quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

E moeda de troca, tem?

"Oi, te amo."

"Bom dia pra você", foi o que ela respondeu. Ele passou semanas treinando frente ao espelho, estudando a melhor forma de dizer que a amava, e tudo que ela tinha a dizer era "bom dia". Não, não era um "bom dia". Ele acabara de entregar seu coração (e entregaria tudo mais que ela quisesse) em troca de um bom dia quase sem sonoridade, vindo de uma mulher que sequer tinha ouvido o que ele disse. Olhou bem pra ela e a viu interessada pelo café, como se precisasse desesperadamente de um gole pra aguentar o dia. Sentiu-se insuportável, e tentou ponderar pra levar a situação adiante. "Talvez estivesse frio" ele pensou, mas o café não era a única coisa fria. No segundo seguinte, o espaço que tinha antes um coração estava preenchido de ar gelado de fim noite. E ainda era dia. Um "bom dia", pra ser mais exato.


"Bom dia pra você".

Saíram automaticamente poucas palavras frias da boca dela. Ela não se importava mais, afinal, era só mais um dia. Então parou, sentiu o café frio, mas sabia que não era aquilo que havia a surpreendido. Achou ter ouvido algo diferente do usual. "Eu te amo". Sim, era isso, era um "eu te amo", agora tinha certeza. Simples, como um "me passa a caneta", e aquilo parou seu mundo por completo. Assim, de cara, em plena quarta-feira. Sabia que não conseguiria esconder o quão tinha ficado sem jeito, e teve medo disso. Tinha medo dele. Era hora de encarar, ela tinha medo. Tinha medo porque se ele entrava pela porta, ela estremecia toda, suava e se sentia como se fosse a melhor coisa que Deus já havia feito. Mesmo que ele pedisse somente a caneta.


Mas não era uma caneta. Era um "eu te amo" ensaiado por semanas, um coração entregue na mesa de trabalho dela. E ela não sabia o que fazer, o que dizer. O mundo tinha ficado diferente de alguma forma, e aquilo encheu o coração dela de vida, porque também o amava. E, diante daquilo, sonhava em simplesmente pular no pescoço do rapaz, mas, ao invés disso, seu cérebro havia congelado. O café de repente se tornou a coisa mais quente que havia por perto, e ela precisava fazer alguma coisa. E fez. Nada. Decidiu fazer daquilo algo casual, na tentativa desesperada de diminuir seu embaraço e falou alguma coisa que esperava que lhe desse forças pra dizer o que sentia. Abriu a boca e as palavras fugiram antes de serem engolidas. A sorte havia sido lançada.
Ele, por sua vez, esperou por ela. Esperou seu amor, esperou que ela o quisesse também ou que ela não o quisesse. Esperou alguma atitude, mas não recebeu nenhuma. Ainda assim, ficou parado por alguns segundos diante da mesa, se sentindo um idiota. Depois de alguns segundos, quando estava decidido a simplesmente dar as costas e seguir em frente tomando garrafas e mais garrafas de whisky às oito da manhã, ouviu a vozinha doce dela, falando pra dentro como se tivesse pensando alto. "Disse alguma coisa?" foi o que ela perguntou distraidamente. Teve vontade de dizer que sim, que tinha acabado de fazer a coisa mais destrutiva de sua vida, ou algo assim. Ao invés disso, ela estava tornando tudo mais difícil, então ele simplesmente voltou atrás. "Nada", foi a sua resposta. E saiu pela porta, mais embaraçado que decepcionado, e estava escrito na testa dele o quão despedaçado ele estava. Podia-se ler na sua cara, nitidamente, um "Troco meu coração por uma moeda".

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