segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Imperfeição

Por algum motivo, a perfeição sempre me pareceu algo muito além de meramente inalcançável. Acho que a palavra certa é “monótona”. A idéia de perfeição que nos vendem, e que nós aceitamos sem pensar muito sobre ela, tornaria nossas vidas simplesmente insuportáveis.

Eu gosto de dias sem sol, céus nublados, janelas com gotas de chuva e vidros embaçados. Toalhas molhadas aos pés da cama para provar que alguém esteve ali. O perfume quase doce demais que ficou levemente no ar, como um fiapo de lembrança. As traças que devoram as fotos antigas, as memórias novas que roubam o espaço que há pouco era ocupado pelas memórias velhas. O gosto amargo no fundo da boca que sobrepuja o doce que azedou.

Gosto de olhos que derramam lágrimas, rostos marcados tanto por sorrisos quanto por pranto. Da pele que foi arranhada, mesmo que numa brincadeira, seguida seja de lágrima, riso ou sangue. Do pulso que tem tantas cicatrizes quanto o coração. Gosto da idéia de cicatrizes, de que elas são a prova de que você viveu, de que passou por algo que te marcou, seja de uma forma boa ou má. Mais que isso, amo as minhas cicatrizes, elas me provam que eu não apenas vivi, mas senti, não passei incólume pela vida de forma nenhuma. As cicatrizes são como relíquias que você tem que guardar, e deve olhá-las de vez em quando pra relembrar da lição que foi tão dolorida de aprender, afinal, por pior que tenha sido, passou, mas deixou algo de bom.

Tudo sempre deixa algo de bom, sempre. É só uma questão de saber transformar, olhar com outros olhos, por outro prisma, essas pequenas imperfeições para notar que a perfeição existe constantemente em tudo que dá errado e machuca. Soa clichê, e de fato é, mas nada é tão errado que mereça ser completamente esquecido.

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