar ou ser algo que você nunca foi. Mas acho que isso não é possível. Existe algo na gente que nos integra ao mundo. Algo que é como o nosso lugar no universo, a nossa energia pairando por aí, tocando a natureza e as pessoas. E isso é algo só nosso, mesmo que ninguém entenda. É o nosso mundo, incompreendido, incompreensível. Com nossas cores (ou não-cores), nossos sons (ou nosso silêncio). Nosso coração pulsando, às vezes firme, às vezes fraco, mas mantendo o nosso mundo girando, nossa energia circulando pelo mundo, nosso lugar fluindo, cruzando com outras vidas, preenchendo nosso mundo com sentimentos, porque não existe indiferença nesse nosso mundo com outras pessoas (“portanto, se você é um psicopata, pare de ler isso agora”, já dizia o sábio da barba curta e cabelo comprido, Bruno), talvez apenas a não percepção, porque nem sempre estamos dispostos a olhar. Ser novo não significa ser outra coisa que você viu em alguém ou em algum lugar e você acha que vai deixar a sua vida mais fácil. Embora qualquer um possa ser o que quiser, é algo que já é nosso, que sempre foi, que é meu ou seu, eu ou você.
            Mesmo que façamos algo que nunca fizemos, aquilo não é algo que cresce ou nasce, não é como comprar um sapato novo ou uma roupa nova. Não dá pra transplantar outra forma de sentir as coisas, apenas fazer diferente. Ser diferente. Re-sentir, resignificar. Quando eu ouço alguém em dizer “seja alguém completamente novo no ano novo”, ou “ano novo significa vida nova”, eu apenas não acredito. Embora nós possamos trabalhar pra sermos ou termos algo que nos faz sermos ou nos sentirmos melhor, que vá fazer bem pra quem a gente quer bem, aquilo é apenas uma parte de você que você não conhecia. Uma parte selvagem do seu mundo, aquela que você não sabia que existia. É algo que surpreende e nos faz acreditar que mudamos, que somos algo que não éramos, mas, lá no fundo, a gente sabe que é apenas algo que você nunca havia reparado em si mesmo, que você é muita coisa e pode ser qualquer coisa, conquistar seu lugar no mundo, ter seu espaço no mundo dos outros, ser conquistado por alguém que você achou que conhecesse, mas tem seu lado selvagem. Quando alguém diz que você não tem nada de novo, mesmo que você tenha feito o impossível pra ser diferente, você nota que suas possibilidades são inesgotáveis, mas pode existir alguém querido que sabe melhor sobre o seu mundo selvagem do que você mesmo. Realmente sinto muito por ser aquela a te dizer isso, mas você não vai ser outra pessoa nesse novo ano, você não vai ser melhor ou pior. Mas você pode ser diferente, ser feliz de modos que você ainda não pensou, fazer coisas que você ainda não fez, falar coisas que você ainda não falou. Ser agora o que você quer ser aos 60 anos (prestem atenção nisso, quando chegarem aos sessenta não digam que eu não avisei). Isso faz de você diferente. Seus sonhos fazem de você diferente. Desbravar o seu mundo é o que faz de você alguém novo, especial, com sorte, com sucesso, com amor, com o brilho novo no olhar ou todas aquelas coisas que a gente deseja pro nosso querido quando o ano muda.
            Então, na contagem regressiva, quando todos estiverem se abraçando (pela primeira e única vez no ano), deseje apenas ser você, redescobrir-se, desbravar-se, fazer girar o seu próprio mundo. Continue sendo o que lhe satisfaz, mas crie novas perspectivas. Exercite o que há de desconhecido em você, não deseje algo que não é seu, não gaste tanta energia sendo alguém que você não é. Seja o mesmo de sempre. Tenha defeitos, tenha virtudes, mas sejam defeitos e virtudes que você não conhecia. Conheça seu lado negro e seu lado Jedi. Concentre toda a sua energia e domine-a, canalize-a para o que te satisfaz, mesmo que ninguém entenda.
            Nesse ano que vai começar daqui a pouco, eu lhes desejo que sejam os velhos novos incompreendidos, que voltem pro velho PP, pra nova Sweetie, pro novo Bruno, pra nós que, ninguém entende, mas um dia, em breve, conquistaremos o mundo. Você vem conosco? Então vamos. Mesmo que ninguém entenda, continuemos sendo os velhos bobos, sérios demais, brincalhões demais, infantis demais ou com alma de velho. Mas que tenhamos um brilho novo, de quem domina algo que desconhecia. Que possamos olhar uns pros outros e ver neles (e em nós) algo de fascinante que nunca havíamos notado. Que não precisemos ser alguém diferente pra sermos bons, apenas que sejamos revistos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Disfarce Imaginário

Só em dias de lua
Embebida em coragem,
Eu poderei esticar os braços
E te puxar
Pro meu tolo mundo.
Ainda assim, me afogaria
Em medos infantis
Em meio ao meu mundo imaginário
De tolices pueris
Que se prende
Ao meu frágil disfarce adulto
De espantalho infeliz.