Hoje, crescida, parece
que eu viajei pra outro planeta. Eu não faço parte do mundo, nem ele de mim.
Olhar pros lados faz parecer que eu estou cercada por algo que eu não entendo.
Que eu não entendo e que não me quer. Hoje tudo que eu consigo experimentar do
mundo é algo sem cor e sem brilho, rígido e triste, que não se modela, colore
ou convive. É impossível viver um mundo assim, parece que algo se perdeu nele.
Talvez tudo que ele tenha seja pequeno demais pra preencher tudo que eu não
sinto, como se eu fosse um gigante diante de todas as possibilidades, e não
pudesse ter todas juntas. Cada escolha parece ser a escolha errada nesse mundo branco
e preto, porque eu não o entendo mais. Não dá para “simplesmente viver”. Cada
esquina que eu ando, eu vejo aquelas luzes brilhantes, que me convidam. Mas
depois de tentar conviver com a vida, todas aquelas luzes só me levam a um ouro
falso.
É preciso conviver com o
futuro. É preciso esperar o que virá, como um cheque pré-datado. Viver é como
um jogo: às vezes você perde, às vezes, ganha. E a vida é uma justa cobradora. Às
vezes ela parece ter levado tudo de você, mas ela só leva embora o que você
apostou. Tudo que fica parece não significar nada, mas é tudo o que você tem.
Um belo dia, a vida volta com um par de dados na mão, e você pensa “porque
não?”, e vai em frente. Quando você ganha, ela te traz um presente, e você
precisa cuidar dele. Mas às vezes nós, seres humanos, fazemos as coisas do
jeito errado. Existem coisas que você tem, mas não tem pra sempre. Existem
coisas que você tem, e que nem a vida pode te tirar. Quando a vida te tira
algo, é porque você pode sobreviver sem ela. Um ditado chinês diz que “não
precisamos de nada quando não temos nada”. Mas nós precisamos de algo, eu
preciso de algo, todos precisamos. O que eu aprendi é que, como diz o provérbio
chinês, nós precisamos de algo porque, não importa o quão importante seja
aquilo que lhe foi tirado, o quando doa, o quanto te mate por dentro, você
ainda tem a si. Tem a imagem no espelho, e o suficiente para se reerguer. E você tem, tem aquela força quase inumana que levanta a cabeça e move um
corpo que você acredita que estava vazio. Ter a si próprio é só o que você precisa
pra suportar a vida, porque viver dói, viver é um risco, mas toda essa dor é só
a vida te cobrando o que você deve. Pode ser que ela volte com um presente, ou
não. Mas você ainda tem muita coisa em você, e muitas outras coisas pra
conquistar. Hoje, talvez o mundo não faça parte do seu corpo, talvez
certas coisas você não possa mudar, mas sempre poderá usá-la de um modo que te faça
feliz. Mesmo que agora você não possa mudar o mundo, mas você ainda pode usar o
que você tem pra conquistar o que não tem. Pode conviver com isso, se fizer as
escolhas certas, ou se escolher somente viver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário