Vejo a escuridão em seu olhar por trás de cada oração
Talvez seja descrença auto-imposta, talvez medo da desilusão
Ouço a dúvida escondida em cada uma de suas juras
A sua pequena parte protegida de suas doenças e suas curas
Aquela parte menor totalmente envolta em loucura
Deixe que a escuridão tome conta pelo menos uma vez
Deixe prevalecer a insanidade, sem dúvidas ou porquês
Feche os olhos e se deixe dominar
Não crie resistência à sua própria vontade
A sua parte que lhe torna sua própria divindade
Sem mais necessidade de se ajoelhar
Chega de se curvar diante do que não lhe atinge
Você não tem nada a ganhar, mas ainda finge
Eu ouço o vazio ecoar no silêncio da sua presença
O vazio de cada palavra dita que você não pensa
Ainda há uma pequena parte protegida de suas curas e doenças
segunda-feira, 9 de março de 2015
quinta-feira, 5 de março de 2015
Pouco A Pouco
Deita, deita tua alma de olhos fechados no meu colo
Aceita, aceita meu abraço, meu calor que eu te consolo
Me deixa, deixa entrar entre teus braços e pensamentos
Me cobre, cobre com tuas asas, dormiremos ao relento
Mas não sentiremos o frio nem o abandono
Nos acomodaremos um no outro e que venha o sono
Mas não precisam vir os sonhos, temos um ao outro
Isso já é razão para perda de razão, ser um pouco louco
Deita, deita teu olhar na minha boca e olha meu silêncio
Me cobre, cobre com tua pele e com teu contrassenso
Me deixa, deixa meu nome na boca como saliva entre as bochechas
Me aceita, aceita como parte do futuro, e o passado você deixa
Mas não deixa ao relento, não há motivo para abandono
Pega a efervescência do que interessa, deixa apenas o que é morno
Não precisa vir o sono, acordados temos um ao outro
Ficaremos despertos e dispersos, nos enlouquecendo pouco a pouco
Aceita, aceita meu abraço, meu calor que eu te consolo
Me deixa, deixa entrar entre teus braços e pensamentos
Me cobre, cobre com tuas asas, dormiremos ao relento
Mas não sentiremos o frio nem o abandono
Nos acomodaremos um no outro e que venha o sono
Mas não precisam vir os sonhos, temos um ao outro
Isso já é razão para perda de razão, ser um pouco louco
Deita, deita teu olhar na minha boca e olha meu silêncio
Me cobre, cobre com tua pele e com teu contrassenso
Me deixa, deixa meu nome na boca como saliva entre as bochechas
Me aceita, aceita como parte do futuro, e o passado você deixa
Mas não deixa ao relento, não há motivo para abandono
Pega a efervescência do que interessa, deixa apenas o que é morno
Não precisa vir o sono, acordados temos um ao outro
Ficaremos despertos e dispersos, nos enlouquecendo pouco a pouco
segunda-feira, 2 de março de 2015
Sobre Crescer
Às vezes temos medo de mudar, e
acabamos nos resumindo a criaturas covardes e insignificantes, recolhidas na
penumbra, no canto do quarto escuro. Por alguns minutos eu me vi assim, numa
sarjeta qualquer, tentando me convencer que se me encolhesse o bastante,
morreria e renasceria para ser eu mesma outra vez. Sem notar nada, isso me fez
mudar, e, por alguns minutos, eu fui aquilo que mais lutei para fugir: me vi
num canto úmido, sorrindo pras baratas e criando fungos, como um rascunho velho
de uma letra qualquer mal escrita.
Então me aparece alguém
e com duas frases me destrói: "Sabe do que mais? Você
só
precisa de alguém”...
Eu? Não, eu não preciso. Eu vou dizer do que preciso: preciso
sair desse buraco úmido e fedorento, onde eu me enfiei por não
poder ser quem sou. Ser alguém fraca. Ser uma qualquer. No fim das contas eu
nunca fui nada daquilo, as pessoas é que falavam tanto que me convenceram. Ou
ao menos, me convenceram a me esforçar o tempo todo para sê-lo.
Mas quando você força demais alguém, ela cansa. Aí para. Esse é o
ponto que eu cheguei.
Cheguei a
um ponto da minha vida onde não adianta ficar rindo e
achando tudo perfeito, porque não é assim. Então, quem é mais desprezível? Alguém que sabe de muito e procura melhorar sempre, ou eu, que fico tentando
convencê-lo do contrário? Quando as pessoas têm motivos pra terem defeitos ou
pra serem quem são, elas não devem ser repreendidas por
aquilo. Mas isso não importa mais.
Aquela menina com jeito e ar de criança, com sorriso amarelo, com açúcar
e com afeto deu lugar a essa que vos fala agora. Alguém amarga e triste, que não é
nada além de uma piada de mau gosto que não faz ninguém
rir, que é só
a sombra de um passado que não volta, ou que infelizmente
volta.
Porque a dor começou
há
muitas primaveras. Ela não incomodava meus olhos de
vidro nem me impedia de mostrar os dentes por aí. Não
tinha nenhuma noção do que queria dizer. Era apenas algo incômodo. Era apenas a dor de sei-lá-o-que. Dor que doía e doía... mas que, por
vezes, eu deixava de lado e dava lugar a livros e discos. Às
bonecas, à correria, à uma felicidade qualquer, que nunca precisou de porquê. Mas jamais daria lugar a um “eu
te amo”
novamente. Desaprendi a amar de uma vez só, diante daquilo. Não sabia como ou por que, não sabia que ligação aquilo tinha com aquele episódio lamentável. Mas tinha. Jamais teria
certeza, só sabia. E sabia, e sabia... e tinha certeza quando perdia noites e
mais noites de sono, e buscava desesperada fugir do escuro e da solidão. Não imaginava o que aquilo causaria.
O desamor fazia com que aquela que eu fui se
sentisse um eterno estranho no ninho, com cara de humano, mas que era apenas
uma roupa, inflada com amargura e medo. Como qualquer dissonante que conhecia,
procurava fazer amizades que a preenchesse e que pudessem traze-lhe o açúcar de volta. Mas não tinha. Não encontrava. Procurava e procurava, sempre
mais, mas ninguém é
igual a ninguém. E aquela ferida só marcava a ela. E o desamor aumentava.
Mais tarde descobriria rastros do que foi, de
tudo aquilo que não lhe dói nem lhe marca e, de vez em quando dava
espaço para o afeto, tinha trégua da dor de sempre. Mas sorrisos custam caro,
e ela descobriria isso. Descobriria porque aquilo que dói, persegue a gente pra
sempre. E foi assim que ela se sentiu. E foi assim que ela deu lugar a mim. Bem
aos pouquinhos.
Ainda impressiona o quanto uma palavra, um nome,
uma pessoa, um corpo, pode incitar tanto nojo, tanto asco, tanta dor, tanta
tristeza, tantas lembranças. Porque eu tenho muitas
coisas para lembrar, mas por muito tempo eu só sei lembrar isso. E, quando
desaprendo, ou acho que desaprendi, ele vai estar lá pra me lembrar. Vai estar
encostado na parede, fumando um cigarro, e sorrindo pra mim. Lembrando o início
da tarde de um dia de trabalho qualquer, no qual uma criança
se viu mais assustada do que jamais estará durante toda a sua vida.
Esse alguém hoje sou eu, assustada como naquele
dia, encolhida no canto do quarto escuro, sentindo-me sozinha, e
principalmente, sentindo-me desprotegida. Todos aqueles que diziam que estavam
ali, cedo ou tarde se foram, logo depois de me lembrar de que é pedir demais
que alguém esteja lá até o fim da vida. E que, dizer que gosta de alguém é na
verdade gostar da imagem que se faz dela, e que estar com ela, é lembrar-se
dela de longe, enquanto esse alguém passa apuros. Eles se foram e me deixaram
essa lição, que eu aprendo e desaprendo cada vez que eu
me deparo com essas palavras.
E aqui estou eu, aprendendo de novo que só se
vive uma vez, e que, nem todo mundo paga os pecados. Aqui estou eu, me dando o
direito de mandar ir à merda qualquer um que me diga que mais alguém sofre e
que eu não devo me sentir assim. Aqui estou eu,
desprotegida, tentando ter direito de ser fraca de fez em quando. Fraca e
desprotegida. E sabe do que mais? Aqui estou eu, e só preciso de alguém.
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