quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Olhos de Vidro, Cabelos de Mola

Quem a olha vê. Vê que é só uma moça. A moça de cabelo de molas que vê além do que há pra ser visto, através de seus olhinhos de vidro. A menina do sorriso amarelo e do riso fácil, que adora o som doce do sim e o eco de músicas que flutuam no ar e perpassam seus ouvidos, o barulhinho bom da respiração do gozo que lhe diz “eu te amo”. Mesmo assim, nunca acreditou no “tal de amor”. Em verdade, nunca soube o que é amor. Uma poetisa que não sabe amar, mas que expõe – em letras – seu corpo entre papéis e vozes vacilantes: sem roupas, sem máscaras, sem medo, sem pudor... seu corpo não sobrevive às letras, assim como sua energia não sobrevive a um olhar inocente e verdadeiro: ambos desabam de joelhos em meio aos escombros de si mesma, numa mistura de sentimentos, como uma onda que atinge seu coração de pedra com todo vigor, para que ela possa escolher se é bom ou ruim. Quer saber o gosto desses sentimentos, quer sentir cada um deles ferver em sua carne a todo vapor, quer poder escolhê-los depois de perder o sono por eles. Perder o sono, como já perdeu noites adentro, entre livros e discos, sentindo que pulsava água fria nas veias, mas com toda força que lhe é particular. Com aquela força que guarda em sua fragilidade, com toda fúria que existe em sua ternura, com cada molécula de plenitude que se esconde em seus atos. Plenitude que nunca a ensina a amar nem a odiar (muito menos a ser indiferente a) nada, mas que a move rumo ao desconhecido – ou sem rumo algum. Plenitude cheia de carinho. Carinho que cuida, que reconhece, que se preocupa, que sente um ciuminho tocar o coração. Uma menina de alma livre, e dona de uma mente libertária, um corpo libertário, um (repentino) prazer libertário... mas que ainda é só uma menina em noite de verão; correndo livre entre sonhos, sendo boba em ruas desertas e provocando olhares e sussurros curiosos. Correndo perigo em becos, mas com medo de si. Sendo escrita em bocas pelo caminho e construída a cada passo, em cada gesto. Aprendendo a ser alguém sem se de ninguém. Criando um caminho que não é seu, nem meu, nem do mundo nem de deus: um caminho que a faz segura e corajosa; que a ensina a viver, mesmo que não saiba direito como; mas que a faz ter certeza – a mesma que sempre teve - que seu desejo de desejar era sua causa primeira, sua razão, seu por que.

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