domingo, 21 de agosto de 2011

Com glacê, com afeto

Acho que todo mundo já pediu a alguém pra não sair da sua vida. Já quis pedir pra ficar, pra simplesmente ficar do seu lado. Se não isso, pelo menos uma pessoa já procurou algo no mundo que soasse doce, confortável. Eu sei que sim. E esse alguém fui eu. Assim como todo mundo, já tive momentos ruins, tristes. Não ruins como quebrar a unha, não tristes como pisar no rabo do cachorro. Momentos desses de odiar tudo, de dizer que nada importa. Mas, nesses momentos, existiu um pedaço bem grande do meu coração procurando desesperadamente qualquer ponta de conforto, de acolhimento, de tranquilidade. De gosto de doce, de cheiro de flor. Durante um único momento, a lágrima escorreu pedindo ao papai do céu que você eu queria que existisse – mas que não sabia bem se acreditava nisso – que aquilo simplesmente aparecesse. E apareceu. Veio remontando bons momentos: o domingo na praia, a guerra de travesseiros, as cócegas na cintura. Como se aquele sentimento que veio a partir dali, fizesse eu me sentir menina novamente, invadida pela doçura, enfiando novamente o dedo no glacê do bolo, deixando-o com um enorme buraco no meio. Mas era mais, era maior: era como entrar no coração do outro. Um coração doce, coberto de glacê. Ir para dentro de alguém, e sair suja de glacê. E não ter medo disso.

Mas eu sei que nem todo mundo reage igualmente diante da doçura: enquanto eu aproveitava o gosto daquilo, alguns apenas limpariam as mãos, e se privariam do sabor do outro. E se privar de sentir o outro talvez seja mais fácil, mas duvido que valha a pena. Ao menos pra mim, que preciso do afeto do açúcar pra viver. Acho que todos precisam. Mas alguns se enchem de medo e paralisam diante de qualquer sinal de açúcar. Outros espalham glacê em cada parte do outro, adoçam cada um. E fazem a maior lambança, até que se deseje morar no outro para sempre. E é pra isso que existe o coração. Ele absorve o açúcar e faz o afeto. E é assim que se faz um sorriso. É assim que criamos glacê.

Mas, apesar de não ser uma produtora real de glacê, eu sei que, lá no doce, tem um azedinho, desses que a gente pensa bem antes de ingerir. O responsável por milhões de caretas por segundo, e de alívio pós-careta. Acho que é disso que as pessoas têm medo, do limão do glacê. Do azedume líquido que a gente produz. E sem receita. Dos dias que se acorda "azedo", capaz de destruir qualquer receita de carinho. Medo de provar a doçura e ela sair da gente. Medo de provar uma vez e não conseguir provar de novo. Medo do doce, medo do azedo, medo do gosto que o outro tem.

Mas medo é algo normal. Desde que mundo é mundo que o homem tem medo do coração do outro. Medo das pessoas, medo de si, medo do outro. Medo. E sem saber, o coração produz o limão, procurando açúcar para o glacê. Até que o outro aparece, e traz o açúcar com ele. Isso pode ser bom. Isso pode ser ruim. Isso pode ser muita coisa, mas pode apenas ser. E que seja. Que seja doce.

SweetSmile .

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