Querem dissecar meu coração;
Atravessar as fronteiras do meu cérebro;
Querem uma legião de analistas
Que preveja um futuro.
O nosso futuro.
Mas o futuro é sempre o passado
Sempre os mesmo erros, as mesmas mentiras,
As mesmas piadas, com risadas enlatadas.
Querem meu sangue
Em garrafas com rolha;
Querem meu cérebro
Em bandejas de prata;
Querem a mim, exatamente igual,
Pra criar um futuro, que é igual ao passado;
Com os mesmos acertos, as mesmas escolhas:
Sempre sentada na esquina, olhando para o futuro.
Façam suas preces, joguem seus dados
Na roleta viciada da sua própria vida.
Sempre as mesmas coisas, debaixo do mesmo teto,
Olhando para o horizonte,
De olho em algo que não se sabe,
Mas que é igual ao que já se foi,
Enquanto passa os dias
Procurando o futuro no passado.
Da mesma forma que sempre foi
Azeda, amarga, agradecendo ao ídolo dos anos 80
Por ter gosto na vida.
Por andar pela lama,
Lambendo o chão.
Como no futuro,
Prevendo o passado
Em bolas de cristal.
De pernas cruzadas, com olhos de raios-X
Planejando algo novo,
Mas não tão original;
Analisando o que já foi
Pra reproduzir um futuro
Igual ao passado
Com as mesmas preces, as mesmas expressões
Em rostos cada vez mais jovens.
Sempre com as mesmas fórmulas,
Pagando o mesmo preço,
Rastejando no mesmo lodo,
Pra ter o que reclamar
Nos oráculos empoeirados
De um futuro
Que é igual
Ao que já foi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário