terça-feira, 10 de setembro de 2013

Calmaria

Deixe o vento sussurrar enquanto a tempestade grita
Sem jamais interromper a correnteza deste rio escarlate
A reza silenciosa de sua alma torturada e aflita
É o que dá voz a este coração que já não bate

Deixe o vento gritar enquanto a tempestade ameniza
E seus olhos deixam a inundação da dor fluir
Não há mais nenhuma voz além da própria brisa
E é apenas ela que você deve ser capaz de sentir

A calmaria virá assim que você permitir que ela venha
Acredite que esse incêndio não precisa de mais lenha
Você já queimou toda carne que poderia querer queimar
Agora abra a janela e deixe entrar um pouco de ar

Você é sua própria paz, dentro da sua própria criação
Sua voz e seu silêncio, seja na insanidade ou na razão
Seja seu próprio motivo para então seguir em frente
Nada além das suas mãos vai segurar a sua mente

A calmaria só existe quando o espelho retribui o olhar
Com a calma e a dor coexistindo em perfeita harmonia
E aquela voz que absolutamente ninguém pode calar
É quem cantarola a sua triste e cansada melodia

domingo, 8 de setembro de 2013

Teia

Destrua minha voz enquanto eu grito por ajuda
Negue-me a verdade que eu te nego amor
Deixo-te me mentir, mas não permito que me iluda
Sou cego a teus defeitos e insensível a tua dor
O sussurro na tua garganta não me vê e não escuta
Tua saliva é como droga que me deixa em torpor
Ainda sinto na boca o gosto vermelho da tua voz bruta
Abro meus olhos, mas já não resta nenhuma cor

Mas ainda resta vida onde ontem havia menos que morte
Voltou a respiração aos pulmões secos e o sangue à veias
Ainda resta luz, e uma cicatriz onde um dia houve corte
E a presa finalmente consegue se livrar da teia

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A Flor do Silêncio

O silêncio construído com lágrimas presas
De sentimentos obscuros dotados de rara beleza
A ira naquele grito enjaulado dentro da mente
E a saliva que afoga o sussurro feroz e estridente

Você só quebra o silêncio quando não suporta a dor
Grita que conhece de perto o medo, mas nem sabe sua cor
Do espinho que impede o sangue de sair da ferida, nasce a flor
Ela só terá beleza e perfume se o sofrimento tiver ardor


A alquimia da sua voz misturada ao medo
Gera a sintonia da dor com o segredo
A mágoa é calada, mas transborda pelo olhar
Teme se expor, só seus sentimentos irão julgar

Você só quebra o silêncio quando a dor vai além da sua capacidade
A noite recém começou, mas você já sabe o quanto é tarde
As brasas estão se apagando, e isso é o que mais queima e arde
O medo de quebrar o silêncio e ter que encarar a verdade

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Doce Escuridão

Te entrego vida através do que eu não creio
O sangue contido em cada gota de suor
E o suor na única semente que eu semeio
Tem um gosto que tua língua já sabe de cor

Derradamas as lágrimas, nada mais pode ser feito
Um crime cometido a cada sussurro
E mais nenhum sussurro preso no peito
Todos ditos pela voz que preenche o vazio no escuro

Doce escuro, para olhos claros ou olhos negros
No escuro, todos são apenas olhos cegos
Doce escuridão, para o grito ou para o suspiro
De olhos fechados, é pela tua voz que eu me guio

Doce escuro, para olhos negros ou olhos claros
No escuro até o medo é um sentimento caro
Doce escuridão, para o suspiro ou para o grito
De olhos fechados, cada segundo parece o último e infinito