segunda-feira, 23 de abril de 2012

Promessas

Há vida no que se perde
E, mesmo sem sangue, ainda pulsa
Depois da última respiração
Haverá morte sem culpa
Se não puder entender
Não reprima, não recrimine
Deixe que fluam o medo e a alma
Deixe que o sentimento ensine
Prometa a vida e assassine

Por tudo que não existe, prometa a eternidade
Sem promessas não há nada, nem mesmo a frivolidade
Por tudo que será efêmero, prometa a vida
Não é porque se trata de uma promessa que será cumprida


Cerre a porta e os olhos
Mas deixe as janelas abertas
Um pouco de luz e ar neste quarto
Nesta prisão tão discreta
Tão sufocante quanto um beijo
E comprometedora como um olhar
Que me acorrenta como uma fera
Sem correntes e sem par
Prometa a liberdade
E me deixe definhar

Por tudo que não existe, prometa a eternidade
Sem promessas não há nada, nem mesmo a frivolidade
Por tudo que será efêmero, prometa a vida
Não é porque se trata de uma promessa que será cumprida
Me prometa que você saberá, não importa o pensamento
Não lhe peço pra sentir, apenas conhecer o sentimento
Lhe prometo a resposta, mas não pergunte o porquê
Minha promessa não garante tudo que há pra saber


E eu mesmo não sei, não sinto e não entendo
Cada promessa é uma mentira
Cada toque carrega a ira
E eu ainda não me arrependo

E mesmo quando não anda, não pulsa ou não respira
Este cadáver que eu estou vendo
Sou eu, mesmo não sendo
É a minha vida que ele transpira

Por tudo que não existe, prometa a eternidade
Sem promessas não há nada, nem mesmo a frivolidade
Por tudo que será efêmero, prometa a vida
Não é porque se trata de uma promessa que será cumprida
Me prometa que você saberá, não importa o pensamento
Não lhe peço pra sentir, apenas conhecer o sentimento
Lhe prometo a resposta, mas não pergunte o porquê
Minha promessa não garante tudo que há pra saber

sexta-feira, 20 de abril de 2012

De melhor para você, a melhor para mim

Essa sou eu dando a próxima palavra:

Cansei de pensar nos dias que você me feriu.

Apenas suma de dentro de mim

E leve tudo embora.

Aquela que você diz que eu fui agora está em pedaços.

Leve-a.

Guarde-a junto a todos os sorrisos que você deu enquanto eu caía.

Considere isso um presente:

Da menina tola que eu fui,

À mulher que você nunca terá.


Essa sou eu fazendo o que já deveria ter feito,

Deixando para trás tudo pelo qual eu já sofri.

Pisando em cada uma das feridas que já tive.

Matando tudo o que me enfraqueceu

Para colocar tudo que me tornei no lugar;

Drenando minhas lágrimas

E dando-as a você

Para você chorar até que seus olhos rasguem.

Para que se lembre de mim, dia após dia,

E lute para esquecer que um dia me feriu.


Essa sou eu indo embora de você.

Considere-me um presente,

Cada vez melhor.

A frágil menina quebrou

E não adianta colar novamente.

Às vezes as coisas mudam,

E a pequena garota que você magoou

Hoje é a sua maior alegria

(na verdade, a alegria é minha).

Dando as costas pra você, indo embora aos poucos,

Meus pés te furam como barras de ferro

E meu corpo flutua como quem se livra dos seus pecados.


Essa sou eu acabando com isso,

Saindo do fundo do poço.

Deixando de ser uma das suas garotas

Para ser a mulher que não pertence a ninguém.

Desprendendo-me do seu ego

Como uma mosca, que sai de uma teia de aranha

E deixa de ser indefesa

Para ser apenas livre,

Largando a pobre aranha com fome

De algo que nunca vai ter.


Essa sou eu deixando para trás a ilusão que tive

De que seria para sempre,

E colocando no lugar a ilusão que você terá

De que isso não vai demorar.

Te mostrando que as coisas vão mudar daqui pra frente;

Deixando de ser doce

Para ser amarga e venenosa.

Tão diferente que chega a doer,

Torturar,

E me deixar feliz.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Algo de Errado

Eram duas ou três da manhã e havia algo de errado. Ele não sabia exatamente o que, mas tentava descobrir pela quinta, talvez pela décima vez, já tinha perdido as contas há muitas noites. Encarava o teto como se esperasse alguma resposta, mas o teto permanecia sem responder nada. Não era a insônia, definitivamente não era, a ela ele já havia se acostumado. Talvez fosse o frio. Ele chegou a pensar em se levantar para fechar a janela, mas gostava da brisa noturna. “Não, também não é o frio...”. E então ele se cobriu mais com o lençol.

A noite passava lenta, a mesma noite que costumava passar num piscar de olhos, mesmo quando estava acordado. Ele pensou em levantar e tomar um pouco de leite quente, mas então lembrou que não ia conseguir dormir de qualquer forma. Então ele pensou em preparar um café forte sem açúcar, como ele sempre tomava, mas isso o fez sua cabeça ir parar nela. Foi aí que ele pensou da garrafa vazia ao lado da cama. De que era mesmo? Não importava... Eventualmente chegou àquele ponto onde começam os devaneios, os diálogos fictícios dentro da mente pontuados com algumas lembranças.

“- É isso então?
- Acho que é... Não tem muito mais coisas pra dizer. Eu, pelo menos, não tenho nada.
- E você tem certeza? É sério mesmo?
- Sim... Não dá mais...
- Até uma próxima vez então. Eu acho...”

Já era quase de manhã e ainda havia algo de errado. E ele ainda olhava pro teto esperando a resposta emanar do nada, sem saber o que era. A certa altura os primeiros feixes de luz do sol começaram a adentrar o quarto pelas frestas da janela. Nesse momento ele acabou virando a cabeça para o lado vazio da cama. De repente ele entendeu o que havia de errado. Havia um lado vazio na cama.