quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sobrevivência

Apague a luz e feche a porta, vá embora de mãos vazias
Não há mais nada para você aqui
Abaixe a cabeça, lamba suas feridas e sinta o gosto
Use essa boca que não sorri

Olhos abertos e arrependimentos atados
Sonhos amargos, pesadelos adocicados
Nada mais a perder nem a ganhar
Sobreviva às marés altas, afogado no próprio ar

Não há lugar pior que dentro de si mesmo em solidão
Para onde mais você pode ir?
Lágrimas demais já foram derramadas por nada demais
Use seus olhos para sorrir

Olhos fechados até as lágrimas desistirem
Deixe o vento secá-las e seus olhos abrirem
Desenhos nas nuvens são como os sentimentos
Você olha até achar algo quando deitado no relento

Você já chegou mais longe do que jamais imaginou
Sobreviveu a todas quedas, se levantou
Quão pior pode ser continuar vivo e andando?
Suas artérias cicatrizaram, nem estão mais sangrando

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Tudo que Sempre Tive

Eu não sei se alguém veria
As mudanças que já aconteceram
Nunca foi muito importante,
Mas esses últimos dias eu estive com medo
E isso poderia ter me destruído.

Eu me apego a histórias antigas,
Aos sonhos que já se foram
Isso só prende minha mente ao passado
E faz de mim distante
Como apenas o coração de uma mulher pode ficar.

Devo admitir que tudo se foi
E não sei se gosto do que me tornei;
Meus antigos sonhos estão de volta
É como voltar para casa.
Mas ainda assim pareço uma estranha,
E isso não é só algo triste:
Meus sonhos eram tudo a que sempre me apeguei.

Agora minha vida é só mudança,
É como trocar o chão pelo teto.
Fiz o que precisava ser feito
E perdi o que já não era meu
Mas ganhei novos amigos, e essa chance é tudo que tenho.

Conquistei pessoas e as deixei chorando
Isso também é destruir sonhos;
Não afastei apenas as pessoas:
Também me tornei irreconhecível,
Mas sinto que mereço estar de volta.
Pois embora meu coração já tenha estado em todos os lugares,
Meu corpo envelheceu no mesmo lugar.

Às vezes penso em voltar no tempo
E dizer o que não foi dito,
Mas não sei se ainda existirão ouvidos.
Só queria dizer que amei
E que não há nada demais nisso;
Hoje vejo que ser dura não te traz o que importa
Quando seu coração é feito de carne.

Você deve saber que também fui triste
Quando me vi cercada de um vazio sem fim.
Olho ao redor e nada é diferente,
A dureza ainda faz parte de mim
E o medo ainda me faz gelar.

Mesmo assim eu ainda posso amar
E é nisso que penso o tempo todo,
Meu coração só quer um doce romance.
Por isso hoje sou distante,
Apenas uma casca vazia
Como só o coração de uma mulher pode estar.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Verdade Exposta

Quem sou eu, senão apenas mais uma boca que se alimenta da bondade?
Um mero olhar perdido no espelho, afogado e embriagado em vaidade?
Uma voz nunca ouvida em meio a toda a gritaria
Apenas uma folha caída, arrastado pela ventania

Quem mais serei eu assim que a última luz for finalmente apagada?
Um tijolo amarelo e só, pavimentando o fim da estrada?
Ou apenas uma mão ferida e ensanguentada...
Um mero pensamento que teve suas asas cortadas

Coloquei em suas mãos grande parte do que eu fui
E permiti seu julgamento sem nem ao menos questionar
E como um castelo de areia que na chuva rui
Eu lhe permiti ser o carrasco a me executar

Depositei em suas veias meu sangue, que agora é aguado
E ele corre agora fino em minhas veias frias
Não há mais batimento, meu coração está parado
E meu ódio e meu perdão são suas crias

Quem somos nós agora, senão certezas que foram desfeitas?
Promessas feitas em dias claros e descumpridas em noites imperfeitas?
Sangue derramado e crueldade enfim exposta
E o gosto agridoce que minha língua tanto desgosta