quarta-feira, 13 de julho de 2011

Super-Heroína, Super-Kamikaze


Por vezes quando acordo de um sonho, tenho uma sensação tão confortante... Como se fosse um alívio aquilo não ter acontecido. E ali, deitada na cama, eu consigo simplesmente respirar fundo e repetir para mim que aquela dor é de mentira, é uma peça que a vida pregou em mim, por isso não tem nada a ver comigo.
Mas, bem no fundo, eu sei que estou enganada, sei muito bem que as piadas da vida são profundamente verdadeiras. Sei que tudo isso é sobre mim, sobre minhas crenças e meus desejos. Sobre como eu me sinto: sobre o conforto e a angústia diante de uma coisa tão crua que é um sonho. Sobre as noites sem sono e o medo de pensar naquilo novamente. Sobre desejar que aquilo seja (ou não) real. Porque acho que quando as coisas são reais elas são mais amenas. Quando é real, a ferida consegue cicatrizar. Parece que elas se camuflam, como uma proteção natural que permite que elas continuem existindo. E, por conta dessa proteção, é fácil aquela angústia sumir de você. Mesmo que você deseje que não tenha sido mesmo do jeito que você vê, ou que a realidade daquilo te pertença até se se tornar insuportável, a carne que a dor come não é tão fresca que não possa regenerar-se.
As pessoas que participam da vida da gente podem sim acrescentar, mas elas são tão potencialmente perigosas que por vezes eu preciso parar pra pensar se realmente vale a pena abrir a porta, porque não sei o que ela vai me dar quando tirar a minha vida do lugar, e levar aquele pedaço de mim que eu tenho desde sempre. Como se as pessoas existissem pra serem nocivas. Pra serem ameaçadoras. Isso me faz pensar no quanto que eu posso sofrer, o quanto eu possivelmente ainda vou sofrer. Me mostra que a minha dor pode estar sendo pré-fabricada. E pior: por mim mesma. Tudo aquilo que cicatriza, tudo aquilo que não é nu, tudo aquilo que é envolto em alguma máscara ou névoa, cada coisa dessas deixa o sentimento tão dormente, tão esquecido, que essa distância fica alheia a mim. Como se, por eu haver esquecido, eu simplesmente tivesse que reaprender tudo e, pra isso, cometer o mesmo erro outra vez. Sempre e sempre. Porque quanto mais dói, quanto mais profundo é o corte, maior é a necessidade de cicatrização. O ser humano é frágil demais pra manter uma ferida aberta, uma dor exposta. E eu não sou tão forte assim, as pessoas é que dizem tanto que eu acabo acreditando nisso. E tentando dar uma de super-heroína. Na verdade, sou uma super-kamikaze. Daí, quando aquilo se torna completamente dormente e alheio, quando eu finalmente esqueço as marcas da cicatriz, as coisas simplesmente voltam a acontecer: as marcas se apagam, a dor some.
Acho que isso é sobre a dor de sentir, sobre acreditar que sonhos são realmente sonhos, quando na verdade não é nada daquilo. É para pensar sobre como os sonhos são meus, é pra mostrar que eles me identificam, me nomeiam, me preenchem. Para eu saber que a realidade dos meus sonhos vai me perseguir mesmo quando eu abrir os olhos. Isso é porque eu sei que eu só sou eu quando eu sonho. Que eu só me permito de verdade, com sobra, porque é um sonho. Porque no sonho, é mágico. É leve, é cheio de sorrisos que flutuam. Porque eu nunca vejo os dentes pontudos da censura e as enormes garras da culpa que vão me marcar e devorar minha liberdade. E não é fácil correr o risco. Não é fácil pular de abismos só pra sentir a adrenalina do vôo. Mas eu o faço mesmo assim. Ainda assim eu me permito fazer, me permito falar, me permito trazer os sonhos pra realidade, mesmo vendo que tem espinhos no fundo do caminho, prontos pra me furar. E pelas costas.
Mas a (minha) vida é assim. É meu bem, agora que você limpou toda a bagunça que existia dentro de você, vai precisar de alguém que bagunce tudo novamente. Essa dor nada mais é do que a busca pelo conforto. Para sair de um poço é preciso entrar nele. Afunde, se afogue, vai pela sombra. E sabe, existe certa vitalidade nessa quase-morte. É isso faz você se sentir viva, eu sei. Vá em frente, viva. Pague o preço, caia. Alguém tem que sofrer ceder. Deixe que sangre, deixe que doa. Quando a ferida cicatrizar, será a hora certa. Siga em direção a luz, você vai se reerguer. Agora saia de casa e cometa o mesmo erro, apenas pra se sentir viva.
SweetieBloody .

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