terça-feira, 26 de junho de 2012

Adormecidos

Há vozes que se calam quando tudo se apaga
E olhos que se abrem apenas no escuro
Há gritos que ficam presos no peito
Mas os sentimentos eu nunca seguro

Algumas mãos abrem cortes de propósito
Apenas por que gostariam das cicatrizes
Mas não são todos cortes que se fecham
Você os trocaria pelos momentos felizes?

Sobrou tão pouco por perto
Apenas alguns barulhos sem sentido
O coração é tão incerto
E seu grito jamais será ouvido

Há medos que permanecem à espreita
Esperando pelo momento certo de acordar
E há medos que dormem por toda vida
Mas te engolem inteiro com um olhar

sábado, 23 de junho de 2012

Vozes vazias

As vozes andam tão vazias
E mesmo com toda essa gritaria
Eu ainda não lhe ouço

Eu tento me ouvir, na realidade
E mesmo dizendo só verdades
Ainda parece muito pouco

Eu sinto falta de algum motivo
E não sei até quando eu estarei vivo
Para tentar achar algum

Já faz tanto tempo e eu mal lembro
Talvez fosse janeiro, ou talvez dezembro
Mas nós já fomos um

Um teste constante para minha sanidade
Sempre uma voz ao pé do ouvido
Um sentimento sem gosto ou vontade
Preferiria nunca tê-lo sentido

Abraçar o vento parece mais racional
Ao menos não deixaria cicatriz
Às vezes o caminho mais natural
É não acreditar no que se diz

A essa altura qualquer coisa é uma bênção
Mesmo que tenha gosto de maldição
As vozes vazias gritam no meu ouvido
E eu perco os sentidos e a audição

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Seu Primeiro Passo Depois do Último

Quando eu tinha cinco anos, eu me sentia parte do mundo. Não desse jeito que todo mundo sente. Parecia que o mundo era uma extensão do meu corpo, e eu o modelaria e faria dele o que eu quisesse. E eu gostava muito do mundo que eu via, então eu só aproveitava o que ele me dava. Quando eu tinha cinco anos, eu era feliz.
Hoje, crescida, parece que eu viajei pra outro planeta. Eu não faço parte do mundo, nem ele de mim. Olhar pros lados faz parecer que eu estou cercada por algo que eu não entendo. Que eu não entendo e que não me quer. Hoje tudo que eu consigo experimentar do mundo é algo sem cor e sem brilho, rígido e triste, que não se modela, colore ou convive. É impossível viver um mundo assim, parece que algo se perdeu nele. Talvez tudo que ele tenha seja pequeno demais pra preencher tudo que eu não sinto, como se eu fosse um gigante diante de todas as possibilidades, e não pudesse ter todas juntas. Cada escolha parece ser a escolha errada nesse mundo branco e preto, porque eu não o entendo mais. Não dá para “simplesmente viver”. Cada esquina que eu ando, eu vejo aquelas luzes brilhantes, que me convidam. Mas depois de tentar conviver com a vida, todas aquelas luzes só me levam a um ouro falso.
É preciso conviver com o futuro. É preciso esperar o que virá, como um cheque pré-datado. Viver é como um jogo: às vezes você perde, às vezes, ganha. E a vida é uma justa cobradora. Às vezes ela parece ter levado tudo de você, mas ela só leva embora o que você apostou. Tudo que fica parece não significar nada, mas é tudo o que você tem. Um belo dia, a vida volta com um par de dados na mão, e você pensa “porque não?”, e vai em frente. Quando você ganha, ela te traz um presente, e você precisa cuidar dele. Mas às vezes nós, seres humanos, fazemos as coisas do jeito errado. Existem coisas que você tem, mas não tem pra sempre. Existem coisas que você tem, e que nem a vida pode te tirar. Quando a vida te tira algo, é porque você pode sobreviver sem ela. Um ditado chinês diz que “não precisamos de nada quando não temos nada”. Mas nós precisamos de algo, eu preciso de algo, todos precisamos. O que eu aprendi é que, como diz o provérbio chinês, nós precisamos de algo porque, não importa o quão importante seja aquilo que lhe foi tirado, o quando doa, o quanto te mate por dentro, você ainda tem a si. Tem a imagem no espelho, e o suficiente para se reerguer. E você tem, tem aquela força quase inumana que levanta a cabeça e move um corpo que você acredita que estava vazio. Ter a si próprio é só o que você precisa pra suportar a vida, porque viver dói, viver é um risco, mas toda essa dor é só a vida te cobrando o que você deve. Pode ser que ela volte com um presente, ou não. Mas você ainda tem muita coisa em você, e muitas outras coisas pra conquistar. Hoje, talvez o mundo não faça parte do seu corpo, talvez certas coisas você não possa mudar, mas sempre poderá usá-la de um modo que te faça feliz. Mesmo que agora você não possa mudar o mundo, mas você ainda pode usar o que você tem pra conquistar o que não tem. Pode conviver com isso, se fizer as escolhas certas, ou se escolher somente viver.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Mesmo de Olhos Fechados

Será a luz no horizonte que vai lhe cegar?
Ou apenas a falta de vontade de enxergar?
Apenas abra seus olhos...

Você pode continuar culpando a escuridão
Ou tatear o caminho com as mãos
Mesmo de olhos fechados...

Sinta o medo e finja que não é nada
O sentimento desaparece se você não estiver errada


A vontade pagará pelos pecados da razão
Mas você pode ignorar essa parte do sermão
E decidir por si mesma

Deixar o cérebro ter um pouco de descanso
E a pulsação tocar o ritmo que eu danço
Ambos de olhos fechados

Sinta o medo e finja que não é nada
O sentimento desaparece se você não estiver errada
Mas eu acho que você está, então não desapareça
Eu ouço a pulsação dentro da sua cabeça

Poesia para os olhos e música para os ouvidos
Palavras seriam um exagero sem sentido
Deixe sua vontade guiar os seus passos
Em cada um dos versos que eu não faço

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Nem Uma Prece

O que vocês espera quando fecha as portas e as janelas?
Ao apagar todas as luzes e acender tantas velas
Desenha sua vida através de letras mal delineadas
E assassina seu amor a punhaladas

As paredes e o teto se aproximam quando adormece
Mas quando começa o sonho, você se esquece
O mundo se apaga e tudo melhora de repente
O sangue não escorre mais da ferida que você não sente

Os erros se desintegram conforme o mundo perde a forma
E a sua vida vira aquilo em que você a transforma
Mas em alguns momentos você acorda e tudo se desvanece
E nada traz o que só você tem de volta, nem uma prece

domingo, 10 de junho de 2012

Fechada e Vazia

E lá estava ela, sentindo falta de algo, e não sabia do quê. Nesses momentos, ela sempre se sentia vazia, preenchida com uma necessidade incontrolável de ser a mulher que não era. Sentia falta de ser a menina que não era mais. Era uma mulher que não a satisfazia, disforme e trancada na casa quase vazia. Mas estava lá, e não tinha mais a mesma garra, não tinha forças pra ser quem costumava ser. Todos os anos, nas mesmas semanas, ela sentia aquele buraco ficar cada vez maior e engolí-la: sentia falta de algo, e não fazia ideia do que era.

Mais uma vez, ela estava parada diante da parede branca da casa quase sem móveis, com um ar de pobreza e miséria que ela criara, e que nunca a importou. Poucas coisas tinham importância pra ela. Pensava sempre no futuro, no que seria mais adiante. Tinha metas, tinha desejos que não se realizaram, mas que ela sabia que se realizariam. Na verdade, não sabia mais de nada, e talvez isso tivesse deixado-a sem chão. De repente, tudo naquela casa importava. Ao redor dela, as coisas faziam falta, como se dançassem num devaneio à sua frente, onde ela quase materializara os móveis na casa, algumas pessoas que cantarolavam e bebiam, brincando com a vida, e nada mais importaria. Ela se viu naquele cenário sobreposto, esboçando um sorriso que significava que tudo estava entrando nos eixos. Ela quase tocava as pessoas que sentavam nos coloridos móveis imaginários, ora doces, ora modernos. O lado bom dos devaneios era que você podia decidir aos poucos como seriam as coisas. E, também aos poucos, ela notou que não conseguia materializar os rostos das pessoas. Eram manequins artificiais, que de repente nem se moviam. Parecia mais um filme de terror, rindo às custas dela. E, naquele curto momento, aquele sorriso que a mulher dos sonhos que ela sonhava que era tinha um tom de sarcasmo insuportável. Ficava cada vez mais evidente o quão tudo nela era patético, e isso incomodava e doía.

Porque, de repente, tudo naquela casa importava. Em qualquer lugar, de repente o mundo importava de uma forma diferente. Não era sobre se importar com as pessoas, com o planeta e com o aquecimento global. Naquele momento, ela sabia que deveria fazer parte do mundo, mas ela não conseguia sentir que estava ali. Ela sentiu que era um sonho, um manequim numa casa de mentira. Ela sentiu falta. Tornou-se impossível esconder de si mesma que ela sabia o tempo todo o que lhe fazia falta. Sentia falta de cada erro que cometeu, das escolhas erradas que ela fez na vida. Não do resultado, mas do erro. Sentiu falta de si. Sentiu falta de como ela se sentiu cada uma das vezes em que foi enganada na vida. Acreditou mais uma vez que cada vez aquele sentimento acontecesse seria sempre de mentira, e que aquilo a satisfaria de qualquer forma. Não era sobre o que merecia nem o que era perante os outros. Dentro dela, a mulher sabia que não era o que diziam, e ignorava tudo automaticamente, sabendo o que acontecia dentro dela cada vez que se esforçava pra acreditar no que ouvia. Era o que era, e teve medo de nunca conseguir ser diferente, mesmo sabendo que realmente não conseguiria sair do que era naquela casa sem móveis, branca e escura ao mesmo tempo.

Fora de órbita. Era a única coisa que lhe ocorria, o único pensamento racional que conseguia ter, o único pensamento que suportava. Mesmo se sentindo fora do mundo, gostou daquele momento. Por um segundo, não pertencer ao mundo a deixava bem. Respirou fundo, afinal isso é o que ela era, a mulher fora de órbita. “Fechada para Balanço”, era a etiqueta que trazia estampada em si, mas, por dentro, era só um manequim oco numa casa decorada dentro da loja vazia.

SweetieSour .

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Será E Ferirá

Talvez possa ser por amor
Ainda que não seja
E mesmo nas vezes em que não for
Você pode ter certeza
Será...

Talvez não valha a pena
Mas também não vale desistir
E mesmo quando a voz é amena
Ela pode ferir
E ferirá...

Durará por uma eternidade
Mesmo que seja só por um verso
A poesia da pura vontade
De talvez um destino perverso
Não há sentido ou rima
Mas há sentimento
Contém um pouco da sina
E traduz um pensamento

Respira com dificuldade
O ar se tornou rarefeito
Assim como a vontade
Desapareceu do seu peito
Mas há por que se erguer
Nem a dor é eterna
Você só tem que querer
Com as próprias pernas

terça-feira, 5 de junho de 2012

Amor da Minha Morte

Depois de tudo que nos aconteceu
O que nos resta, amor de minha morte?
Pus em suas mãos todas as minhas fraquezas
Mas ainda não me sinto mais forte

O que nos falta, afinal de contas?
Eu achei que nós tínhamos tudo
Mas o vazio ainda é enorme
Por trás deste escudo

No que nós nos transformamos
Depois de tantos erros, amor da minha morte?
Muitos motivos que não seriam o suficiente
Se tornaram a cura para este corte

Não há razão para tanto pesar
E as lágrimas não merecem mais cair
Mesmo com expressões tristes
Nós acabaremos por sorrir