quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Devo dizer,

seu toque me faz ter arrepios. Pensar em você me dá medo, e eu gosto desse medo. Gosto de você. Eu acho que deve ter algo perdido no meu coração pra você. Isso aqui passou em todos os modelos de sentimento que eu imaginei, mas não se encaixou em nenhum deles. Não sei bem como é, isso de sentimento, eu não sei. Nunca usei. Mas ainda me dá medo, tenho medo do que tem perdido aqui, e que é seu."
Não quero amor de poeta, nem quero amor de jeito nenhum. Sem poesia, sem incerteza.
(E olha que eu nem costumo gostar de segurança. Adrenalina, energia, essas coisas. Mas esse amor, esse sentimento que as pessoas falam, esse negócio que os poetas não conseguiram decidir ainda se dói ou se não dói, eu tô tentando deixar passar. Não, não quero amor de poeta. Assim, liberto.)

Com aqueles olhos, aqueles grandes olhos, ele simplesmente sorri. Ele se aproxima, ela recua. Ele tenta não se aproximar mais, mas as pernas não atendem. Estava bem, estava tranquilo e feliz. Com o ego alimentado, mas nada mais que isso passava por ele.
E aquela mulher, aquela menininha assustada, simplesmente se corroía e se destruía por dentro. Não deveria ter dito nada daquilo, e tinha aquelas esperanças (sem sentido) de que ele não tenha entendido nada. Mas ele havia entendido. Ouvido, entendido, sorrido, e vindo. Sorrindo na direção dela, e aquilo a fazia tremer. E enquanto ele pedia pra ela se acalmar, enquanto ele falava qualquer coisa que ela não queria ouvir, ela se distraía com a idéia daquilo ser um sim, mas não era. Então seus sentidos ficaram inevitavelmente presos aquele momento, e ele simplesmente a lembrava da poesia, e de como o amor seria inevitável ali. Então ela alcançou algumas palavras, que deixaram de dançar no ar e caminharam em fila até ela.
"Você pode não querer amor, mas sei que você adora poesia. Já sei, conheço seu corpo, sua mente. Te conheço por dentro e por fora. Sei que você é feita de poesia, sei que as letras e as palavras deslizam por você sem medo. No seu corpo não existe a palavra medo."

Ela quis dizer alguma coisa, quis correr e apagar aquele momento da vida dela. Não devia ter dito aquilo. Não devia ter ido até ali, mas agora não tinha mais escolha. Ela respirou, mas permaneceu (tremendo) no mesmo lugar. Aqueles trinta segundos pareciam eternos, e ela pensou em como a vida dela tinha sido jogada fora. Era verdade, ele conhecia seu corpo, a conhecia. Ela sabia, ele sabia,os dois sabiam o que sentiam, mas ninguém se importava com isso. Até o sentir sair penetrando na carne dela e contaminar todo o corpo. E ela, indefesa, pegou o telefone, trocou algumas palavras com o rapaz, e o resultado era aquele. Não se lembrava como tinha chegado ali, simplesmente parara no tempo. Renasceu, precisava daquilo. Tudo que fez em sua vida se tornou pequeno diante daquele segundo de coragem. Se arrependera, mas estava orgulhosa de si.
Parou. Olhou. Respirou novamente. E, dessa vez, ergueu os olhos pro rapaz, que não era muito atraente, só pra ela. Percorreu os olhos pelo rosto, desenhou o corpo do rapaz com os olhos. Andou dois passos, do jeito que conseguiu. E, com uma dormência insuportável no coração, abriu a boca, e ele ouviu sair daqueles grandes lábios apenas algumas palavras.
Ela pensou, ela o olhou, ela entendeu a situação, e disse: "Eu quero você, mas não quero nada disso".
Por alguns segundos, aquilo não fazia sentido racional nem pra ela. Mas, lá dentro dos seus órgãos infectados pelo amor, pôde saber que não queria, que se recusava, na verdade, a caminhar mais um passo que fosse na direção do rapaz. Pensou e, racionalmente, viu que tinha uma opção. A vida dela não iria mais se cruzar com a dele, e essa é uma daquelas histórias ruins de desamor.

(Acho que a mulher, a menina indefesa, conseguiu sentir por um segundo tudo o que os poetas sentem quando escrevem seus contos de amor. Sentiu, mas passou, e ela estava decepcionada. Pra quê amor? Não sabia, não importava, e a vida dela seguiria. Sem amor. Aquilo de amor, ela não queria. Não sabia, não sentia. Não daria mais uma gota do seu sangue por uma pitada de satisfação num mar de dor. "Se quiser esse amor, fique pra você". Sentir é para os loucos, afinal).

Sour .

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