Quem sou eu, senão apenas mais uma boca que se alimenta da bondade?
Um mero olhar perdido no espelho, afogado e embriagado em vaidade?
Uma voz nunca ouvida em meio a toda a gritaria
Apenas uma folha caída, arrastado pela ventania
Quem mais serei eu assim que a última luz for finalmente apagada?
Um tijolo amarelo e só, pavimentando o fim da estrada?
Ou apenas uma mão ferida e ensanguentada...
Um mero pensamento que teve suas asas cortadas
Coloquei em suas mãos grande parte do que eu fui
E permiti seu julgamento sem nem ao menos questionar
E como um castelo de areia que na chuva rui
Eu lhe permiti ser o carrasco a me executar
Depositei em suas veias meu sangue, que agora é aguado
E ele corre agora fino em minhas veias frias
Não há mais batimento, meu coração está parado
E meu ódio e meu perdão são suas crias
Quem somos nós agora, senão certezas que foram desfeitas?
Promessas feitas em dias claros e descumpridas em noites imperfeitas?
Sangue derramado e crueldade enfim exposta
E o gosto agridoce que minha língua tanto desgosta
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