terça-feira, 17 de julho de 2012

Sobre a Saudade

Como qualquer coisa inexplicável, saudade não é uma palavra comum. Talvez seja a palavra mais dolorida que se conhece. Como qualquer coisa inexplicável, saudade é uma palavra milagrosa, tradutora de algo que só existe dentro da gente, só sobrevive dentro da gente, e, quando sai pela nossa boca se desfacela e vai embora, derrete nos dedos, deixa um vazio de algo ruim que fica pior quando some. Saudade é algo meu e seu, e cada um de nós tinge com suas cores, com sua força, com sua vida; é sentimento, e como todo sentimento, cada um só conhece o seu e quer saber do do outro. Saudade é o que eu digo pra tirar de mim, mesmo sem saber se é o que eu quero.

Saudade é uma palavra que dói em todo o corpo, em tudo que se vê, em cada coisa viva.

Às vezes, saudade é um sentimento que nós nos proibimos de sentir, e também é a prova de que não mandamos no sentimento.

A saudade dentro de mim é permitida, mas triste, é lembrar-se da certeza de uma amizade que não volta. E você se torna menos um. Menos um motivo pra seguir, menos um socorro no meio da noite, menos uma noite mal dormida. Menos uma daquelas preocupações gostosas que a gente agradece por ter.

Saudade é ver que ter razão não basta, às vezes. Ter saudade é algo irracional. Saudade do desconhecido, saudade do que o coração conhece bem, mas a mente precisa de algo a mais. É ter algo que nunca se teve, somar contas negativas, multiplicar ao invés de dividir.

Saudade é lembrar-se dos aprendizados, das certezas, da incoerência de alguém doce com tons amargos, uma beleza quase estranha, surpreendente, um tom quase ingênuo. Lembrar de sons e não-cores, de ensinar amores, de ter carinho, de ter tido lugar marcado, sentindo-se importante para sempre.

Saudade é um som em tom obsceno, censurado. Um tom de raiva pelo acerto que se torna erro, uma vontade de ficar quieta no canto, de interromper antes de ser tarde, antes de ser necessário sentir saudades.

É um sentimento bonito que sai de mim amargurado, vazio, inevitável. Tentando seguir em frente, querendo ter encontrado alternativa a tempo de chegar ao tudo ou nada.

Saudade é um jogo de dados, onde você ganha ou perde, e ganhar é manter algo bom, perder é viver com a sensação de que tem algo errado, algo faltando. É ter que mudar o que não se quer mudar. É uma roleta viciada, inevitável, quase irritante.

Saudade é o que se tem e não se perde, é um presente maldito, vazio, que se garante e não se preenche, é um momento bom da vida que não volta.

Saudade é querer lembrar-se de um jeito doce, mas se censurar por lembrar com força.

Saudade é tentar esquecer algo que lhe falta, mas criar um buraco com um fundo muito grande;

É se afogar num mar bem fundo, é ter medo de não voltar ao que já se foi, e ter cada vez mais medo por saber que não voltará.

Saudade é a peça que a vida nos prega, abraçada com o tempo, tomando um copo de cerveja num bar barato, rindo dos destinos que se pode mudar

Saudade é brincar de deus, ter um sentimento intenso em si e, mesmo que não consiga tirá-lo de você, sentir-se poderoso por alguns momentos.

Saudade é frustrar-se por ter história pra contar, é frustrar-se por sua vida ter se tornado história que só se revive quando sai de você pro mundo, sentindo-se bem por tirar a tristeza de si, mas sentindo-se mal por deixar um vazio cada vez mais evidente no lugar.

Saudade é algo que não se esquece, que não some nunca. Saudade é ter medo de não ser lembrado de quem se lembra, de não pensarem em você com amor, ternura, sentimentos bons.

Saudade é ter medo por não ter certeza do que foi pra alguém, é a prova maior da incerteza do que podemos fazer, a prova do que não podemos fazer.

Saudade é você, e cada vez mais, com seus dentes enormes, suas garras vermelhas, seus olhos sorrindo, sempre apertados, fazendo todos temerem algo que me dá saudades.

SweetieLotus .

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