quarta-feira, 28 de março de 2012

Liberdade

É aquilo que dá
Naquele momento em que o mundo se mexe
E você entende
Que você não é do mundo,
Mas o mundo parou
Porque ele é seu.

Liberdade
É quando você sabe quem você é
E, principalmente, é quando você não esquece
Que o seu mundo é todo seu
E que ninguém pode te tirar de si mesmo.

Liberdade
É um sentimento que
Mente pra você,
Engana você;
Quando você sabe que não pode
Ser,
Ter,
Fazer,
Tudo.

Mas a
Liberdade
Também é um sentimento
Que te faz querer ser enganado,
Porque todos precisam de uma forma de saber
Que mesmo que a vida te tire tudo
E você não possa reaver,
Você poderia ter sido,
Você poderia ter tido,
Você poderia ter feito.
E, agora,
Você ainda pode sonhar em
Ser,
Ter,
Fazer
Tudo
O que é seu.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Páginas Rasgadas

Sempre que eu fecho meus olhos, seu rosto vira realidade
E antes de me entregar ao sono, eu me entrego à insanidade
Ainda não lhe decifrei, então espero que você me devore
Enquanto procuro um lugar em meu peito em que você não more

A sua voz surge em minha cabeça cada vez que a luz se apaga
E eu não consigo controlar a vontade da minha mente que vaga
Vaga sozinha no escuro, sempre guiada pela sua voz
Com vontade de lhe encontrar para finalmente ficarmos a sós

Mais sós do que nunca estivemos
Com um pouco mais de vida
Para nos tocarmos e nos lermos
Como páginas rasgadas sem escritas


Cada vez que fecho as mãos, são as tuas unhas que me sangram
As feridas já fecharam, mas meus pés ainda não andam
Eles ainda tem medo de que você devore minha mente
Pois já devorou minha sanidade, e eu me tornei inconsequente

Em cada passo que eu dou, é teu chão que me sustenta
Não tenho nenhuma pressa e rezo para que a vida corra lenta
Ainda quero esperar um pouco antes de desatar os últimos nós
Mas tenho vontade de lhe encontrar, para finalmente ficarmos a sós

Mais sós do que nunca estivemos
Com um pouco mais de vida
Para nos tocarmos e nos lermos
Como páginas rasgadas sem escritas

Mais sós do que jamais seremos
Com um pouco menos de medo
Já somos tudo que teremos
E não fingimos nenhum segredo

quinta-feira, 22 de março de 2012

Homem de Carne, Coração de Pedra

O Homem é um animal
Que não se humaniza:
Bicho do mato tem sentimentos,
Bicho sem mato tem sentimentos,
Bicho do mar tem sentimentos.
E bicho-homem?
Bicho-homem é bicho de concreto
Que não tem sentimentos.

Ele sonha com um mundo de pedra,
Ele constrói um mundo de pedra,
E o coração?
O coração do homem
É todo feito de pedra.

Porque, em um mundo de concreto,
Se o coração não for de pedra,
Um homem é só animal
Com coração de animal.

Porque, em um mundo de concreto,
Se o coração for de animal,
Um homem deixa de ser homem
Pra ser animal.
Selvagem.
Sem coração.

segunda-feira, 19 de março de 2012

A Própria Loucura

Falta sangue em suas feridas e razões para as suas chagas
Você não quer a cura e impede que o tempo lhe traga
E, apesar disso, ainda prega que o tempo é a cura para tudo
Mesmo não conhecendo nem metade dos males do mundo

São tantos os olhos que lhe observam
Todos com tanto poder de julgamento
Nenhum deles realmente lhe conhece
Nem suas ações, nem seus pensamentos

Falta saliva em sua boca e razão em sua mente
E sobram crimes cometidos sem nenhuma razão aparente
Não há mais desculpas e o silêncio lhe devora
Você quer se libertar do mundo e tem que ser agora

São tantos os olhos que lhe observam
Todos com tanto poder de julgamento
Nenhum deles realmente lhe conhece
Nem suas ações, nem seus pensamentos
São tantas as bocas que lhe comandam
E nenhuma delas sabe quem você é
Se é pétala ou se é espinho
Se faz parte do destino ou apenas um revés


E, aos poucos, essas bocas lhe devoram a sanidade
Atiram-lhe ao abismo e insistem que é por pura bondade
Mantêm as feridas abertas, impedem que você chegue até a cura
E sequer entendem que ela é a própria loucura

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sobre a Música

Se todo o tanto do que sinto
Fosse apenas música aos ouvidos,
Todos os sons do mundo
Parariam.
E cada vez que eu o tivesse
Me faria te pertencer.

Então, em um tom abafado, quase mudo
Eu me tornaria uma nota
Doce
De uma música de nós dois
E nenhum outro som teria brilho.

E cada melodia emudecida
Que dançasse em seus ouvidos
Reconstruiria uma canção só nossa:
Agradável aos amantes,
Ensurdecedora aos sãos.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Solitude E Silêncio

Um cego enxerga aquilo que prefere
Mas logo esquece de tudo
Eu ainda falo sobre o que vivi
Mas não ouço, pois sou mudo
Repito pra mim mesmo os versos
Mas a poesia é uma mentira
Ainda estou afogado nos pensamentos
As mágoas que a minha mente respira

Solitude e silêncio, escombros e poeira
O tempo está correndo e a vida que passa é ligeira
Gritos e vozes, percepção e entendimento
O tempo está acabando e a vida sofre um lamento


A vida sempre dá a opção da escolha
Você decide se aceita as condições
Finge que nunca tem real culpa
E põe a culpa nas situações
Um sinal da cruz e um olhar pro céu
Mas ainda lhe falta a resposta
Uma última oração e cairá o véu
Sobre a alma que está exposta

Solitude e silêncio, escombros e poeira
O tempo está correndo e a vida que passa é ligeira
Gritos e vozes, percepção e entendimento
O tempo está acabando e a vida sofre um lamento

Um lamento sobre as perdas e os escombros ainda lhe são familiares
Crime, punição, clemência e indecisão, mas tudo foi-se pelos ares
Piedade, pede o anjo caído, mas ele está cego pela ira
E ele ainda tem medo de que o amor o fira

quinta-feira, 1 de março de 2012

"The Big O"

E tudo parecia mágico. Era noite, seus olhos se fecharam lentamente. Pode ouvir seu próprio sussurro enquanto olhava para o fundo da sala cheia. Tudo estava lento, quase em suspenso, e havia uma melodia irresistível esperando por ele. Escondido atrás dos óculos, ele soube que nada o impediria de ser o que realmente era. Com sua grandeza, seus sonhos, um amor de veludo, que soltava melancolicamente como se fosse seu. Mas nem sempre era, apesar de poder sentí-lo como um beijo no canto da boca. Aquilo o fez permanecer imóvel, os olhos tristes guardados apenas pra si, engrandecido como ele próprio era, mas insistia em não saber. Desejou que aquele momento nunca acabasse, mas sabia que existia uma vida depois dali.

Como um palhaço sem futuro a caminho do eterno picadeiro, preso à eterna insegurança do que seria dele no segundo seguinte, ele abriu os olhos e soube que o sonho havia acabado. Dali pra frente, voltaria a ser o mesmo de sempre, sem o sonho, sem o medo, sem o amor que nunca teve. Estava vazio, e de repente não fazia diferença. Aquela noite mágica chegara ao fim, assim como sua fantasia de ser eternamente aquela melodia do amor que não era dele. Mas havia dado seu último adeus e aquele sonho era o fim de tudo, o que o fazia não parar de chorar. Como uma criança, desejou aquela mulher, aquele momento em que seria dela para sempre e que ela seria dele.

Em meio aos seus ingênuos desejos, nada acontecia. Aquele momento pertencia ao amor que não era dele, e as cores que o rodeavam na rua eram só uma moldura para a bela mulher dos seus sonho, azuis como veludo e brilhantes como a lua. Ela descia a rua lentamente, tão frágil, doce e dura quanto sua própria contradição. De tão única, o fez desacreditar, como se fosse uma afronta a todas as mulheres do mundo que existisse uma mulher como ela. Agora aquele amor pertencia a ele, aquele sorriso era seu novo sonho, distante como a alegria seria para um palhaço sem futuro. Mas ela veio, e estava indo em sua direção enquanto ele se preparava para ir pra casa e voltar aos seus sonhos. Era seu dia de sorte, pensou o grande homem cujo óculos escondiam os olhos tristes, e tinha certeza disso. A linda mulher que encontrava nas ruas depois de acordar dos seus sonhos de amor, o deixara sonhar um eterno sonho cada vez mais próximo.

Então ele soube que aquele era mais um sonho de amor, como todos os outros que vieram e que virão. Jamais seria o dono daquele amor que não era dele, e assim eram seus sonhos. O grande homem tão triste quanto um palhaço sem futuro que se escondia atrás dos grandes óculos estava marcado pra ser o único nos sonhos de todas as lindas mulheres, uma melodia triste e doce como ele e seus sonhos sempre foram. E o seu mundo azul onde desejou estar pra sempre estava cada dia mais próximo. E as belas mulheres de todas as ruas existentes no mundo o teriam sempre nos próprios sonhos, como se ele próprio fosse uma grande melodia feita de veludo.