sexta-feira, 20 de julho de 2012

Algum Sentido

Ela só queria chegar em casa, tomar um banho e se enfiar embaixo das cobertas. Havia sido um dia cheio no trabalho, muito que fazer, muitas ligações para atender, muitas pessoas para falar... Mas nem mesmo tudo isso conseguia distrair sua cabeça. Não, não havia absolutamente nada errado, mas tampouco havia algo certo.

Enquanto esperava o sinal abrir com a mão na direção, olhou para seu pulso e viu aquela pequena marca vergonhosa, aquele lembrete constante do ato de covardia. Quanto tempo fazia? Um mês? Meio ano? Ela já havia desistido de contar há mais tempo do que conseguia lembrar, mas não conseguia esquecer da fraqueza que aquela cicatriz significava.

Quando finalmente chegou à casa bagunçada (afinal havia tempo para arrumá-la quanto havia para arrumar seus pensamentos) já havia quase desistido de ir para o banho, mas sabia que, se decidisse se deitar agora, perderia mais tempo pensando que dormindo, talvez a noite inteira. Abriu o armário para guardar algumas coisas, mas infelizmente a gravidade não estava do seu lado e ela esbarrou em uma memória. Em uma caixa delas, mais especificamente. Aquela caixa velha com todas as fotos, todos os bilhetes, todas as poesias, todos tudo.

Por algum motivo, que ela nunca entendeu direito, decidiu abrir a tal caixa. A primeira coisa que viu foi um bilhete com alguns versos e, antes mesmo de ler a primeira linha inteira, já o tinha rasgado ao meio. Quando percebeu, todas as cartas já haviam recebido o mesmo destino. Pensou que talvez fosse tão fácil assim com as fotos também, mas estava enganada. Olhou-as uma por uma, tentando encontrar algum motivo para mantê-las ali dentro do guarda-roupa. Não encontrou nenhum motivo para guardá-las, mas, pior que isso, também não achou nenhum motivo para destruí-las, e era isso que feria mais.

Apesar de não ter encontrado nem um motivo sequer, acabou encontrando várias coisas que já haviam sido varridas de sua cabeça, muitas delas voluntariamente, e então se lembrou de por que havia escolhido esquecê-las. Elas ainda doíam, e mesmo que muito pouco, dor era a última coisa para qual ela estava preparada no momento. De repente a última de todas as memórias acabou vindo, como ela já deveria ter esperado. Não houve “tchau”, “até mais”, nem nenhum tipo de despedida, só uma frase que na hora ela não entendeu muito bem. “Amor com amor se paga, e amor com amor se trai”. É, agora tinha algum sentido...

Nenhum comentário:

Postar um comentário