sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Casa Reservada aos Monstros

Sabe quando bate aquele desespero? Aquela dor, aquela angústia, vontade de sumir? Dá uma fragilidade tão grande que dá vontade de chorar... Será que é frescura? Bom, não sei. Mas também, ninguém sabe alguma coisa demais nesse lugar. Assim, com folga. Chorei como se tivessem roubado minha boneca de pano (ou meu carrinho de rolimã, que faz mais meu tipo). Chorei feito uma criança. Uma criança desesperada.
Não tinha muito como saber o porquê daquilo tudo, acho que perdi a racionalidade em algum tropeço pelo caminho. Mas não me importa muito, se quer saber. Havia um lugar tão maior que eu, que me fazia acreditar que eu era só uma criaturinha diante daquele pequeno (grande) refúgio. E, apesar de meio quebrado, meio escuro, meio sujo; apesar do abandono, aquele lugar me trazia uma paz estranha, como uma ordem no meio do caos. Era calmo, era tranquilo, o mundo parecia parar lá dentro. Era ruim para a maioria, mas, quando se quer que o mundo pare só pra juntar os caquinhos, é realmente um bom lugar. E era um bom lugar. Era perfeito.

Logicamente, eu preferia minha praia, meu conforto, meu sol. Preferia não chorar, se eu tivesse essa escolha. Mas esse mundo é como um gigante com dentes e garras enormes, grunhindo para mim quando não tem ninguém por perto. Aquilo me afligia e alguém ia ter que ficar com aquela angústia. E não seria eu.
Acho que foi assim que as velhas casas de madeira, que me davam medo quando eu era criança, se tornaram o melhor abrigo. Não sei ao certo se é por conta do barulhinho que a chuva faz quando cai no teto ou porque quando o frio se mistura com o cheiro da terra molhada aquela sensação aconchegante dá um soninho gostoso, mas parece que aquela escuridão, aquela casinha sem móveis, me fazia sentir que aquela casa está se mostrando pra mim. Assim, como ela realmente é. Porque a tristeza quando tá dentro da gente deve ser assim como aquela casinha: Fria, escura, vazia, quebrada. E protegida. Uma proteção única para uma dor única. Uma única casa para um poço de tristezas. Aquele lugarzinho era bem escuro, sabe? Tinha algumas goteiras, porque ele chorava pra dentro, porque sofria junto comigo. As madeiras rangiam, como os gritos de dor que eu queria soltar pro mundo todo. Não tinha sofá, não tinha cadeira, mesa, nada. Aliás, acho que nunca teve. Nem sei porque existia, acho que só estava me esperando. Só a mim, porque nem ratos, baratas, moscas, nada daquilo afundava junto comigo no meu medo, encarava meus monstros e nem sofria no escuro. Porque aquilo era só meu. Aquela dor era minha, só minha. Reservada para mim, encomendada por você.

Aquela casa era parte de mim, era dentro de mim. Era o caminho pro meu coração. Estava em pedaços, estava escuro e frio. Estava com medo, estava sozinho. Estava bem ali, na casa dos meus medos, a casa dos meus grandes monstros, na parte escura de mim. Naquela casa, prestes a desabar. Ninguém havia pintado, ninguém havia escondido, ninguém havia protegido aquele lugar. Não se protege dor. Acho que nem se esconde de verdade, as pessoas é que não querem ver.

Essas casinhas existem apenas pra mim. Eu tenho uma rua de casinhas, uma rua de tristezas. E cada tristeza que se vai, derruba uma casinha daquela. E cada tristeza que nasce, constrói outra casinha, com direito a monstros, frio, dor, sujeira, escuridão. Pacote completo, lotes ilimitados. Adquira já o seu.

Existe um mundo cheio de casinhas de madeira, uma para cada pessoa, e uma para você também. Elas ficam ali no fim da estrada à direita, um caminho de terra batida. Todo dia chove por lá. Aliás, você pode se dar ao direito de perder as forças ou sentar-se num canto, encolhido em lágrimas, porque aquele barraquinho vai te fazer sentir protegido. São casas nuas, feitas pra gente chorar, onde as paredes vão te abraçar até as goteiras avisarem para suas lágrimas que é hora da dor passar.


SweetMonster .

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