Mas eu sei que nem todo mundo reage igualmente diante da doçura: enquanto eu aproveitava o gosto daquilo, alguns apenas limpariam as mãos, e se privariam do sabor do outro. E se privar de sentir o outro talvez seja mais fácil, mas duvido que valha a pena. Ao menos pra mim, que preciso do afeto do açúcar pra viver. Acho que todos precisam. Mas alguns se enchem de medo e paralisam diante de qualquer sinal de açúcar. Outros espalham glacê em cada parte do outro, adoçam cada um. E fazem a maior lambança, até que se deseje morar no outro para sempre. E é pra isso que existe o coração. Ele absorve o açúcar e faz o afeto. E é assim que se faz um sorriso. É assim que criamos glacê.
Mas, apesar de não ser uma produtora real de glacê, eu sei que, lá no doce, tem um azedinho, desses que a gente pensa bem antes de ingerir. O responsável por milhões de caretas por segundo, e de alívio pós-careta. Acho que é disso que as pessoas têm medo, do limão do glacê. Do azedume líquido que a gente produz. E sem receita. Dos dias que se acorda "azedo", capaz de destruir qualquer receita de carinho. Medo de provar a doçura e ela sair da gente. Medo de provar uma vez e não conseguir provar de novo. Medo do doce, medo do azedo, medo do gosto que o outro tem.
Mas medo é algo normal. Desde que mundo é mundo que o homem tem medo do coração do outro. Medo das pessoas, medo de si, medo do outro. Medo. E sem saber, o coração produz o limão, procurando açúcar para o glacê. Até que o outro aparece, e traz o açúcar com ele. Isso pode ser bom. Isso pode ser ruim. Isso pode ser muita coisa, mas pode apenas ser. E que seja. Que seja doce.
SweetSmile .
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