segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Rio Escasso

Há um semi-vazio entre o sim e o não, é ali que sua voz tremula
A quase escuridão onde você fica quando não sabe o que sente
Você não sabe o porquê, mas ainda assim sua pulsação pula
Há um ruído agudo em seus ouvidos da voz que se faz ausente

O desconhecimento da sua própria carne e a presença da desilusão
São partes constituintes daquilo que você não sabe ser
As pétalas da flor que nasce após a dolorida cicatrização
Tem o mesmo aroma doce da luz fria de um dia a amanhecer

A sua parte que não faz parte porque você não a enxerga
A mão que acaricia enquanto também apunhala ao fim do abraço
Palavras são as chamas que tem a origem na sua entrega
Ao sentimento que flui como nascente em direção ao rio escasso

E é nesse preciso momento de indecisão que o rio transborda
Deixa nascer a vida onde antes não havia mais que seca
E o fio de esperança que é o que antes parecia o fim da corda
Existe apenas por existir, não perdoa e também não peca

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A Árvore Que Cai

Tal qual o pecador que já não se arrepende
E desistiu de fazer o sinal da cruz
Como o cego habituado à total escuridão
E que não tropeça em sua falta de luz

Eu me acostumei à ausência de vozes
E ao beijo seco e sem gosto do silêncio
Ao som da minha respiração una
A única que contradiz meu contra-senso

Sem mão alheia para aparar a lágrima
É irônica a completa falta de razão para ela
A sensação parece a de encarar uma parede
Indefinidamente esperando que se torne uma janela

E sabendo que mesmo que ela existisse
Luz não seria o suficiente para ver a paisagem
Não haveria nem sinal de sol no céu
Sem projetar sequer sombra da própria imagem

E quando se corrompe a auto-compreensão
O que resta são apenas as marcas na parede
Rasgadas a mão e tingidas de vermelho
Servindo de prova para o que a alma pede

Em cada um dos gritos que não recebe resposta
Como a árvore que cai na solidão de uma floresta
A súplica por uma resposta, mesmo que negativa
O rogo encarecido por uma mera fresta

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

No Escuro

No meio de todo este barulho
Gritamos tão alto que não ouvimos nossa própria voz
E mesmo com tantos ao nosso redor
Tantos rostos sem expressão, ainda estamos sós

Sinto falta de algo em minhas mãos
Mas talvez eu apenas sinta sede por algo novo
Ansiando por ser saciada de uma vez
Ou talvez seja um antigo problema que eu não resolvo

O vazio que corrói aquilo que não existe
Talvez seja apenas a vontade de sentir novamente vontade
A solidão que parece se auto-completar
Traz a saudade de sentir mais uma vez saudade

Tudo isso aqui parece tão pouco
Em um momento que parece durar uma eternidade curta
A cicatriz dura mais tempo que a ferida
Mas não é sucifiente quando a alma não luta

Sem voz, o grito não quebra o silêncio
E sem o primeiro passo, o caminho ainda fica no futuro
A vela pode passar um aeon em sua mão
Mas se não acendê-la, você permanecerá esse aeon no escuro