quarta-feira, 20 de junho de 2012

O Seu Primeiro Passo Depois do Último

Quando eu tinha cinco anos, eu me sentia parte do mundo. Não desse jeito que todo mundo sente. Parecia que o mundo era uma extensão do meu corpo, e eu o modelaria e faria dele o que eu quisesse. E eu gostava muito do mundo que eu via, então eu só aproveitava o que ele me dava. Quando eu tinha cinco anos, eu era feliz.
Hoje, crescida, parece que eu viajei pra outro planeta. Eu não faço parte do mundo, nem ele de mim. Olhar pros lados faz parecer que eu estou cercada por algo que eu não entendo. Que eu não entendo e que não me quer. Hoje tudo que eu consigo experimentar do mundo é algo sem cor e sem brilho, rígido e triste, que não se modela, colore ou convive. É impossível viver um mundo assim, parece que algo se perdeu nele. Talvez tudo que ele tenha seja pequeno demais pra preencher tudo que eu não sinto, como se eu fosse um gigante diante de todas as possibilidades, e não pudesse ter todas juntas. Cada escolha parece ser a escolha errada nesse mundo branco e preto, porque eu não o entendo mais. Não dá para “simplesmente viver”. Cada esquina que eu ando, eu vejo aquelas luzes brilhantes, que me convidam. Mas depois de tentar conviver com a vida, todas aquelas luzes só me levam a um ouro falso.
É preciso conviver com o futuro. É preciso esperar o que virá, como um cheque pré-datado. Viver é como um jogo: às vezes você perde, às vezes, ganha. E a vida é uma justa cobradora. Às vezes ela parece ter levado tudo de você, mas ela só leva embora o que você apostou. Tudo que fica parece não significar nada, mas é tudo o que você tem. Um belo dia, a vida volta com um par de dados na mão, e você pensa “porque não?”, e vai em frente. Quando você ganha, ela te traz um presente, e você precisa cuidar dele. Mas às vezes nós, seres humanos, fazemos as coisas do jeito errado. Existem coisas que você tem, mas não tem pra sempre. Existem coisas que você tem, e que nem a vida pode te tirar. Quando a vida te tira algo, é porque você pode sobreviver sem ela. Um ditado chinês diz que “não precisamos de nada quando não temos nada”. Mas nós precisamos de algo, eu preciso de algo, todos precisamos. O que eu aprendi é que, como diz o provérbio chinês, nós precisamos de algo porque, não importa o quão importante seja aquilo que lhe foi tirado, o quando doa, o quanto te mate por dentro, você ainda tem a si. Tem a imagem no espelho, e o suficiente para se reerguer. E você tem, tem aquela força quase inumana que levanta a cabeça e move um corpo que você acredita que estava vazio. Ter a si próprio é só o que você precisa pra suportar a vida, porque viver dói, viver é um risco, mas toda essa dor é só a vida te cobrando o que você deve. Pode ser que ela volte com um presente, ou não. Mas você ainda tem muita coisa em você, e muitas outras coisas pra conquistar. Hoje, talvez o mundo não faça parte do seu corpo, talvez certas coisas você não possa mudar, mas sempre poderá usá-la de um modo que te faça feliz. Mesmo que agora você não possa mudar o mundo, mas você ainda pode usar o que você tem pra conquistar o que não tem. Pode conviver com isso, se fizer as escolhas certas, ou se escolher somente viver.

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