terça-feira, 21 de novembro de 2017

Quase Uma Lástima

É quase um crime que minha poesia dependa de ti
Mas tu não dependas dos meus versos
É tu quem inspira minha mente tão prosaica
E estes pensamentos são todos tão perversos

É quase um crime que eu queira tanto tua presença
Próximo de inexistir quando tu não estás
Já não há mais nada de belo em tua ausência
Resta um grande vazio, e bem pouco mais

É quase uma lástima que tenhamos tido tanto azar
Mas quem diria que tanto azar acabaria em tanta sorte?
Já estive sem nenhum rumo e bastante perdido
Mas em ti eu finalmente encontrei um norte

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Ininterrupto

Mesmo calado, é ininterrupto
Um sentimento tão divino quanto corrupto
Um pelo outro, o que nós temos é sorte
Ficaram as cicatrizes, não há mais cortes

Não resta mais dúvida
Todo o espaço foi ocupado pela certeza
A segurança do que agora é uno
E todo o peso que se torna leveza

E quando perto um do outro
O que sobra senão o silêncio?
Se eu sei o que você quer
E você já sabe o que eu penso

Nos falta menos do que quase nada
E eu me sinto mais do que jamais fui
Cada beijo e cada abraço são eternos
E em cada um deles, o que nós somos flui

terça-feira, 9 de maio de 2017

Enchente

Não que eu fosse incompleto até tua chegada
Mas hoje tua ausência me torna menos
Me diminui o calor e aumenta o vazio
Sou insuficiente nos meus próprios termos

Não é apenas tua falta que é sentida
Mas tua mera presença preenche
O que sem ti era apenas um córrego
Contigo se torna uma enchente

Há mais silêncio quando não há tua voz calada
E mesmo quando fria, me aquece tua chegada
Me preenche de mim mesmo, e eu me torno mais
Não sinto em tua falta, mas tua presença me dá paz

sábado, 4 de março de 2017

Casca

Um corte em cada pulso
Apenas a quantidade certa de sofrimento
Uma lágrima derrubada por cada olho
É o suficiente de lamentos
As quedas ainda são frequentes
Mas cair significa se levantar
E quanto mais eu respiro sofregamente
Menos parece haver ar

Sinto meus pulmões queimarem
E cada passo meu é vacilante
O gosto amargo persiste na boca
Mais forte a cada instante
Meus olhos estão trêmulos
Eu sequer consigo sustentar um olhar
O espelho me encara com vergonha
E eu não tenho como discordar

O que mais sobrou além de sobras?
O que restou além de restos?
O presente é algo amorfo
E o passado são apenas gestos

Ainda há restos de mim mesmo?
Sobrou algo além da casca?
Não sinto mais nada de minhas feições
Não me sinto mais do que uma máscara