quarta-feira, 20 de julho de 2016

Deixar pra Trás

Inevitavelmente, meu olhar repousaria sobre o seu.
Seria difícil não notar.
Para mim, era impossível não querer.
Mas eu estava errada. Era possível, sim.

Era possível e aconteceu. Agora, olhando pra trás, percebo que esse tempo, esse ano passado, foi importante à medida que fez sentir-me poderosa, incrivelmente poderosa. E você estava lá. Você soltou a primeira faísca no meio da palha que eu era quando estava tão frágil. 

E "pegar fogo" foi a coisa mais importante que me aconteceu. Me salvou de ser a futura coadjuvante por toda minha vida. Você foi importante, não só por estar por perto (até porque você nem sempre esteve, não até que eu tivesse que ligar "pra dar um oi despretensioso"), mas porque você foi o responsável pelo início. Mas só pelo início. 

Naquele entremeio, foi tudo muito divertido, você me salvou de me sujeitar a uma relação doentia, mais uma. De me rebaixar, de aceitar o que fosse, por que era assim que a vida era, por que os outros poderiam ter, mas não eu. Hoje, eu olho no espelho e vejo uma perspectiva no futuro. A chance de ser "normal", "como as outras". E, se eu tivesse que escolher um momento decisivo, eu diria que esse momento foi você.

Mas foi só. Eu não me meti nisso sozinha, nós sabemos disso. Foi você que sabia onde pisava mas, deliberadamente, se esforçou pra me fazer querer de você algo que você não podia dar. Foi você quem me deu uma perspectiva racional mas, emocionalmente, me levou à um penhasco de onde eu não permitia me jogar.

Uma parte de mim gostava. A bem da verdade, uma parte de mim gostava de saber que era possível que EU pudesse amar, que EU era como qualquer outra. E eu te amava, sim. E descobri que não deveria sentir vergonha, pois eu só queria estar ao seu lado, cuidar de você, falar sobre o meu dia e ouvir sobre o seu, transar com você e, depois, aproveitar esse sentimento cego e dócil.

E essa foi a coisa mais conflituosa pela qual eu já passei. Pessoalmente, eu sabia que me fazia mal, mas não queria sair de lá, sair de você. Como uma criança que só quer viver o encanto de conhecer o mundo eternamente. Mas esse encanto se foi. O amor, o que eu achei todos os dias por todo esse ano (e um pouco mais) que não iria embora nunca, que sempre estaria lá de algum modo, desesperançoso e, de novo, manco e sombrio, se foi. E eu estou aqui.

Estou aqui recebendo suas mensagens e ligações, ouvindo a sua voz e te vendo falar de trivialidades. Estou aqui vendo você de um modo trivial e terno, alguém que eu nunca deixaria na mão, mas que ficou, emocionalmente, pra trás. E eu odeio quando alguém importante fica pra trás. Mas, dessa vez, abre-se uma exceção. Foi importante deixar você pra trás, foi libertador. Me sinto idiota, porque achei com todas as minhas forças que era pra sempre, que era amor e que você estaria atrelado à mim pra sempre, mas não foi assim. Mesmo quando você me fazia claramente mal, quando a vida, os meus amigos e a minha própria mente deixavam isso claro, eu queria te amar. Porque era bom ter alguém que me ajudou tanto por perto, porque você era a pessoa lógica a se amar, mesmo que nós não concordássemos com coisas que eu julgo vitais, mesmo que eu não me visse tendo uma vida contigo.

Te ver ficar pra trás, perceber que não foi você quem me emancipou, quem fez isso fui eu, que você não era o meu farol em alto mar (mesmo sendo a luz que eu queria perto)... Ver que eu não preciso de você, que não é justo comigo te amar só porque "é lógico" ou porque é bom sentir isso, é bom, no fim das contas.

É libertador.
É emancipador
Te deixar pra trás,
Porque você não me emancipava, 
Não me libertava;
Você só me tinha,
E "ter" não é o suficiente.

Agora, apesar do que possa parecer, eu sei me amar, sei como é (pelo menos achar que sei o que é) amar alguém e, mesmo assim, amar a mim, sem ninguém fazendo o mesmo.

Isso é bom, é libertador,
E só eu posso me libertar.

Você não me quis livre,
Não me quis fora de você
(E, ainda assim, aqui estou eu).

Ainda assim, hoje, talvez um pouco mais estranha, estou eu

Um pouco mais,
Sweetie.

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