segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Inesperado E Inevitável

Em uma terrina de barro ele guardava um pedaço do seu próprio coração. "Foi a única coisa que ela deixou quando partiu" era a desculpa que dizia para si mesmo para justificar a permanência daquele fragmento de quase nada ao seu redor. As memórias acabavam por invadi-lo sempre que se pegava olhando o tal fragmento.

Algumas noites de verão com a janela aberta esperando a brisa amenizar a temperatura. Algumas noites chuvosas de inverno com a janela fechada, olhando aquele péssimo programa de televisão com uma caneca de café quente na mão e as janelas embaçadas pelo frio. Algumas frases que eram repetidas em ocasiões diversas, principalmente em discussões.

“O amor não é tudo, ele não sustenta tudo sozinho”. Ele discordava, naturalmente, já que nunca exigiu nada dela além disso. "Não tem que ser eterno para ser verdadeiro". Como ele se cansou de ouvi-la dizer aquilo, mesmo discordando. "Pra mim é eterno" ele respondia. “Prefiro chocolate branco que chocolate preto”, e essa era, definitivamente, o maior dos motivos pra discussões. Nesse momento ele seria capaz de tudo para ouvir apenas mais uma vez aquela pequena nota de insanidade. Mas ele nunca mais ouviria. E ela também nunca mais falaria, fosse para ele ou para alguém mais.

E hoje faz recém uma semana que aconteceu o inesperado e inevitável. Ela se foi, dizendo que queria seguir com a vida, sem muitas explicações, apenas dizendo “de alguma forma, meu coração será sempre seu”, e ele simplesmente concordou em silêncio antes de dar um último abraço.

Ele pensava em tantas coisas enquanto, com um aperto no peito e outro na garganta, olhava para aquele mero fragmento que restou dela. Corações batendo juntos, respirações ofegantes, olhares cruzados... Nada disso se repetiria, mas ele ainda tinha algo dela, para o bem ou para o mal. E, enquanto uma lágrima solitária escorria de seu olho direito, ele fechava a terrina que continha esse algo pensando "e infelizmente ele não vai mais bater...".

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