As ruas andam tão vazias e o céu parece tão cinza
Ainda há vozes, mas são tão vazias quanto uma briza
Não há nem mesmo tempestade para iluminar o céu
Mas a voz da lua ainda soa tão doce quanto cruel
Ela parece sussurrar, cantar uma serenata
E é por isso que o silêncio ainda me mata
Eu não entendo o que ele diz, apesar do costume
Ele fere minha sanidade como uma faca sem gume
Perfura meus tímpanos e beija o sangue da veia
Enquanto eu provo o fruto que a loucura semeia
Observo as estrelas se apagarem, sentado ao relento
Sorvendo a solidão presente em cada momento
O fruto e a solidão são doces, mas a mistura é amarga
Mas são mais belos à luz de uma estrela que se apaga
E enquanto a lua sussura os versos que eu não ouço
Eu vejo que tudo que eu preciso cabe em meu bolso
Voz, visão, sonho, boca, sentimento e olhar
Mais que isso é desnecessário, só é preciso o ar
Apago as lembranças para dar espaço a novos sons
Mas mantenho os pesadelos, mesmo não tendo gosto bom
Apesar de tão azedos, eles tem sua utilidade
Sem silêncio não há voz, e sem pesadelo não há realidade
O crime da inocência perpetrado pelo olhar
Que não enxerga o porquê de continuar a sonhar
O motivo é escrito em linhas tortas, mas ainda é legível
Talvez seja tornar palpável o que parece impossível
E até mesmo pegar uma estrela entre as mãos
Pode ser possível com menos que uma mera oração
Agarre-se ao sonho como um pecador abraça a cruz
Nos últimos momentos ele pode ser sua única fonte de luz
E agarre-se ao pesadelo como um tolo abraça o amor
Nos últimos momentos ele pode ser sua única fonte de calor
Agarre também a vida, sem ela os sonhos não tem sentido
As mãos estão cansadas, mas o medo tem diminuido
E aos poucos você se torna parte daquilo que sonhou
Não teme mais o desconhecido, o que a lua não iluminou
Tudo parece natural e você se entrega sem receio
Volta a ser inteiro o que se partiu ao meio
Recuperando aos poucos a capacidade de estar vivo
Você deixa de ser tão temeroso e esquivo
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