sábado, 4 de junho de 2011

Fica, mas não sei fazer bolo

Uma vez eu disse que não sabia amar, mas agora não tenho tanta certeza. Pra mim, a vida era mais ou menos como uma receita: por mais emoções que tivessem no caminho, eu acabaria descobrindo a tempo o que colocar na vasilha pra mexer e por no forno. Mas agora eu não sei. Eu perdi a receita, e saiu tudo errado.
Eu queria ter algo pra atrair. Não sei... talvez pudesse ser bonita, mas não sei usar maquiagem. Queria ser culta, mas nunca li a obra completa de Niestzche. Queria ser descolada, mas não sei andar de salto, e a coisa mais próxima de descolar em mim é aquela pelezinha do joelho que eu machuquei quando tropecei por andar distraída pensando em você. Eu queria ter algo que te fizesse ficar, não importa por qual motivo. Só ficar. Ficar aqui, ficar comigo e ficar feliz.
Acho que o que atrapalhou a minha vida foi o orgulho. Desses bobos, que não me deixavam admitir que eu faria (quase) qualquer coisa que fosse possível naquele segundo só pra você ficar. Sou daquelas que engole o soluço e manda ir embora pra ir chorar no quarto. Daquelas autossuficientes infelizes. Estufava o peito e dizia que não precisava de ninguém, falava com uma cara tão ruim que ninguém ousava contrariar. Mas também sou a que come brigadeiro chorando em comédias românticas. Sou a que bate na porta dos amigos às 2 da manhã molhada de chuva e só sei pedir abraço. Sou a que precisa de colo, mas só uma pessoa sabe, e essa pessoa nem pode fazer isso.
Sou mais ou menos 200 mulheres diferentes numa só, mas eu não sei se consigo te fazer ficar. Na verdade, eu tenho medo de não conseguir, de fazer alguma coisa e você me olhar com desprezo e ir embora. As duzentas mulheres que moram em mim acham que te amam. Todas elas, e com a mesma intensidade. Uma tem medo de te perder, e a outra insiste em esconder os olhos molhados pra dizer que não precisa de você, daquelas que tem medo de ser deixada e prefere deixá-lo ir antes. Mas quando é pra chorar, chora tão fundo que te faz sair acreditando que ferveu os coelhinhos dela e furou os olhos do ursinho de pelúcia. Algumas de mim lambem a colher do brigadeiro e queimam a língua. As outras mordem os lábios e não conseguem ter fome. A pior parte é que todas te amam, mas nenhuma te diz isso.
Sou daquelas frágeis que pulam nos braços do amante imperfeito com o qual sonhou ontem, depois olha bem nos olhos com o encanto da primeira vez. Sou a que chora por tudo, a que ri e tem raiva ao mesmo tempo. A que você possivelmente chamaria de insegura, mas ela nunca admitiria. Sou uma daquelas – em todo lugar tem uma dessas – que os amigos julgam Amélia, mas que o imperfeito que ela quer, acha que é só “mais uma”. Tenho poucos medos, mas são medos esquisitos. Sou do tipo que tem medo de falar de sentimentos na primeira pessoa. A que não admite sentimentos, apenas os cogita. Além do medo de barata e do escuro, sou aquela dos medos infantis, com ataques de pânico quando alguém dá tchau. Penso em fugir, sempre penso. Mas meus pés grudam no chão, e a mente diz que, aconteça o que acontecer, não tem volta. Aí não fujo.
Sou das que se sente segura só de ouvir um “vai ficar tudo bem”. Sou durona, acredite, mas tenho um coração tão pirracento, que deixa o amor ir embora só pra não admitir a fraqueza evidente. Mas agora eu desisti, quero te fazer ficar. Ainda não sei fazer bolo, mas prometo que aprendo. Fica?



Sua Sweetie.

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