quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Querido Amigo Imaginário,

Obrigada por estar aí do lado. Me olhando, me cuidando. Me ajudando a acreditar que serei querida por uma criatura viva um dia.

Antes que você se rebele querido amigo imaginário, saiba que não falo desse querer com o qual você me quer. Falo de outros quereres, outros beijos, outros abraços, outras intenções. Outros fins, outros banhos de chuva, outros sonhos ao dormir junto. Saiba querido amigo, que meu desejo de "eu te amo" é um pouco diferente nesse momento. E isso não me faz tão bem quanto parece, como você deve imaginar. E não faz mesmo. Ainda estou decidindo se gosto ou não dessa esperança, se acredito ou não nela.

Ainda bem que você existe, meu querido amigo. Ainda bem que tenho você pras minhas palavras soltas, pros meus risos sem fim(ns), pros meus desejos malucos, pras minhas insônias. Ainda bem que você existe pra me amar de alguma forma, mesmo que não seja "daquela" forma. Ainda assim eu me sinto querida, me sinto gostada, me sinto bem por isso. Sem fronteiras, sem motivos, sem questionamentos. Apenas sentir. E bem.

Talvez, querido amigo, você se pergunte por que você não me ama. Eu te criei, eu te alimentei, eu te fiz (e faço) real. E porque não alguém que me ame?

Sabe meu querido amigo, eu queria alguém pra conquistar. Alguém que quisesse ficar comigo, e ficar feliz com isso. Entenda meu bem, mas não me entenda mal. eu gosto de você, estou satisfeita demais contigo. Você me orgulha, me faz bem. Sempre e sempre. Não queria uma conquista de troféu, não queria uma conquista de ego e orgulho. Não quero uma conquista que me diga sobre o "poder fazer". Eu quero uma conquista além da pele, do cheiro, do olhar. Também isso, mas a conquista do estar junto sem por que.

Mas a verdade, meu querido amigo imaginário, é que essa existência de um amigo-amor é coisa da minha cabeça. Um amor imaginário, um sonho diário. Uma coisa qualquer. Sabe, querido amigo imaginário, seria bobagem pensar em um amigo-amor, criar um amor só meu. Seria uma coisa... Uma coisa. Uma daquelas que a gente perde o controle e cria uma criatura que, definitivamente, não vai fazer bem a ninguém. Eu não quero criar um querido-amante-sofrimento-real, eu só quero... Sorrir.

É, eu sei, querido pensamento doce, que amizades sempre podem ser amores. Que amores são também amizades. São paixões de pele, de carne e osso, de querer grudar no outro até não sair mais... Sei, sei que tudo isso fica melhor com amizade. Mas eu já tentei, querido amigo imaginário, eu tentei. Deus é testemunha, se ele existir. Eu fiz de tudo, passei por todas as etapas. E sofri, mas pulei a fase do "amor". Já ele, meu querido amigo, já ele simplesmente parou na fase da pele. Na fase do toque, que eu nem sei se significou algo pra ele.

Sabe querido amigo, até que superei. Até que consigo deixar isso pra lá, até que consigo viver sem isso. Até que aprendi a conviver sem saber se fui algo, se conseguiria ser algo. Não pra ele, mas pra qualquer um. Pra ele também, porque não?

É meu querido amigo imaginário, eu vim aqui pra desabafar contigo, pra te alugar só mais uma vez. Vim pedir clemência, vim pedir pra você não me odiar por isso. Olho, eu te amo, meu amigo. Amo você, com um monte de forças, com tudo que eu lembro que tenho. Mas amigo, não é esse amor que eu quero ter, não é esse amor que eu quero dar. Meu querido amigo, eu agradeço todos os dias por você não ir embora. Ao contrário do que você pensa você é a maior e mais poderosa criatura que eu conheço, e pode sim ir embora quando quiser. Mas não faz isso, por favor. Eu não ia gostar. Nem quero saber se aguento, não quero pensar nisso.

Querido amigo imaginário, eu acho que por hoje chega, não quero abusar de você e da sua paciência. Não quero te alugar com todo esse sentir inútil. Não quero destruir o seu humor com esse coração oco que eu tenho. Não vou te pedir um coração, querido amigo imaginário, não vou te pedir nada. Nem posso, nem devo. Querido amigo imaginário, eu só quero que fique. Eu sei que posso esquecer todo esse falatório sobre amores e a falta deles. Sei que posso ser assim, sei que posso amar, sei que, algum dia, posso falar tão bem quanto você sobre isso. Quando eu conseguir falar de saudade como você, quando eu conseguir tirar esse resto trucidado de animal sofrido, quando eu trocar isso e preencher aquele pedaço destinado a um coração que sente você vai me amar de verdade, querido amigo imaginário? Você vai sentir saudades, vai me querer perto de você? Vai me ajudar com amores e com dores?

Querido amigo imaginário, eu espero poder amar, espero poder sentir um dia. Espero poder cuidar de você e te fazer rir sem ser com cócegas. Espero que você saia da minha cabeça e se torne alguém concreto, alguém de beijar, alguém de sentir, alguém de abraçar e dormir junto. Enquanto isso, amigo imaginário, eu tento me transformar em uma boa amiga imaginária pra você. Tento desejar que você me crie como eu sou, e que se sinta feliz por isso. Enquanto isso, querido amigo imaginário, eu procuro um nome pra você. Já tentei solidão, mas não combina contigo. Já tentei saudade, mas você não deixa eu me sentir assim. Já tentei tanta coisa! Agora, querido amigo, estou me esforçando pra poder te chamar de amor.

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