quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sobre o tempo

Considerando o tempo que usamos pra viver
Não existe divisão para o tempo
As horas estarão sempre a correr
E a vida não é eterna.
No sentido de viver
O calendário é só uma desculpa
Para não viver o agora.
O tic-tac anuncia quantos sorrisos deixamos para amanhã
E quantos beijos você não teve tempo de dar.
A sua agenda está lotada de coisas que não te satisfazem,
É o preço a se pagar pelo tempo que passa.
Melhor marcar a diversão pro sábado que vem
Pois considerando o que você não fez ontem
Hoje ainda há muito a fazer.
Talvez amanhã haja tempo para sonhar
Porque quando o sol nascer, será hora de acordar.
Essa algema com ponteiros em seu pulso
Determina quando e aonde você vai.
E enquanto ele corre tranqüilo, você corre desesperado.
Olha, aquilo lá na janela... não é a sua vida?
Está com as cores que você escolheu nos seus poucos sonhos.
Mas ela não espera por você:
Acho que ela também usa relógio.

P.S: Considerando o seu fim não anunciado, quanto tempo você usou para viver?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Outro Olhar

Sinto suas últimas palavras em minha boca
Como o último beijo que você não me deu
E eu não quero e nem espero
Entender aquilo que você não entendeu

Era tudo sem sentido e sem nexo
Mas tudo encontra seu lugar agora
Tudo parece se encaixar e eu recupero o ar
Depois que todos foram embora

Com as luzes apagadas e a porta fechada
A paisagem se torna mais clara
E, sob a luz de velas, eu vejo pela janela
O erro que nenhum de nós repara

Estávamos errados, ninguém tinha razão
Mas ainda assim insistíamos no erro
E minha cabeça ainda acha que a sua voz baixa
Soava ensurdecedora como um berro

Talvez em outro momento, ou mesmo outra vida
Nós acabemos nos encontrando
Talvez outro lugar, mas com outro olhar
Pois o olhar que você responde não é o que eu mando

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Não Sei se Quero Conjugar

O verbo dizer.
Pra não ter que dizer que amo se não amar,
Pois espero poder calar quando não puder falar,
Pra não ter que dizer qualquer coisa que vá machucar.

O verbo amar.
Porque quando a gente sente muito, o outro não deixa de amar,
Aí fica tão difícil aguentar
Que a gente acaba conjugando verbos que não quer conjugar.

O verbo calar.
Porque se eu me calo, só me resta a ação,
O corpo quer dizer sim, mas a mente diz que não,
E depois a gente reclama das coisas como elas são.


Sweetie ?

sábado, 17 de setembro de 2011

O Mundo Que Lhe Criou

Você não sabe o que esperar da vida
E por isso se fere
Mas toda vez se pergunta
Por que o mundo não interfere
Por que ninguém segura sua mão?
Ninguém lhe impede
De aceitar as consequências
Daquilo que você não mede

Parece que ninguém lhe escuta
Mesmo quando você grita
Só ela está sempre com você
A dor é sua única amiga
Mesmo não a suportando
É ela que segura sua mão
Impede que você arranque
O seu próprio coração

Perdoe suas próprias falhas
E se entenda pelo que você não é
O mundo que lhe criou
Não é o mesmo que lhe sustenta de pé

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Querido Amigo Imaginário,

Obrigada por estar aí do lado. Me olhando, me cuidando. Me ajudando a acreditar que serei querida por uma criatura viva um dia.

Antes que você se rebele querido amigo imaginário, saiba que não falo desse querer com o qual você me quer. Falo de outros quereres, outros beijos, outros abraços, outras intenções. Outros fins, outros banhos de chuva, outros sonhos ao dormir junto. Saiba querido amigo, que meu desejo de "eu te amo" é um pouco diferente nesse momento. E isso não me faz tão bem quanto parece, como você deve imaginar. E não faz mesmo. Ainda estou decidindo se gosto ou não dessa esperança, se acredito ou não nela.

Ainda bem que você existe, meu querido amigo. Ainda bem que tenho você pras minhas palavras soltas, pros meus risos sem fim(ns), pros meus desejos malucos, pras minhas insônias. Ainda bem que você existe pra me amar de alguma forma, mesmo que não seja "daquela" forma. Ainda assim eu me sinto querida, me sinto gostada, me sinto bem por isso. Sem fronteiras, sem motivos, sem questionamentos. Apenas sentir. E bem.

Talvez, querido amigo, você se pergunte por que você não me ama. Eu te criei, eu te alimentei, eu te fiz (e faço) real. E porque não alguém que me ame?

Sabe meu querido amigo, eu queria alguém pra conquistar. Alguém que quisesse ficar comigo, e ficar feliz com isso. Entenda meu bem, mas não me entenda mal. eu gosto de você, estou satisfeita demais contigo. Você me orgulha, me faz bem. Sempre e sempre. Não queria uma conquista de troféu, não queria uma conquista de ego e orgulho. Não quero uma conquista que me diga sobre o "poder fazer". Eu quero uma conquista além da pele, do cheiro, do olhar. Também isso, mas a conquista do estar junto sem por que.

Mas a verdade, meu querido amigo imaginário, é que essa existência de um amigo-amor é coisa da minha cabeça. Um amor imaginário, um sonho diário. Uma coisa qualquer. Sabe, querido amigo imaginário, seria bobagem pensar em um amigo-amor, criar um amor só meu. Seria uma coisa... Uma coisa. Uma daquelas que a gente perde o controle e cria uma criatura que, definitivamente, não vai fazer bem a ninguém. Eu não quero criar um querido-amante-sofrimento-real, eu só quero... Sorrir.

É, eu sei, querido pensamento doce, que amizades sempre podem ser amores. Que amores são também amizades. São paixões de pele, de carne e osso, de querer grudar no outro até não sair mais... Sei, sei que tudo isso fica melhor com amizade. Mas eu já tentei, querido amigo imaginário, eu tentei. Deus é testemunha, se ele existir. Eu fiz de tudo, passei por todas as etapas. E sofri, mas pulei a fase do "amor". Já ele, meu querido amigo, já ele simplesmente parou na fase da pele. Na fase do toque, que eu nem sei se significou algo pra ele.

Sabe querido amigo, até que superei. Até que consigo deixar isso pra lá, até que consigo viver sem isso. Até que aprendi a conviver sem saber se fui algo, se conseguiria ser algo. Não pra ele, mas pra qualquer um. Pra ele também, porque não?

É meu querido amigo imaginário, eu vim aqui pra desabafar contigo, pra te alugar só mais uma vez. Vim pedir clemência, vim pedir pra você não me odiar por isso. Olho, eu te amo, meu amigo. Amo você, com um monte de forças, com tudo que eu lembro que tenho. Mas amigo, não é esse amor que eu quero ter, não é esse amor que eu quero dar. Meu querido amigo, eu agradeço todos os dias por você não ir embora. Ao contrário do que você pensa você é a maior e mais poderosa criatura que eu conheço, e pode sim ir embora quando quiser. Mas não faz isso, por favor. Eu não ia gostar. Nem quero saber se aguento, não quero pensar nisso.

Querido amigo imaginário, eu acho que por hoje chega, não quero abusar de você e da sua paciência. Não quero te alugar com todo esse sentir inútil. Não quero destruir o seu humor com esse coração oco que eu tenho. Não vou te pedir um coração, querido amigo imaginário, não vou te pedir nada. Nem posso, nem devo. Querido amigo imaginário, eu só quero que fique. Eu sei que posso esquecer todo esse falatório sobre amores e a falta deles. Sei que posso ser assim, sei que posso amar, sei que, algum dia, posso falar tão bem quanto você sobre isso. Quando eu conseguir falar de saudade como você, quando eu conseguir tirar esse resto trucidado de animal sofrido, quando eu trocar isso e preencher aquele pedaço destinado a um coração que sente você vai me amar de verdade, querido amigo imaginário? Você vai sentir saudades, vai me querer perto de você? Vai me ajudar com amores e com dores?

Querido amigo imaginário, eu espero poder amar, espero poder sentir um dia. Espero poder cuidar de você e te fazer rir sem ser com cócegas. Espero que você saia da minha cabeça e se torne alguém concreto, alguém de beijar, alguém de sentir, alguém de abraçar e dormir junto. Enquanto isso, amigo imaginário, eu tento me transformar em uma boa amiga imaginária pra você. Tento desejar que você me crie como eu sou, e que se sinta feliz por isso. Enquanto isso, querido amigo imaginário, eu procuro um nome pra você. Já tentei solidão, mas não combina contigo. Já tentei saudade, mas você não deixa eu me sentir assim. Já tentei tanta coisa! Agora, querido amigo, estou me esforçando pra poder te chamar de amor.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Harmonia

Beba meu sangue enquanto você pode
Deste coração sem veias que sempre explode
O cálice sagrado virou a maldição
Daqueles que agarraram a fé com duas mãos
E derramaram o sangue do cordeiro em vão

As cordas da sua lira enforcaram a melodia
Do canto da última alma que pedia
Um pouco de paz, ou apenas mais um dia

Esconda a sua inocência
De um julgamento precipitado
Só mais uma das sentenças
Que você poderia ter evitado
As marcas na parede
Os olhos inertes
Há quanto tempo que o tempo
No seu labirinto se perde?


Corte seus pulsos, sem minhas veias você não sangrará
É só mais um jogo que a sua mente insiste em jogar
Deitado no leito de morte da esperança
Um dia você já teve a inocência de uma criança
Mas agora ela só é uma lembrança

Fora da jaula o animal se mostra cruel
Receba a maldição como uma benção do céu
Fora da noite, em direção à luz
Apenas o medo te faz lembrar da cruz
Pergunte às nuvens, elas dirão “o culpado és tu”

As vigas que sustem a sua harmonia
Logo vão cair, mais dia, menos dia
Um pouco de paz da sua bela melodia

Esconda a sua inocência
De um julgamento precipitado
Só mais uma das sentenças
Que você poderia ter evitado
As marcas na parede
Os olhos inertes
Há quanto tempo que o tempo
No seu labirinto se perde?

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Por favor, Toque

(Quero)
Leveza, encanto...
Algo pra lembrar.
Qualquer coisa que me orgulhe.
Um lugar pra onde ir.
Um som, uma voz...
Algo que me faça crer que dá pra ser.
Ou apenas crer.

(Alguém para)
acreditar,
amar,
falar qualquer coisa que não se entende fácil.
dizer "eu te amo" (sem que eu tenha que perguntar antes).
Alguém pra quem eu não tenha que mentir.
pra quem eu não queira mentir,
pra quem eu não consiga mentir.
sentir o cheiro e conhecer
reconhecer
saber
entender e não ter medo.

(Ter)
braços para abraços,
mãos para carinhos,
olhares para apoio e admiração,
e coração pra dividir.

(Um coração para ver meu coração e)
derreter o degelo,
quebrar as pedras,
e ficar. Comigo.
preencher espaços,
cuidar das feridas.
saber calar o "não" que vier do medo,
aceitar o "não" que apenas vier.
ler os avisos ao fundo
dizendo "Por Favor, Toque".


Sweetie .

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Habilidade Inata

Alma vendida, sem cicatriz ou corte
Cura para a vida, um final sem morte
O que você ama, eu prefiro viver sem
A vida não é nada sem o que você tem

As faces tristes olham para você
Sempre existe alguém para te ver morrer
Uma alma perdida em um labirinto
O que não me mata, eu não sinto

Presas expostas, vítimas na mira
O desafie, sinta sua ira
Resposta curta para o problema
Façam silêncio, o ódio entrou em cena

O que você tem é uma habilidade inata
Quem você não tortura, você mata
O seu nome foi escrito no sepulcro
Amor eterno, eu não o culpo

Eu me recuso a acreditar
Não faço questão de te ver voltar
Não cure a mim, cure meu amor
Cure minha fé, ela sente dor


Não há discussão quanto ao que deve ser feito
Arranque o coração que há em seu peito
Não sinta culpa, sinta aflição
Nada mais merece a sua atenção

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Casa Reservada aos Monstros

Sabe quando bate aquele desespero? Aquela dor, aquela angústia, vontade de sumir? Dá uma fragilidade tão grande que dá vontade de chorar... Será que é frescura? Bom, não sei. Mas também, ninguém sabe alguma coisa demais nesse lugar. Assim, com folga. Chorei como se tivessem roubado minha boneca de pano (ou meu carrinho de rolimã, que faz mais meu tipo). Chorei feito uma criança. Uma criança desesperada.
Não tinha muito como saber o porquê daquilo tudo, acho que perdi a racionalidade em algum tropeço pelo caminho. Mas não me importa muito, se quer saber. Havia um lugar tão maior que eu, que me fazia acreditar que eu era só uma criaturinha diante daquele pequeno (grande) refúgio. E, apesar de meio quebrado, meio escuro, meio sujo; apesar do abandono, aquele lugar me trazia uma paz estranha, como uma ordem no meio do caos. Era calmo, era tranquilo, o mundo parecia parar lá dentro. Era ruim para a maioria, mas, quando se quer que o mundo pare só pra juntar os caquinhos, é realmente um bom lugar. E era um bom lugar. Era perfeito.

Logicamente, eu preferia minha praia, meu conforto, meu sol. Preferia não chorar, se eu tivesse essa escolha. Mas esse mundo é como um gigante com dentes e garras enormes, grunhindo para mim quando não tem ninguém por perto. Aquilo me afligia e alguém ia ter que ficar com aquela angústia. E não seria eu.
Acho que foi assim que as velhas casas de madeira, que me davam medo quando eu era criança, se tornaram o melhor abrigo. Não sei ao certo se é por conta do barulhinho que a chuva faz quando cai no teto ou porque quando o frio se mistura com o cheiro da terra molhada aquela sensação aconchegante dá um soninho gostoso, mas parece que aquela escuridão, aquela casinha sem móveis, me fazia sentir que aquela casa está se mostrando pra mim. Assim, como ela realmente é. Porque a tristeza quando tá dentro da gente deve ser assim como aquela casinha: Fria, escura, vazia, quebrada. E protegida. Uma proteção única para uma dor única. Uma única casa para um poço de tristezas. Aquele lugarzinho era bem escuro, sabe? Tinha algumas goteiras, porque ele chorava pra dentro, porque sofria junto comigo. As madeiras rangiam, como os gritos de dor que eu queria soltar pro mundo todo. Não tinha sofá, não tinha cadeira, mesa, nada. Aliás, acho que nunca teve. Nem sei porque existia, acho que só estava me esperando. Só a mim, porque nem ratos, baratas, moscas, nada daquilo afundava junto comigo no meu medo, encarava meus monstros e nem sofria no escuro. Porque aquilo era só meu. Aquela dor era minha, só minha. Reservada para mim, encomendada por você.

Aquela casa era parte de mim, era dentro de mim. Era o caminho pro meu coração. Estava em pedaços, estava escuro e frio. Estava com medo, estava sozinho. Estava bem ali, na casa dos meus medos, a casa dos meus grandes monstros, na parte escura de mim. Naquela casa, prestes a desabar. Ninguém havia pintado, ninguém havia escondido, ninguém havia protegido aquele lugar. Não se protege dor. Acho que nem se esconde de verdade, as pessoas é que não querem ver.

Essas casinhas existem apenas pra mim. Eu tenho uma rua de casinhas, uma rua de tristezas. E cada tristeza que se vai, derruba uma casinha daquela. E cada tristeza que nasce, constrói outra casinha, com direito a monstros, frio, dor, sujeira, escuridão. Pacote completo, lotes ilimitados. Adquira já o seu.

Existe um mundo cheio de casinhas de madeira, uma para cada pessoa, e uma para você também. Elas ficam ali no fim da estrada à direita, um caminho de terra batida. Todo dia chove por lá. Aliás, você pode se dar ao direito de perder as forças ou sentar-se num canto, encolhido em lágrimas, porque aquele barraquinho vai te fazer sentir protegido. São casas nuas, feitas pra gente chorar, onde as paredes vão te abraçar até as goteiras avisarem para suas lágrimas que é hora da dor passar.


SweetMonster .